As eleições realizadas este ano elegeram prefeitos em 5.569 municípios em todo o Brasil. Dados divulgados pela TV Senado mostram que o PSD foi o partido que mais elegeu chefes municipais com 887 candidatos eleitos. O MDB ficou em segundo lugar com 850 prefeitos eleitos. O PL aparece na quinta colocação com 517 prefeitos eleitos. Já o PT, aumentou o número de prefeituras conquistadas em comparação com 2020, e se configura como o nono partido com mais prefeitos eleitos com 253 candidatos. E para falar sobre esses dados e fazer uma análise dessas eleições o Brasil de Fato conversou com Wesley Braga, professor de inglês e Pesquisador em Educação Política do Núcleo de Apoio à Gestão Pública da Universidade Federal do Ceará. Confira.
Como a esquerda, o centrão, a direita e a extrema-direita saíram das eleições 2024?
Eu acredito que a primeira coisa que a gente precisa falar e entender é que esses espectros: esquerda, direita, centrão muitas vezes não chega na grande parte da população. A maioria das pessoas não sabe o que significa esquerda, direita, centrão, não consegue se identificar em nenhum desses espectros. Então, essa nomenclatura faz muito sentido para nós, analistas, estudiosos, mas nem todo mundo sabe isso. Então, quando a gente fala que “a esquerda enfraqueceu”, “a direita se fortaleceu” a gente precisa entender que muitas pessoas, e eu diria, a maioria das pessoas, não tem na mente o que isso significa na prática, nessas ideologias, porque esquerda e direita são ideologias, posturas filosóficas, políticas e as pessoas, a grande parte das pessoas, não entendem isso.
Mas analisando os números, inclusive, é até difícil para os analistas conseguirem classificar os partidos dentro de esquerda e direita, porque dentro do nosso sistema eleitoral, nós temos tantos partidos e os partidos são tão flexíveis que dá um trabalho conseguir classificar esses partidos dentro desses espectros. Mas eu diria que, assim como nas eleições anteriores, o centrão, aqueles partidos de centro, que são os que historicamente comandam o nosso país, comandam as emendas parlamentares, eles que decidem o orçamento do nosso país, esses partidos tiveram ótimos resultados como você falou na abertura. O PSD, um partido de centro, conseguiu o maior número de prefeituras no país, e em seguida o MDB, então dois partidos de centro. Os partidos do centro têm esse poder, essa força e é um ciclo, porque eles vão se fortalecendo e isso vai gerando, esse movimento. Então, acredito que o centrão continua forte.
E aí nós temos uma disputa grande entre direita e extrema-direita. Eu acho que isso é interessante, a gente fazer esse recorte. Nós tivemos muitas cidades que a disputa não foi entre esquerda e direita, mas entre direita e extrema-direita. Eu acredito que é importante a gente falar isso, mas vejo também que a extrema-direita sai um pouco enfraquecida dessas eleições, porque em muitas cidades o discurso mais moderado foi o grande vencedor, inclusive, representantes da extrema-direita tiveram que diminuir a força do discurso para ter chance de vitória. Então acredito que, de maneira geral, esse foi um grande resultado.
A esquerda... A gente está escutando muito os analistas e as pessoas criticando: “a esquerda precisa se reinventar”, com base nesses números. O PT, o PSB, partidos que a gente considera de esquerda tiveram um resultado que, comparado a alguns partidos de centro e direita não chamaram muita atenção, mas acredito que o centro permanece aí com grande força na nossa política.
Quem saiu mais fortalecido, ou mais enfraquecido dessas eleições?
Na verdade, olhando para os números, a gente vê, por exemplo, que o PL sai em quinto lugar no número de cidades com prefeitos eleitos. A gente tem PSD, MDB, União Brasil, o PP no top. Então, eu reafirmo que o centrão continua com essa força. Eu não gosto de dizer que a esquerda sai enfraquecida nas eleições. Eu acredito que a nossa esquerda, a esquerda no Brasil nunca foi majoritária, nunca foi preponderante, mesmo nos governos do PT. Então assim, para Lula ser eleito a gente sabe que houve muita negociação com o centrão, então dizer que a esquerda sai enfraquecida... eu sempre tenho muita cautela, porque eu fico me perguntando quando foi que a esquerda foi tão forte no nosso país. Então eu sempre gosto de ponderar isso.
Mas o que eu acho que a gente precisa pontuar é que em termos de justiça e o discurso de ódio, eu acredito que esse sai fortalecido dessas eleições. Nós tivemos muitos casos de agressão, as fake news, as notícias falsas, e isso daí a gente não está vendo as consequências práticas, né? A gente está vendo a justiça ainda muito leniente com algumas coisas. Você vê que aqui em Fortaleza nós tivemos o caso do inspetor Alberto por diversas ações, a última foi ele maltratando um porco para fazer um vídeo para a rede social e, se não me engano, a consequência disso foi uma multa de R$3 mil. Então acredito que nessas eleições, saindo um pouco dos espectros esquerda e direita, esse discurso de ódio, essas atitudes, as notícias falsas, elas ganham muita força nas campanhas eleitorais.
Eu acredito que esse tipo de atitude sai fortalecido e não deveria. A gente tem que tomar muito cuidado.
E no estado do Ceará, como você analisa os resultados eleitorais desses campos políticos nessa última eleição?
Aqui no Ceará nós tivemos um resultado muito diferente se a gente pensa o perfil do Brasil como um todo, porque, apesar de termos muitas prefeituras na mão desses partidos que eu considero do centrão, do PSD, do MDB, do PP, União do Brasil, nós tivemos a maioria e uma grande maioria das cidades vão ser governadas pelos partidos PSB e PT. Então, aqui no estado do Ceará, nós tivemos um resultado impressionante, principalmente para o PSB, e aí vem daquele racha do PDT, mas o PSB cresce muito nessas últimas eleições, o PT também cresce muito aqui dentro do estado e eu acho que fecha com a vitória do Evandro Leitão na capital. Uma vitoriar apertada, mas que foi essencial.
O Partido dos Trabalhadores aumentou o número de prefeituras conquistadas em comparação a 2020, elegendo 253 prefeitos, de acordo com dados divulgados pela TV Senado, mas Fortaleza foi a única capital brasileira que elegeu um candidato do PT. O que isso representa?
Esse dado está circulando o Brasil todo, os noticiários, algumas pessoas vendo. É importante a gente lembrar que o PT, em 2012, conseguiu quatro capitais no Brasil. Em 2016 esse número cai para uma capital. Em 2020 zero e agora conquista mais uma capital, que foi aqui em Fortaleza. Então, eu acho que, tirando esse recorte temporal, o PT é mais forte nas cidades menores.
Acho que depois de Fortaleza a gente tem Contagem e Juiz de Fora que o PT conseguiu aí prefeituras em cidades um pouco maiores. Mas o que eu atribuo esse resultado é: nós precisamos pensar nos territórios. O que é que acontece nos territórios dessas médias e grandes cidades que o PT não consegue chegar lá na prefeitura, no executivo. E aí eu vejo que é o perfil socioeconômico, as realidades que mudam de acordo com o território. A gente sabe que dentro de uma mesma cidade as realidades são diferentes. Então, quando a gente pensa a realidade de Fortaleza, os problemas da cidade de Fortaleza são muito diferentes dos problemas enfrentados nas cidades do interior, por exemplo, cidades menores.
Com a derrota de André Fernandes para a prefeitura de Fortaleza, o PL finalizou 2024 não elegendo nenhum prefeito no estado do Ceará. O que esse resultado significa?
O PL teve uma queda em número de prefeituras aqui. Em 2016, se não me engano, eles tinham onze prefeituras aqui no Ceará, esse número aumenta em 2020 para treze prefeituras e agora eles saem sem nenhuma. Acredito que eles fizeram uma aposta muito grande aqui em Fortaleza, então concentraram todos os esforços, todo o investimento e a energia para ganhar a capital pela relevância que isso ia ter em um cenário nacional e não foram bem-sucedidos.
Agora, eu gosto de pontuar, e é bom que o ouvinte também fique atento para isso, que é no legislativo. A gente faz muitas análises do executivo, dos resultados de prefeituras, mas é muito importante a gente analisar quem realmente também tem poder na política, que é o legislativo, no caso, os vereadores. É muito importante a gente analisar como foi também esse resultado das eleições no campo do legislativo e nesse campo o PL sai muito bem.
Elegeu, depois do PDT, a maior bancada. Foram cinco vereadores aqui em Fortaleza. Então, assim, é uma bancada forte, e o PDT, com a rixa, caiu em número de vereadores, mas ainda tem a maior bancada, só que o PL está vindo com muita força no legislativo e a gente sabe que isso é importante porque é o vereador que está no bairro, é o vereador que está na comunidade. Então a gente sabe que o fortalecimento do legislativo é um indicativo que a gente tem que considerar, mas realmente, no estado, o PL sai, quando olhamos para o número de prefeituras, enfraquecido.
De certa forma, as redes sociais se tornaram importantes ferramentas utilizadas pelos candidatos nas eleições. Qual foi o papel das redes sociais nessas eleições e quais as perspectivas para as próximas eleições?
Acho que todos nós concordamos que as redes sociais são um caminho sem volta, né? Uma realidade, inclusive, que afeta todo o nosso campo cultural. As redes sociais hoje estão presentes fortemente na nossa sociedade e, obviamente, que isso se reflete nas eleições, nas instituições, na forma como o candidato passa a dialogar com os seus eleitores. Então, as redes sociais estão crescendo cada vez mais, o papel delas está cada vez maior nas eleições e a gente vê que isso foi muito importante na candidatura do André Fernandes, que tem esse passado de YouTube, de streamer, de um papel muito ativo nas redes sociais, inclusive, foi o que deu visibilidade para a candidatura dele e, saber usar essas ferramentas é muito importante.
As redes sociais vão continuar tendo um papel muito forte nos próximos anos, nas próximas eleições, acho que isso não vai mudar, a questão dos jingles, as musiquinhas foram muito presentes, viralizaram, inclusive, o nosso estado conseguindo exportar, digamos assim, as musiquinhas para o Brasil todo. Você vê aí muitos influencers dançando, cantando musiquinha, não sabiam nem quem era Evandro, não sabiam quem era Sarto, não sabiam quem era André Fernandes, mas essa mensagem chegou no Brasil todo. Então isso gera like, isso gera visualização, isso chega na massa, na população, principalmente na população mais jovem, que já nasceu nesse ambiente de mídia, de exposição. Então a gente tem que ficar atento para essa nossa mudança cultural, essa mudança no perfil do eleitorado, porque vai ser uma ferramenta que a gente não pode deixar de olhar.
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Edição: Camila Garcia