violência de estado

Exposição resgata histórias de repressão no antigo prédio do Dops no Rio

Campanha busca arrecadar recursos para estender duração da mostra, em cartaz no Museu da República

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Coletivos defendem um museu que denuncie a violência de Estado no prédio do antigo Dops no Rio - Divulgação

Está em cartaz até a próxima terça-feira (4) no jardim do Museu da República, no Rio de Janeiro, a exposição Rua da Relação, 40: Testemunho material da violência de Estado, uma iniciativa do Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação e da campanha Ocupa Dops. 

A mostra resgata histórias de repressão do local que abrigou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do antigo estado da Guanabara e reforça a campanha pela transformação do prédio em um Espaço de Memória dos Direitos Humanos. Localizado na Rua da Relação, no centro do Rio, o edifício é, hoje, sede do Palácio da Polícia.

Antes de abrigar um dos mais emblemáticos aparatos de tortura da ditadura militar, o prédio já havia sido palco de perseguições e violências, quando deu lugar a outras instituições policiais que antecederam o Dops. É o que explica o historiador Lucas Pedretti ao Brasil de Fato.

"O prédio foi palco de perseguição a religiões afro-brasileiras, prisões por vadiagem – que têm um evidente caráter racista e de classe – e violência contra mulheres, LGBTQIA+ e trabalhadores. A ditadura é mais um capítulo", enfatiza Pedretti, que faz parte do Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação.

A exposição exibe documentos inéditos, fotografias, recortes de jornal e vídeos que revelam a violência estatal em diferentes períodos. Desde as prisões por "vadiagem" no pós-abolição até a detenção de organizadores de bailes soul nos anos 1970, além do uso de uma jiboia para torturar presos políticos e comuns em plena redemocratização.


Campanha de arrecadação online busca recursos para manter por mais tempo a mostra no jardim do Museu da República / Divulgação

Além da mostra, a programação inclui duas mesas de debate. A primeira, que vai tratar sobre a história do prédio, acontece nesta quarta (29) às 15h. Em outro momento, na sexta (31), o tema será a luta pela construção de um Museu dos Direitos Humanos no local.

Memória

A disputa pelo prédio do antigo Dops, sob responsabilidade da Secretaria de Polícia Civil, é central na narrativa que busca sensibilizar a população sobre a importância histórica do espaço. Enquanto coletivos defendem um museu que denuncie a violência de Estado, a polícia resiste ao propor seu próprio projeto para o local.

As recentes revelações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe em 2022, assim como o sucesso do filme Ainda Estou Aqui (2024), de Walter Salles, evidenciam a atualidade do tema. Para Pedretti, é preciso debater a ditadura e os crimes do Estado para construir um futuro sem tortura e violência policial.

"Não queremos falar da ditadura como o início da violência de Estado. Essa história remete ao colonialismo, à escravização, e é isso que deve ser contado no futuro museu", afirma Pedretti que também assina a curadoria da exposição. "Não há nenhum espaço mais emblemático do que esse para se fazer isso", conclui.

Serviço

Exposição: “Rua da Relação, 40: Testemunho material da violência de Estado”

Museu da República (Rua do Catete, nº 153)

Em cartaz até a próxima terça-feira (4) no jardim do museu

Entrada gratuita

Acesse a campanha de permanência da exposição neste link.

Programação de debates

Quarta (29), às 15h - “História do Palácio da Polícia: do passado colonial às cicatrizes da ditadura”.

Quinta (30), às 15h - “Lutas pela construção de um Museu dos Direitos Humanos no antigo DOPS”.

 

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Vivian Virissimo