Reunindo vários segmentos de movimentos de povos de terreiro, movimentos sociais negros, feministas, LGBTQIAPN+, artísticos e sócioambientais, os coletivos Ilê Axé Ofá Omi (Ceará) e do Ilê Axé Igbará T ́Ogum (Lauro de Freitas/BA) realizam amanhã (07), no Centro de Formação e Capacitação Frei Humberto, o Samba de Axé Levanta Terreiro.
Nonato Nascimento, membro dos coletivos de terreiro Ilê Axé Ofá Omi e Ilê Axé Igbará T ́Ogum, e militante do Movimento Negro Unificado (MNU) destaca a importância da realização do evento em parceria com os movimentos sociais, pois representa uma convergência de lutas e de pautas que devem ser defendidas pela sociedade e pelo conjunto dos movimentos sociais e populares. “A realização do evento envolve diversas famílias de Santos, diversidade de terreiros, de Salvador, mas também de Fortaleza, com o intuito de promover o diálogo, para entender nossas demandas cotidianas, nossas demandas estruturais, e apontar caminhos conjuntos, agendas comuns na defesa dos territórios das comunidades de terreiro”, afirma.
Questionado pelo Brasil de Fato Ceará sobre os desafios da construção do evento que promove e celebra a ancestralidade dos povos de terreiro, Nonato afirma que os desafios colocados para esses coletivos de terreiros são também desafios históricos, que devem ser combatidos e superados de forma coletiva. “Um dos principais desafios é a violência racial e o racismo religioso, que afeta diretamente as coletividades de terreiro, que afeta as crianças, e nos afeta quando fazemos processos de retomada, ou seja, de abertura e reabertura de casas de candomblé ou umbanda, que são território dessa ancestralidade negra. Então, os nossos desafios de construção desses espaços se dá muito também por essas questões que nos atravessam”, aponta. Ainda de acordo com o Nonato, esses desafios são questões estruturais e não individuais, mas que afetam a coletividade como um todo.
Outro desafio levantado pelo militante é a ausência do Estado em promover políticas públicas específicas de proteção, salvaguarda e promoção da equidade racial e religiosa no Ceará, e afirma que esse cenário tem feito com que mais pessoas que constroem coletivos de terreiros, ocupem mais espaços nos conselhos de igualdade racial, construindo conferências e espaços de políticas públicas, buscando o diálogo para responsabilizar o Estado pela falta de amparo a essa população.
Com objetivo de arrecadar fundos para a construção da roça de candomblé, o evento é gratuito e traz debates sobre as perspectivas e desafios das comunidades tradicionais de terreiro na luta por políticas públicas de valorização e preservação dos povos de terreiro. Além disso, o evento celebra as resistências dos povos de terreiro e promete criar laços de irmandade, resistência coletiva e cooperação.
A programação conta com a participação da Yalorixá Ana Boaventura Ti'Ofum do Terreiro Ilê Axé Igbara T'Ogum (BA); da Ekedi Claudia Cambuta - Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais - MPP e Articulação Nacional de Quilombos - ANQ (BA); da Egbon Lindinalva Barbosa Omorixa Oya do Terreiro do Cobre (BA); de Makota Adriana Santiago do Tempo do Terreiro Ilê Axé Focanjifa (CE); de Cris Faustino, do coletivo Ofá Omi, direção geral do Samba da Vicença e coordenação institucional do Instituto Terramar (CE); Natália Sobral e Ekedi Cristiane.do Ilê Asé Osanyin Yansan (CE); e Síntia Gonçalves - coletivo povos de terreiro do MST e Direção Estadual do MST Ceará (CE).
Além do espaço de debate e do momento de promoção à cultura com o samba Grupo Terreiro Tradição, o evento tem também feijoada e participação da cantora Elivânia Monte. Para finalizar o espaço, haverá ainda o sorteio da rifa de um xequerê feito pelo Ateliê Coisa de Preta, da artista Cristiane Valdivino.
Por fim, Nonato ressalta a centralidade de construção de espaços que promovem a cultura de povos de terreiros e eventos que seguem alinhados com a defesa dessas populações, que perpassa também a defesa intransigente do patrimônio espiritual, ancestral, material e imaterial que o povo de terreiro contribui para a formação social brasileira. “É importante destacar que a luta em defesa dos povos de terreiros é uma luta inegociável, assim como tantas outras lutas que estão na agenda do dia a dia. Essa defesa dos territórios de comunidades tradicionais de terreiro fala da nossa existência, e nossa luta é pautada pelo direito à continuidade, à essa ancestralidade, a esse pertencimento, a essa identidade e a essa cultura, que ela se expressa de forma coletiva”, conclui.
Programação:
9h - 12h Roda de Conversa “Resistência de Terreiro: Nossos Passos Vêm de Longe”
12h - 12h20 Dança para Oxum
12h20 Feijoada de Terreiro, Acarajé e Abará
14h - 17h Samba com o Grupo Terreiro Tradição
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Edição: Camila Garcia