Ceará

Entrevista

Período de chuvas no Ceará apontam alerta sobre os cuidados e precauções sobre as arboviroses

Álvaro Madeira Neto conversou com o Brasil de Fato sobre as atenções necessárias em relação a arboviroses

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Nesse período de chuva a gente tem o acúmulo de águas em determinados locais, e esse acúmulo de água se torna um meio muito propício para o mosquito. O mosquito gosta daquela água limpa e armazenada. - Foto: Marcos Moiura/Prefeitura de Fortaleza

As primeiras chuvas no Ceará já começaram e com elas surge um alerta: os cuidados com as arboviroses. Mas você sabe o que são as arboviroses? Quais os sintomas e quais cuidados devemos ter? Para falar mais sobre o tema o Brasil de Fato conversou com Álvaro Madeira Neto, Médico Sanitarista e Gestor em Saúde. Confira.

O que são arboviroses?

As arboviroses são doenças virais e que normalmente são transmitidas por um mosquito já muito conhecido do brasileiro, chamado de mosquito da dengue, o mosquito Aedes Aegypti. Um exemplo também muito conhecido de uma arbovirose é a dengue, mas além de dengue, a gente considera como arbovirose também, que tem uma incidência considerável, a chikungunya e zica vírus. São doenças que normalmente tinham origem em regiões mais de mata e com a modificação do ambiente elas foram, cada vez mais, se tornando presente nas cidades também. É importante essa definição para que a gente também comece a pensar na prevenção.

E quais são as arboviroses mais comuns? 

Seriam essas mesmas: zika, a chikungunya e a dengue. São três arboviroses que a gente também já tem um certo convívio e tem alguma noção. Tem sintomas iniciais muito parecidos. A dengue, chikungunya e zika, muitas vezes, no início, você não consegue diferenciar só pela clínica, mas com o passar do tempo fica um pouco mais evidente, mas febre alta são sintomas iniciais, dor pelo corpo, queda do estado geral, às vezes algum desconforto abdominal, e aí você parte para quadros mais específicos, como chikungunya que normalmente pode evoluir com muita dor articular, é uma doença que tem um potencial de incapacitação, ainda que momentânea, bastante considerável. A dengue tem muito a ver com aquela questão da febre também, aquela febre que a gente chama de “febre quebra ossos”. São doenças que a gente precisa realmente alertar a população e também as autoridades que fazem a gestão pública, que tem uma responsabilidade sim, na forma como tratam os processos para que possa haver realmente uma prevenção.

Os sintomas que você comentou são os mais comuns? Têm outros que as pessoas precisam ficar alertas? 

O alerta a gente sempre deve ter e, principalmente, nas populações mais vulneráveis que, normalmente, em doenças de acometimento da população a gente está falando de idosos, crianças e, claro, pacientes que tenham alguma imunodepressão ou que sejam pacientes obesos, eles tendem a estar ali naquela população que a gente chama de risco. 

Os sintomas que a gente deve ficar mais alerta é uma febre intensa que não passa, uma dor abdominal, qualquer tipo de sangramento, seja no olho, ali na conjuntiva, ou oral, enfim, são sinais de alerta. Nas crianças, a letargia, uma queda mais importante do estado geral. Então, o fundamental é que diante de qualquer sintoma assim um médico seja consultado, a Unidade Básica de Saúde mais próxima da casa da pessoa seja visitada, porque ali é o local correto para que sejam passadas as orientações e os alertas a todos.

Quais são os riscos das pessoas quererem se automedicar em caso da presença de alguns desses?

A gente sabe que o Brasil, infelizmente, tem um dos títulos de grande país que faz autoconsumo, automedicação, isso é muito perigoso. Então, de fato, uma Unidade de Saúde deve ser procurada porque lá vai ter o profissional adequado. No caso de diagnosticar e tratar, realmente é o médico o profissional indicado. É importante que a gente perca esse hábito de ir na farmácia e achar que o farmacêutico tem essa condição de prescrever uma medicação, não é realmente o adequado, ou que o balconista tem essa condição, por mais que todos sejam muito importantes, tanto o balconista quanto o farmacêutico, cada um tem a sua atribuição e a própria pessoa também não tem essa condição, nem muito menos o Google, nem o ChatGPT, pelo menos ainda.

Qual é a relação das arboviroses com o período chuvoso?

Nesse período a gente tem o acúmulo de águas em determinados locais, e esse acúmulo de água se torna, realmente, um meio muito propício para a criação, né? É quase que um criadouro natural de mosquito, do vetor, então você tem, realmente, esses mosquitos se desenvolvendo ali. O mosquito gosta daquela água limpa e armazenada, e aí, você tem um aumento importante da incidência de arboviroses. 

A gente já sabe, por exemplo, e isso é uma informação importante, a gente já sabe que em janeiro de 2026 nós teremos chuvas e teremos acúmulo de água, então cabe a quem está na gestão pública já se preocupar hoje, em janeiro 2025, o que vai acontecer em janeiro de 2026. Isso é promoção da saúde, é pensar na população, na população mais vulnerável.

Mas isso não quer dizer que no restante do ano a gente não precisa se preocupar.

Não. A gente deve se preocupar sempre. A questão de programas como esse aqui, que a gente está tentando informar a população, como a gente deve se prevenir é fundamental, e claro, isso deve ser promovido o ano todo. Como é que se dá a prevenção no caso das arboviroses? Se dá no sentido de que você não deve deixar água empoçada em casa, procurar aqueles pneus, se tiver, não deixar acumular água ali naquele pneu, a mesma coisa em relação àquele pratinho de água que fica embaixo do jarro de planta, isso tudo tem que ser prestado muita atenção. E no caso específico da dengue, existe uma vacina que, inclusive, é dada pelo SUS, que deve ser utilizada também como uma ferramenta de prevenção à doença. Então é uma vacina como as outras que a gente tem, extremamente segura, com uma eficácia muito grande e, mais uma vez, deve partir aí da indicação médica, portanto, o médico que deve orientar.

E o poder público, tanto municipal quanto estadual, quais ações desenvolvem ou deveriam realizar para amenizar os casos de arboviroses?

As ações vão nesse sentido. Tanto municipal quanto estadual, a questão estrutural é bastante importante. A questão dos buracos, a questão da rede de esgoto, rede de saneamento básico, como é que ele lida em relação a essas águas da chuva, então isso é um caminho. Também, o outro caminho é o caminho da educação. Promoção de campanhas e que seja uma lógica permanente, ao longo do ano todo.


Um caminho para a prevenção das arboviroses é a educação. Promoção de campanhas e que seja uma lógica permanente, ao longo do ano todo. / Foto: Prefeitura de Juazeiro do Norte

Mesmo estando no início das chuvas dá para ter saber como estão os casos de arboviroses no Ceará ou ainda é muito cedo para ter esses dados?

Eu acho que ainda é cedo. Isso está sendo muito bem acompanhado pela secretaria estadual de saúde, sempre muito atenta a esses dados. A gente observou no ano passado que houve sim o movimento de um aumento de incidência, no Brasil todo foi assim, e agora a gente deve estar levantando esses dados ao longo desses próximos meses para poder ter uma ideia melhor.

De acordo com informações divulgadas pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, o Ceará recebeu 69.271 doses de vacina contra dengue em 2024. Como é que está a realidade dessas vacinas atualmente?

Ainda está sendo subutilizado, ou seja, ainda tem uma oferta disponível de vacina nos postos de saúde que não está sendo utilizada. No Brasil, isso passou a ser comum, mas no mundo também a gente percebe, depois da epidemia de COVID-19, uma certa hesitação vacinal. Isso é resquício da pandemia e tem que ser trabalhado também. A vacina da denegue não é diferente. A gente tem essa observação de uma subutilização, uma baixa cobertura, uma baixa adesão, e isso também aparece em outras vacinas. A gente observa um esforço do Ministério da Saúde em combater essa hesitação vacinal, mas, de fato, tem sido um grande desafio.

Onde as pessoas podem se informar sobre essas vacinas, onde tomar, quando, como?

As informações podem pegar na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa. A gente tem, e isso é importante ser dito, um programa nacional de imunização que começou na década de 1970 e é motivo de orgulho muito profundo, porque é um programa de imunização, programa de vacinação com uma capilaridade que não tem em lugar nenhum no mundo. Eu sou médico, e é muito comum a gente está, às vezes, em um outro país, falando sobre algum tema assim, e os médicos de lá falarem com muita admiração disso que foi conquistado aqui, então acho que é um esforço que a gente tem que fazer de retorno a esse período que a gente tinha uma cobertura vacinal global acima de 90%.

A vacina da dengue é voltada para alguma idade específica ou é para todo mundo?

Tem uma faixa que é de 11 até 55, 60 anos se não me engano, porque isso tem uma variação. Eles começaram um pouco mais restrito, só em uma determinada faixa, de 11 a 14 anos e agora estão ampliando um pouco mais. É importante que as pessoas, as famílias procurem uma Unidade Básica de Saúde com seu cartão de vacina para atualizar esse cartão e ir lá ter a orientação mais adequada de como é que está essa questão da faixa etária?

Durante algum tempo, a gente ouviu casos de morte em relação à dengue. Atualmente, ainda é um risco, ainda pode a ocasionar a morte? 

É um risco e a gente observa sim, casos ainda de morte por dengue. Isso a gente observou durante um ano passado. A vacina tem essa propriedade muito importante de dizer que “olha, ainda que o paciente venha a contrair a dengue, em 90% dos casos ela não evoluirá para um caso grave”, e o caso grave é caso de internamento em UTI, de disfunção de vários órgãos, e aí, infelizmente, em alguns casos, o óbito. A gente observa uma grande resposta a pacientes que foram vacinados.

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Edição: Camila Garcia