Nos próximos meses, o Projeto Mãos Solidárias em parceria com o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Ministério da Educação (MEC) e a Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), realizam a Jornada de Alfabetização de jovens e adultos nas periferias. Inspirado na pedagogia cubana de Leonela Inés Relys Díaz, o método de educação já tem alfabetizado mais de 11 milhões de pessoas em mais de 30 países do mundo.
Aqui no Brasil, o Movimento Sem Terra tem sido o principal responsável pela execução do método, que busca alfabetizar jovens e adultos, sobretudo pessoas idosas, que não tiveram ou perderam a oportunidade de continuar os estudos e se alfabetizarem durante a vida. Até hoje, cerca de 100 mil pessoas foram alfabetizadas através do programa “Sim, Eu Posso” no Brasil, e a expectativa para este ano é que o número cresça ainda mais, com a realização de mais uma da jornada de alfabetização.
A militante do MST e coordenadora do Projeto Mãos Solidárias no Ceará, Luz Marin, explica que o programa de alfabetização tem sido a primeira ação mais ampla construída com os movimentos sociais, apesar da construção das cozinhas solidárias no eixo do Programa Ceará Sem Fome. “Em Fortaleza, nós iniciaremos 150 turmas de alfabetização, beneficiando cerca de 2200 mil pessoas, em 15 novos bairros que estaremos adentrando através dessa trincheira organizativa que é o direito à educação também como ação de solidariedade”, afirma.
Segundo a coordenadora, os territórios têm recebido a proposta de construção de turmas de alfabetização de forma empolgada, “quem trabalha com o aspecto social tem na educação uma esperança de transformação da realidade da vida das pessoas e dos territórios. Então garantir o mínimo acesso ao direito de ler e escrever para a gente, é levar dignidade para o povo que mais precisa. E tem sido esse nosso primeiro trabalho”, aponta.
Aqui no Ceará, 260 turmas de alfabetização devem ser construídas, espalhadas em todas as regiões do estado, beneficiando cerca de 2800 educandos, em áreas de assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Ao final do processo de alfabetização, que tem duração de 12 meses, os educandos serão certificados, segundo os critérios de leitura e escrita, pela Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (SECADI). As 260 turmas terão formação do 1º ao 5º ano do fundamental, e contarão com 26 coordenadores territoriais, 5 coordenadores estaduais, 1 coordenador geral e um comunicador popular responsável pela memória das turmas.
Na última semana, entre os dias 14 e 18 de janeiro, o MST realizou no Clube Cofeco, em Fortaleza, a capacitação dos educadores de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em seus territórios de Reforma Agrária. Cerca de 400 pessoas participaram do evento, incluindo educadores, coordenação regional e territorial, e crianças.
O coordenador do setor de educação do MST no Ceará e coordenador executivo do projeto “EJA Nordeste no Ceará”, Everardo Félix, destaca que a capacitação foi um espaço importante para educadores e coordenadores iniciarem o processo de alfabetização nos territórios da Reforma Agrária, promovendo o desenvolvimento da escrita, leitura e leitura crítica da realidade. “Considerando que o Nordeste apresenta as maiores taxas de analfabetismo do país, o projeto de alfabetização em assentamentos e acampamentos da região nordeste tem por objetivo desenvolver ações para combater o analfabetismo nesses territórios”, ressaltou o coordenador.
No Brasil, de acordo com o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, dos 163 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade no país, 151,5 milhões sabiam ler e escrever um bilhete simples e 11,4 milhões não sabiam. A Região Sul continuou com a maior taxa de alfabetização, que aumentou de 94,9% em 2010 para 96,6% em 2022. Enquanto isso, a taxa da Região Nordeste permaneceu a mais baixa, apesar do aumento de 80,9% em 2010 para 85,8% em 2022.
MST e Educação
A relação do MST com a educação não é nenhuma novidade. No Ceará, os assentamentos de reforma agrária possuem atualmente 12 escolas públicas do campo de nível médio em pleno funcionamento sob a orientação dos principios da luta pela terra, da agroecologia e da educação libertadora de Paulo Freire, são elas:
EEMPC JOÃO DOS SANTOS DE OLIVEIRA – Assentamento 25 de maio/Madalena
EEMPC PADRE JOSE AUGUSTO REGIS ALVES – Assentamento Pedra e Cal/Jaguaretama;
EEM FRANCISCO ARAÚJO BARROS-Assentamento Lagoa do Mineiro/Itarema
EEMPC MARIA NAZARÉ DE SOUSA-Assentamento Maceió/Itapipoca
EEMPC FLORESTAN FERNANDES-Assentamento Santana/Monsenhor Tabosa
EEMPC FILHA DA LUTA PATATIVA DO ASSARÉ-Assentamento Santana da Cal/Canindé;
EEMPC FRANCISCA PINTO DOS SANTOS-Assentamento Antônio Conselheiro/Ocara;
EEMPC JOSÉ FIDELIS DE MOURA-Assentamento Bomfim conceição/Santana do Acaraú.
EEMPC PAULO FREIRE-Assentamento Salão/Mombaça;
EEMPC JOÃO DOS SANTOS DE OLIVEIRA – Assentamento 25 de maio/Madalena
EEMPC JAVAN RODRIGUES DE SOUSA – Assentamento conceição/Canindé
EEMPC ANTONIO TAVARES ALVES – Assentamento Ipueira da vaca/Canindé.
Além das 12 instituições de ensino, o MST tem se preparado para a construção de uma nova escola do campo, onde até o momento conta apenas com parecer favorável. A ideia é que a nova escola seja construída no Assentamento Palmares, no município de Crateús, localizado a 350 km da capital cearense.
Projeto Mãos Solidárias
Desde a pandemia de COVID-19, o Projeto Mãos Solidárias tem se destacado como uma rede de solidariedade e organização popular em todo o Brasil. Ao longo dos últimos quatro anos, o projeto ampliou suas parcerias, possibilitando a distribuição de mais de 1,6 milhão de marmitas, o que totalizou 1.300 toneladas de alimentos arrecadados, além da formação de mais de 1.500 agentes populares.
No Ceará, a rede de solidariedade é composta pelo MST, Levante Popular da Juventude e Movimento Brasil Popular, responsáveis pela doação de mais de 10 toneladas de alimentos, além da realização de espaços de formação sobre a relação entre campo e cidade. “Aqui no estado nós temos priorizado a construção do Mãos Solidárias com os movimentos do campo popular, onde já temos uma atuação em média com 40 bairros em Fortaleza, e com a perspectiva de ampliar ainda mais esse número de bairros que desenvolvemos trabalho”, afirma Luz, coordenadora estadual do projeto e militante do movimento sem terra.
Luz ainda destaca que o projeto tem buscado associações comunitárias, bairros com lideranças e com trajetória de organização para somar na iniciativa, e revela que o grande desafio na construção do Mãos Solidárias são as condições estruturais de deslocamento e de garantir que a militância tenha condições mínimas de sobreviver e desenvolver o trabalho militante.
Apesar de diversas ações já desenvolvidas no Ceará, o MST, Levante e Movimento Brasil Popular se preparam para a realização do seminário de lançamento e planejamento do Mãos Solidárias. “Esse será um espaço que vamos pensar de maneira mais coletiva e profunda os desafios e quais serão os nossos espaços de articulação para construir essa iniciativa que tem sido muito bonita, que hoje já está em mais de 10 estados do Brasil”, conclui.
Apesar de novo, o Mãos Solidárias Ceará já carrega uma grande bagagem de ações sociais por toda a capital cearense e por outros municípios do Ceará, com a construção de cozinhas solidárias e distribuição de marmitas, e agora tendo como próximo objetivo a construção da jornada de alfabetização. Além dessas ações, o projeto busca ainda desenvolver a agricultura urbana a partir da construção de hortas, e processos de economia solidária, como uma alternativa através do cooperativismo e da construção de associações para superar esse grande desafio que é o do trabalho no próprio território.
Mais informações sobre a construção do projeto no Ceará podem ser encontradas através da página oficial do Instagram, em @maos_solidarias_ce.
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Edição: Camila Garcia