Ceará

REFORMA AGRÁRIA

MST realiza o V Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará

Realizado no Assentamento Ipueira da Vaca, o evento destaca a força da cultura camponesa com formações e apresentações

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |
III Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará - Divulgação

Com o lema “MST: Há 40 anos com arte e cultura na Reforma Agrária”, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra do Ceará, o MST-Ceará, realiza entre os dias 27 e 29 de novembro de 2024, o V Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo, na Escola de Ensino Médio e Educação Profissional do Campo Antônio Tavares Alves, localizada no Assentamento Ipueira da Vaca, na Comunidade Logradouro I, em Canindé/CE.

Realizado pela primeira vez em 2016, a idealizadora do festival e coordenadora do Centro Rosa Luxemburgo (Canindé), Sandra Vitor, explica que o festival foi pensado como estratégia de fortalecimento da matriz da cultura do Projeto Político-Pedagógico das escolas do campo. “Nosso Projeto Político-Pedagógico conta com cinco matrizes de formação humana, e dentre elas a cultura. Então tendo a matriz da cultura como pilar do projeto dessas escolas, sentimos a necessidade deste fortalecimento”, afirma. A primeira edição do festival foi realizada na EEMP do Campo João dos Santos de Oliveira (Escola João Sem Terra), no Assentamento 25 de maio, município de Madalena, localizada a cerca de 184 km de Fortaleza.

De acordo com a idealizadora do festival, a primeira edição envolveu apenas os estudantes da Escola João Sem Terra e estudantes das escolas de ensino fundamental do município. Já nas edições seguintes, em 2017 e 2018, o evento teve maior abrangência e garantiu a participação e envolvimento de outras escolas do campo de todo o estado do Ceará. Apesar do sucesso com a realização do evento, a quarta edição aconteceu somente em 2021, e foi realizada no formato virtual, em decorrência do isolamento social causado pela pandemia da Covid-19.

Com programação idealizada para difundir e democratizar o acesso à cultura camponesa, o festival busca promover um encontro em que a tradição e a militância se entrelaçam em um cenário que ecoa a identidade da luta no campo, promovendo a arte como meio de organização coletiva e de contraposição a indústria através da valorização das raízes do campo. O evento propõe ainda, o fortalecimento de uma cultura que enraíza as produções culturais do campo, trazendo à tona a musicalidade, as danças populares, a literatura sem terra, as práticas alimentares saudáveis e a resistência cultural que define a trajetória do MST ao longo de 40 anos de organização.


Coordenadora Geral e Idealizadora do Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo / Louie Valentim

A coordenadora do evento destaca a importância da realização do festival, uma vez que o mesmo desempenha o papel fundamental de articulação e parceria entre as comunidades locais, e grupos culturais do território, além de fortalecer o projeto político-pedagógico no que tange a promoção da arte e a cultura nas escolas do campo. “Eu tive a honra de participar de todas as edições, desde o surgimento, e agora tenho essa tarefa de incentivar as demais escolas a participarem, e também de impulsionar o envolvimento de todas as instituições do campo, juntamente com o setor de educação e direção nacional do MST”, conclui.

Já o egresso de escola do campo, ator e produtor cultural das áreas de Reforma Agrária, Kauã Oliver, ressalta o papel das escolas na construção do festival de arte e cultura. Para o produtor cultural, as escolas do campo desempenham o papel de trazer os estudantes - filhos de agricultores, assentados e acampados da reforma agrária para outra realidade. De acordo com Kauã, grande parte dos estudantes do campo são jovens e crianças que nunca tiveram acesso à cultura de modo geral, mas sobretudo, a cultura produzida dentro dos próprios territórios, e por isso, se torna dever das escolas garantir que os estudantes desfrutem da oportunidade do festival para terem acesso à cultura.

O produtor ressalta ainda os impactos que a realização do festival tem na vida dos estudantes camponeses, e destaca a integração entre escolas como um dos principais impactos para os jovens e crianças do território. “A partir do momento que chegamos em outras escolas do campo, nós enxergamos um projeto cultural que possibilita à juventude brincar e se divertir com aquela cultura, então passamos a se identificar com aquilo e querer para nós”, destaca. Kauã ratifica que a juventude camponesa possui uma larga escala de trabalho no campo, o que consome parte da rotina desses estudantes, que passam a ter somente a escola como espaço de diversão e acesso a cultura.


Kauã Oliver é ator e produtor cultural das áreas de Reforma Agrária, e ex-estudante de escola do campo / Louie Valentim

Por fim, o ator acredita que o impacto do festival na vida dos estudantes camponeses é no sentido da libertação para uma realidade que nunca foi apresentada para esses sujeitos, e que deve vir também como forma e ferramenta de educação.

Durante os três dias de programação, o evento pelo qual reafirma o compromisso da organização com a valorização e fortalecimento da cultura popular camponesa, reúne estudantes de 12 escolas do campo, localizadas em mais de nove municípios cearenses, integrando e estimulando jovens, adultos, idosos e crianças a valorizarem suas tradições e a desenvolverem-se como trabalhadores e trabalhadoras da cultura popular camponesa.

Entre os destaques da programação está a Mística do Festival, momentos de conexão entre a mente e o coração por meio de apresentações artísticas e vivências, sempre acompanhando as programações das Escolas do Campo. A programação traz ainda bate-papos e trocas de ideias e saberes com convidados, à exemplo da mesa “Análise de conjuntura política cultural e a disputa cultural”, com a presença de Carla Loop, da Direção Nacional da Cultura do MST, Kelha Lima, da Direção Estadual do MST/CE, e Luisa Cela, Secretária da Cultura do Ceará, com mediação de Luz Elena, do Coletivo de Cultura do MST/CE.


III Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará / Divulgação

A programação do festival oferece ainda uma diversidade de oficinas, noite cultural, feira solidária e mesas-redondas, tornando-se um importante espaço de resistência e troca de saberes para as comunidades assentadas do interior do Ceará.

Programação Completa

27 de novembro | Quarta-feira

13h30 às 14h30 e 19h30 às 20h: Mística de Abertura do V Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo com as Escolas do Campo Antônio Tavares, Javan Rodrigues e Patativa do Assaré, na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

14h30 às 16h: Mesa “Análise de conjuntura política cultural e a disputa cultural” com Kelha Lima (Direção Estadual do MST/CE), Carla Loop (Direção Nacional da Cultura do MST), Luisa Cela (Secretária da Cultura do Ceará) e mediação de Luz Elena  (Coletivo de Cultura do MST/CE), na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

16h30 às 18h: Apresentações Artísticas, na Quadra Ariano Suassuna 

 

19h30 às 20h: Mística de Abertura da Posse da Academia Popular Literária Sem Terra do Ceará com as Escolas do Campo, na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

20h às 21h30: Posse da Academia Popular Literária Sem Terra do Ceará 48 Literatas da Terra, no Pátio Maria Bonita da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

21h30 às 23h: Noite Cultural e Feira de Economia Viva das Áreas de Reforma Agrária com Pé de Serra da Reforma Agrária, no Pátio Maria Bonita da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

28 de novembro | Quinta-feira

8h às 8h30: Mística com as Escolas do Campo Florestan Fernandes, João Sem Terra, Paulo Freire, na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

8h30 às 10h: Mesa “Os 40 anos do MST: Patrimônio Imaterial, História, Arquivo e Memória da Cultura Sem Terra”, com Maria Lima (Matriarca do MST/CE), Adelaide Gonçalves (Gabinete Plebeu de Leitura e UFC), Raquel Caminha (Museu do Ceará), Maria de Jesus (Setor de Educação do MST), na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

10h30 às 12h e das 14h às 15h: Oficinas (em salas da escola a serem orientadas no dia)

- Teatro do Oprimido, com a atriz Jessyka Maia

- Dança Popular, com Mestre Olho de Gato - Negaça Canindé

- Literatura da Terra, com Adelaide Gonçalves

- Muralismo, com Levante Popular da Juventude

- Muralismo com Lairton Lima,  e Erandir Santo do MST

- Capoeira, com Mestre Olho de Gato - Negaça Canindé

- Percussão, com Levante Popular da Juventude

- Produção Cultural, com SECULT/CE

- Artesanato, com Gardênio Holanda

- Audiovisual, com Vivaldo Witchoff

- Audiovisual, com Nonato Andrade

- Troca de Sementes Crioulas, com Sérgio Pinto

- Saúde Popular, com equipe do Setor de Saúde do MST

- Tranças, com Wesley Oliveira (Irmã Tereza) e Andréia Caetano

- Comunicação Popular - Redes Sociais, com Aline Oliveira

- Comunicação Popular - Fotografia, com equipe do Setor de Comunicação do MST

 

15h às 16h, 16h30 às 19h e 20h às 21h30: Apresentações das Culturas Camponesas, na Quadra Ariano Suassuna e Pátio Maria Bonita da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

21h30 às 23h: Noite Cultural e Feira de Economia Viva das Áreas de Reforma Agrária com Pé de Serra da Reforma Agrária, no Pátio Maria Bonita da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

29 de novembro | Sexta-feira

8h às 8h30: Mística com as Escolas do Campo Florestan Fernandes, João Sem Terra, Paulo Freire, na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

 

8h30 às 10h: Mesa “A Luta Cultural por Terra, Arte e Pão: Expressões Artísticas, Cultura Alimentar, Desafios e rumos da Cultura Camponesa no Ceará”, com Luz Elena (Coletivo de Cultura do MST/CE) e Vylena Sousa (Expressões Artísticas das Culturas Camponesas de Caetanos de Cima - Amontada), na Quadra Ariano Suassuna

 

10h30 às 12h: Mística de Encerramento com as Escolas do Campo Nazaré Flor, Francisco Barros e José Fidelis, na Quadra Ariano Suassuna da Escola do Campo Antônio Tavares Alves

Participam do Festival as seguintes escolas:

- EEMP do Campo João dos Santos de Oliveira (Escola João Sem Terra), no Assentamento 25 de Maio (Madalena);

- EEMP do Campo Francisco Araújo Barros, no Assentamento Lagoa do Mineiro (Itarema);

- EEMP do Campo Maria Nazaré de Sousa (Escola Nazaré Flor), no Assentamento Maceió (Itapipoca);

- EEMP do Campo Florestan Fernandes, no Assentamento Santana (Monsenhor Tabosa);

- EEMP do Campo Padre José Augusto Régis Alves, no Assentamento Pedra e Cal (Jaguaretama);

- EEMP do Campo Filha da Luta Patativa do Assaré, no Assentamento Santana da Cal (Canindé);

- EEMP do Campo Francisca Pinto dos Santos, no Assentamento Antônio Conselheiro (Ocara);

- EEMP do Campo José Fideles de Moura, no Assentamento Bonfim Conceição (Santana do Acaraú);

- EEMP do Campo Paulo Freire, no Assentamento Salão (Mombaça);

- EEMP do Campo Irmã Tereza Cristina, no Assentamento Nova Canaã (Quixeramobim);

- EEMP do Campo Javan Rodrigues de Sousa, no Assentamento Conceição (Canindé);

- EEMP do Campo Antônio Tavares Alves, no Assentamento Ipueira da Vaca (Canindé). 

O V Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará é uma realização da Associação Comunitária dos Assentados de Nova Vida II. Apoiado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e pelo Ministério da Cultura, com recursos da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar n. 195/2022). Conta com a parceria do Centro de Formação, Memória, Arte e Cultura Camponesa Rosa Luxemburgo e apoio do MST/CE.

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Edição: Camila Garcia