Ceará

Entrevista

Começa o mandato dos vereadores Sem Terra no Ceará, saiba o que Neide do PT e Pedro Neto têm a dizer sobre suas legislaturas

Neide foi eleita em Monsenhor Tabosa e Pedro Neto em Crateús. Ambos são assentados da reforma agrária no Ceará

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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O MST disputou eleições em todo o pais. Foi uma decisão nacional com o objetivo de influenciar a construção da reforma agrária nas diferentes esferas políticas. - Foto: Luara Dal Chiavon

No dia 1° de janeiro diversos prefeitos e vereadores tomaram posse em todo o Brasil. Aqui no Ceará nós tivemos alguns vereadores Sem Terra eleitos e o Brasil de Fato conversou com dois deles para saber da importância da presença do MST nesses espaços políticos e saber um pouco mais sobre as expectativas de seus mandatos. O Brasil de Fato conversou com Neide do PT, formada em Pedagogia e Matemática, mulher do campo, mãe, educadora e guerreira. Quem também participou dessa conversar foi Pedro Neto, formado em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará através do Programa Nacional de Educação nas Áreas de Reforma Agrária, assentado da Reforma Agrária e primeiro Sem Terra eleito vereador em Crateús.

Para começar nossa entrevista vou pedir pra vocês se apresentarem. 

Neide Fernandes – Eu sou Neide Fernandes, também conhecida como Neide do PT, sou mulher do campo, trabalhadora, assentada e educadora popular.

Pedro Neto – Sou Pedro Neto, assentado da Reforma Agrária aqui no Assentamento Palmares, militante do MST e, atualmente, estou vereador aqui pelo nosso município de Crateús. Sou pai, casado também com minha companheira Cleonice Bezerra, também assentada aqui no Assentamento Palmares, filho de camponês e camponesa e tenho na minha trajetória a luta dos movimentos populares, a luta e a militância do nosso Movimento Sem Terra.


Neide Fernandes, também conhecida como Neide do PT. / Foto: Reprodução/Redes Sociais

Qual o sentimento de ser eleito e eleita nas últimas eleições levantando a bandeira do MST e da luta por reforma agrária?

Neide Fernandes – É com muita alegria e entusiasmo que na última eleição fui eleita levando a bandeira de luta do nosso movimento. O MST possui diversos instrumentos de atuação, mas o principal deles é a ocupação de terra. Existem outras formas de atuação do MST que tem como objetivo ampliar o diálogo com outros setores da sociedade civil e denunciar o problema da concentração de terras às autoridades competentes e lutar por Reforma Agrária popular.

Pedro Neto – Primeiro, o nosso sentimento é de muita gratidão. Gratidão aos assentados e assentadas da Reforma Agrária do nosso município de Crateús, aos movimentos populares dos demais diversos segmentos por ter nos conduzido a ocupar esse espaço. Nós também temos o sentimento de um grande desafio. Um grande desafio de levar para o espaço da tribuna da Câmara Municipal as lutas dos movimentos populares, em especial, a luta pela Reforma Agrária, a luta pela terra, tão necessária e urgente. Nós temos aqui no nosso município, inclusive, três acampamentos organizados pelo MST e a luta pela Reforma Agrária que é uma luta histórica, que é uma luta justa e necessária, portanto, nosso sentimento é de muito desafio, mas sentimento também de coragem, essa coragem veio do que eu aprendi ser no MST, no que o MST me deu de oportunidade, na formação política, na formação humana e estamos aí com esse sentimento, e o sentimento de uma esperança muito grande também de que com o povo e com a fé nós teremos um mandato popular aqui no nosso município de Crateús

Qual a importância de ter Sem Terra, de ter o MST nesses espaços políticos? 

Pedro Neto – O MST é um instrumento de luta política, o MST, com a sua trajetória, seus mais de 40 anos a nível nacional e aqui no Ceará com os mais de seus 35 anos, traz na sua trajetória um grande compromisso político com a história e as grandes lutas do povo brasileiro. Portanto, a nossa chegada, a chegada do MST nesse espaço institucional que na grande maioria das vezes não é dado a oportunidade para os filhos das trabalhadoras e dos trabalhadores e um Sem Terra chegar lá isso é de uma grande importância do ponto de vista não individual, mas dos acúmulos, das análises, da importância política para a luta pela Reforma Agrária, a luta pela terra, da luta por um mundo melhor, porque a luta do MST se resume, em um ponto de vista geral, a luta por um mundo melhor, onde as pessoas possam ter a oportunidade, as pessoas possam ser livres e que as pessoas possam ter a condição de se alimentar, a condição de viver uma vida dignamente, portanto, é de uma importância tamanha a nossa chegada. 

Nós já tivemos aqui no Ceará, no último pleito para deputado estadual um deputado estadual eleito, o companheiro deputado Missias, o primeiro Sem Terra eleito a ocupar a Assembleia Legislativa do Estado Ceará e agora, nesse pleito, já temos alguns companheiros também, advindo da militância do MST para cumprir essa tarefa dada pelo movimento, entendemos assim, mas também pelo povo que foi às urnas e referendou o nosso plano para hoje estar vereador aqui no nosso município.

Neide Fernandes – Posso dizer que o MST se organizou para disputar as eleições pelo Brasil levando a luta pela Reforma Agrária popular e pela soberania alimentar para o centro da disputa política. É de fundamental importância o MST ocupar esses espaços políticos para avançarmos e defendermos as nossas conquistas. A luta é contínua.

O que a eleição do deputado estadual Missias do MST representou para vocês e o que a eleição de vocês pode representar para os militantes do MST e para a sociedade em geral?

Pedro Neto – A eleição do deputado Missias como primeiro deputado Sem Terra eleito representou um marco histórico, a quebra de muitos paradigmas e momento de reafirmar que a luta pela terra, que a luta pela Reforma Agrária, que a luta pelo socialismo também pode se dar nesse espaço institucional e nós temos bons nomes, bons quadros políticos para estar aí e o deputado Missias foi e está sendo, de fato, esse nome que está levando a nossa luta para todo o estado através da tribuna, através do espaço que o deputado estadual tem, a voz, a oportunidade de legislar também, de poder contrapor algumas leis que vem contra os trabalhadores e as trabalhadoras.

Então, acredito que nós temos acumulado bastante com a eleição do deputado Missias nas mais diversas frentes de luta, mas, principalmente, na luta por terra, a luta pela agricultura familiar camponesa, a luta por direito, sendo muito importante a presença do deputado no parlamento e, junto com isso, a nossa chegada, para o conjunto do movimento, para a sua militância, para os assentados e assentadas, representa, sem dúvida também a dimensão de que a nossa luta vai além da luta por terra, por habitação, a nossa luta é para ocupar, de fato, os espaços, levando a mensagem de projeto. Nós defendemos um projeto para todo o povo brasileiro. Esse projeto passa pelo acesso à terra, pela Reforma Agrária popular, mas, também, com muitas outras ações que possa vir a beneficiar o nosso povo, inclusive, políticas públicas, para aqueles e aquelas que mais precisam.

Neide Fernandes – A eleição do deputado Missias do MST representou e representa para nós a importância de ocuparmos o parlamento, levando nossa bandeira de luta. O nosso deputado tem um mandato popular que conta significativamente com a participação do povo Sem Terra e já colhemos bons frutos nas trincheiras de lutas conquistando mentes e corações na luta por Reforma Agrária e em defesa da democracia. O trabalho do deputado também foi minha inspiração. A militância do MST ajudou em todos os processos de campanha e confiaram em mim, assim, seguirei com o compromisso com a defesa da agricultura familiar, o direito das mulheres, dos jovens e a melhoria das condições de vida em nosso município de Monsenhor Tabosa.


Pedro Neto, primeiro Sem Terra eleito vereador em Crateús. / Foto: MST

Quais serão os grandes desafios dos mandatos de vocês? 

Pedro Neto – Por ser a primeira vez que estaremos ocupando esse espaço, nós teremos, logicamente, inúmero desafios, mas acredito que o primeiro é de elaborar, ou seja, da gente ter a condição, de forma coletiva, fazendo escutas nas comunidades, aos assentamentos, aos territórios. Nós poderemos elaborar leis que venham de encontro àquilo que o nosso projeto defende. Eu acredito que essa seja um grande desafio, transformar as nossas pautas de luta em projetos de lei, em ações, em projetos indicativos para que o Executivo possa analisar e propor com uma lei. 

O outro é de ser um mandato popular. Nós fomos eleitos com uma base eleitoral que advém da luta popular, os movimentos populares e esse é um desafio, da gente manter um mandato popular, fazendo o processo dinâmico que é a construção coletiva de forma permanentemente com esses sujeitos. Eu encaro isso como um grande desafio.

O outro desafio é do ponto de vista da gente poder dialogar com o nosso projeto maior. Nós temos um projeto em curso no Brasil que é a reconstrução do Brasil, no Ceará nós termos um Ceará cada vez mais forte, com projetos também importantes, então, o desafio desse mandato é ser um instrumento de luta a serviço desse projeto e para isso nós vamos estar fazendo muita escuta, vamos estar ouvindo, vamos estar nas comunidades, vamos estar nos bairros, vamos estar ouvindo os segmentos, vamos estar ouvindo a academia, ouvindo aqueles e aquelas que querem um Crateús bem melhor, que querem um Crateús inclusivo, que querem um Crateús desenvolvido, e para isso a gente está aqui para poder ser essa voz ativa, essa voz que compreende que esse projeto tem que ser com a base, consolidada, tem que ser com projetos que possam fortalecer, dentro de uma estrutura bem maior, que é ter um município que tenha seu orçamento voltado para aqueles e para aquelas que mais precisam.

Neide Fernandes – Agora, como vereadora, estou muito orgulhosa do processo político que construímos juntos. Não foi só uma caminhada, mas foi um processo de mobilização popular. Nesse sentido, tenho compromisso de ser a voz de quem mais precisa, defendendo os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, a igualdade social e o respeito à diversidade. Acredito no poder da juventude e na importância de garantir que as mulheres ocupem seu lugar no parlamento. Vamos lutar por mais oportunidades para todos e todas. Seguiremos juntos na luta. Viva a democracia. Viva o MST.

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Edição: Camila Garcia