De 14 a 18 de janeiro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza em Fortaleza, no Clube Cofeco, a capacitação para educadores de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em seus territórios de Reforma Agrária. Cerca de 400 pessoas participam do evento, incluindo educadores, coordenação regional e territorial, e crianças Sem Terrinhas.
A capacitação, inspirada na pedagogia freiriana e nas experiências do MST com a educação, acontece em quatro dias incluindo temas como análise de conjuntura, educação popular com foco na metodologia de alfabetização de jovens e adultos, oficinas e atividades noturnas.
As oficinas, com quatro grupos em rodízio, abordam recursos didáticos, ambiente educativo, história de vida e do nome, matemática e círculo de cultura. As atividades noturnas consistem em vivências criativas (mística, sarau, poesia, música) e uma noite cultural com apresentações. A programação integrou teoria e prática para que os educadores implementassem processos formativos eficazes em sala de aula.
A educadora Maria José da Silva, assentada do Assentamento Salão/Morada Nova, em Mombaça, expressa sua satisfação e gratidão pela oportunidade de participar da capacitação e se tornar educadora. “Estou muito feliz por estar pela primeira vez na capacitação da EJA e, em breve, em sala de aula como educadora. Espero que seja um espaço de troca, socialização de conhecimentos e acolhimento. Nosso povo precisa de acesso à educação e eu também espero aprender”.
O professor André Gustavo Ferreira, coordenador geral da EJA da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destaca a importância do projeto. “Para nós da universidade, com experiência na pedagogia freiriana, este projeto é uma oportunidade de aprender com os 40 anos de experiência do MST em Educação de Jovens e Adultos. Este diálogo com professores que atuam na educação freiriana no campo é fundamental para ampliar a leitura crítica e fortalecer a alfabetização crítica. Para a universidade, participar dessa construção é uma grande satisfação”.
Josiane Mesquita, do Acampamento Terra Prometida Jardim, em Santa Quitéria, descreve a realidade do local e a carência de conhecimento, leitura e escrita. “No acampamento há muita carência de oportunidades de aprendizagem. Muitas pessoas não tiveram acesso à educação na infância e juventude e hoje precisam aprender a ler e escrever, se alfabetizar. Agradeço a oportunidade e a confiança do MST por priorizar a educação nos territórios da Reforma Agrária, entendendo que é direito de todo cidadão brasileiro”.
No Ceará, serão 260 turmas espalhadas em todas as regiões em áreas de assentamentos e acampamentos, beneficiando 2.811 educandos. As turmas contarão com 26 coordenadores territoriais, cinco coordenadores estaduais, um coordenador geral e um comunicador popular responsável pela memória das turmas. A formação abrange do 1º ao 5º ano do fundamental. Ao final dos 12 meses, os educandos aptos à conclusão, segundo os critérios de leitura e escrita, receberão certificados da Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (SECADI).
“Esta capacitação é um espaço importante para educadores e coordenadores dar início ao processo de alfabetização nos territórios da Reforma Agrária e promovendo o desenvolvimento da escrita, leitura e leitura crítica da realidade. Considerando que o Nordeste apresenta as maiores taxas de analfabetismo do país, o projeto de Alfabetização e Escolarização Inicial de Jovens e Adultos em assentamentos e acampamentos da região Nordeste tem por objetivo desenvolver ações para combater o analfabetismo nesses territórios”, afirma Everardo Felix, da Direção do Setor de Educação do MST Ceará e Coordenador Executivo do Projeto EJA Nordeste no Ceará.
A articulação, mobilização e obtenção de recursos para este projeto resultam de uma importante parceria entre o MST, a SEDUC, o INCRA (por meio do PRONERA), a UFPE e o MEC (por meio do Pacto Nacional pela Alfabetização).
A capacitação no Ceará deu início à Jornada Nacional de Educação de Jovens e Adultos do Nordeste, que tem por objetivo a alfabetização de jovens e adultos e o avanço do letramento e da escolarização nas áreas de assentamentos e acampamentos da região Nordeste do Brasil. Serão 1.500 turmas de alfabetização em toda a região, beneficiando diretamente 19 mil pessoas no processo de escolarização dos anos iniciais do ensino fundamental nas áreas de Reforma Agrária.
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Edição: Francisco Barbosa