Ceará

Cesta Básica

Dieese informa que cesta básica em Fortaleza ficou 6,88% mais cara em dezembro de 2024

Valor da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde o Dieese realiza Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Nos últimos 12 meses, o preço da carne bovina de primeira aumentou em todas as cidades pesquisadas pelo Dieese. - Foto: Governo de Roraima

De acordo com informações divulgadas no dia 8 de janeiro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2024, o valor da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde o Dieese realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. As maiores elevações acumuladas, entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, foram registradas em João Pessoa (11,91%), Natal (11,02%), São Paulo (10,55%) e Campo Grande (10,41%). Em Porto Alegre (2,24%), foi verificada a menor variação. 

Na capital cearense, os dados mostram que o custo da cesta básica ficou 6,88% mais caro em 2024 em comparação a 2023, alcançando o valor de R$ 673,77. Arianderso Melo, técnico do Observatório da Agricultura Familiar afirma que uma alta no preço da cesta básica é prejudicial para toda a sociedade, em especial, para as famílias mais pobres. “Quando os preços dos alimentos sobem, as famílias de baixa renda têm que gastar uma maior parte do seu orçamento em alimentação, o que pode reduzir o dinheiro disponível para outras necessidades básicas, como saúde e educação”.

Debora Silva Teixeira, artista visual e dona de casa afirma sentir esse aumento na hora das compras. “Atualmente, uso o benefício da CLT do meu esposo, o vale-refeição/alimentação, no valor de R$ 500,00 por mês, para garantir as compras do mês. Antes eu complementava com R$200 ou R$300 a mais para uma compra básica. No último mês o valor excedente equiparou ao saldo que vem no vale”, conta.

Debora explica como esse aumento afeta na hora de fazer as compras. “A substituição dos ingredientes é o primeiro impacto. Menos carne e mais ovo, por exemplo. No caso dos produtos em si, as marcas mais baratas também são as de qualidade inferior, isso é inegável. Um outro fator que dificulta muito, no meu caso, é que o cartão alimentação só é aceito em redes de supermercados, na feira livre, por exemplo, onde o produto é orgânico e mais leve em questão de impostos - para mim e para os vendedores - não é possível utilizar”.

Salário mínimo e alimentação

De acordo com Arianderso, o salário mínimo ideal calculado pelo Dieese em dezembro de 2024 era de R$ 7.067,68 ou 5,01 vezes o mínimo vigente de R$ 1.412,00. Arianderso explica que o salário mínimo necessário leva em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família composta por ele, outro adulto e duas crianças com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

“No último mês, o custo da cesta básica em Fortaleza representava 51,6% do salário mínimo líquido, ou seja, mais da metade do salário de um trabalhador que recebe até um salário mínimo é gasto com alimentação. Com a inflação de alimentos estando maior que a inflação oficial (índice qual o salário mínimo é reajustado), esta pessoa tem uma percepção de que o salário dela não está mais sendo suficiente para atender suas necessidades”, afirma Arianderso.

Dicas na hora de fazer as compras

“Para mim, funciona muito bem a logística de compra mensal. Já me organizo para estocar alimentos que supram esse período. Aí vou repondo apenas carnes, frutas e verduras semanalmente/quinzenalmente. Essas compras sazonais, sigo a risca o calendário de promoção dos mercados: se segunda-feira é dia da fruta, eu não compro em outro dia. Fico sempre atenta as seções de vencimento, principalmente, para itens de merenda escolar, como biscoitos, achocolatados e sucos”, informa Debora.

O que diminuiu na cesta básica 

Segundo os dados divulgados, a farinha de mandioca, coletada no Norte e Nordeste, registrou diminuição do preço médio nas capitais nordestinas, com destaque para Fortaleza (-20,03%) e Recife (-16,14%). Apesar do valor médio do açúcar ter aumentou em nove capitais, com destaque para Brasília (8,79%), João Pessoa (6,84%) e Aracaju (3,69%), o produto permaneceu estável em Fortaleza e diminuiu em outras sete cidades, com destaque para Belém (-10,55%). 

O que aumentou na cesta básica

Nos últimos 12 meses, o preço da carne bovina de primeira aumentou em todas as cidades pesquisadas, com destaque para Campo Grande (29,90%), Goiânia (29,05%), Fortaleza (28,06%), São Paulo (27,05%), Florianópolis (25,69%), Brasília (24,04%) e Salvador (22,58%). “A maior demanda externa e interna, tanto pelos consumidores quanto pelos frigoríficos, e as restrições climáticas (estiagem e queimadas), que prejudicaram a formação dos pastos, provocaram o aumento do preço da carne no varejo”, informa um trecho da pesquisa.

Arianderso explica que em 2024, o valor da cesta básica aumentou em todas as 17 capitais onde o Dieese pesquisa. Com um aumento médio de 6,88%, a cesta de Fortaleza teve o 9º maior aumento dentre as cidades pesquisadas. Essa alta anual, de acordo com ele, foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços do café (54,07%), da carne (28,06%) e do óleo (26,86%).

Arianderso informa que três fatores podem explicar a alta no preço desses produtos: “O primeiro é o caso dos problemas climáticos que passamos no último ano, com o recorde das queimadas. As áreas de plantio e de pastagem diminuíram e isso afetou, principalmente, a criação de gado, pois, com a diminuição do pasto, os produtores tiveram que procurar outras fontes para alimentar o rebanho, como a ração, que é mais cara, e esse custo foi repassado ao consumidor”. 

O segundo fator, de acordo com ele, é o caso da demanda externa que, “com o dólar em alta e uma baixa oferta global das commodities em questão, boa parte da produção nacional foi direcionada para a exportação, o que diminuiu a oferta interna e subiu o preço dos produtos no varejo. Por fim, a renda média da população aumentou, o que aqueceu a demanda, principalmente da carne, e isso contribuiu ainda mais para o aumento do preço”.

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Edição: Camila Garcia