Ceará

arte circense

Festival Internacional de Circo do Ceará mantém viva a tradição circense no estado

Giza Diógenes, conversou com o Brasil de Fato sobre a importância do circo para a arte e cultura cearense

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

Ouça o áudio:

A programação do Festival é inteiramente gratuita e livre, acessível em libras e com áudio descrição. - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Durante todo o mês de novembro vai acontecer o Segundo Circuito de atividades da 10ª edição do Festival Internacional de Circo do Ceará com programação gratuita. E para falar sobre a realização do Festival e sobre a importância do circo para a arte e cultura do Ceará o Brasil de Fato conversou hoje com Giza Diógenes, diretora do Festival Internacional de Circo do Ceará. Confira.

O que é o Festival Internacional de Circo do Ceará?

Ele é um festival. É um projeto fruto de políticas públicas, um projeto incentivado via Lei de Incentivo, um festival que acontece periodicamente, ininterruptamente há 10 anos aqui no Ceará e é exclusivamente circense. É um palco, uma vitrine por onde passam grandes produções circenses aqui do Ceará, de outros estados do Brasil e também do mundo, porque ele é um festival internacional, traz muitas atrações também dos nossos vizinhos aqui da América Latina e Europa, e traria de muito mais lugares desse mundo se a gente tivesse mais recurso, porque a procura de artistas dos quatro cantos do mundo, acredite, ela chega através da convocatória do festival. A gente recebe inscrições de muitos lugares inusitados que a gente gostaria de trazer, mas é um custo muito alto. 

Como foi que surgiu a ideia para a realização do Festival?

Surgiu a partir de uma experiência minha enquanto produtora cultural, fazendo a produção do Festival dos Inhamuns de Artes Cênicas, hoje ele se chama Festival dos Inhamuns de Artes Cênicas, mas quando eu trabalhei na época, e ainda trabalho até hoje, era Festival dos Inhamuns: circo, bonecos e artes de rua. 

E eu trabalhei em vários projetos aqui no Ceará, de várias linguagens, mas não tinha ainda feito um de circo, e eu me lembro que quando eu vi a divulgação, os cartazes, eu fiquei muito impressionada com o nome. Eu me lembro da sensação que eu tive olhando para o cartaz lá na Secult, cuja arte era um João do Pulo, aquele bonequinho, aí eu acho que eu devo ter desejado com tanta intensidade que passou algum anjo e disse amém, e alguns anos depois eu fui fazer essa produção dos Inhamuns. 

Lá eu tive um contato com a linguagem circense e foi a que eu mais gostei, e aí voltei com essa ideia, pensando, “a gente não tem um festival que seja só de circo. Por que a gente não tem um festival só de circo?” A gente tem festivais de várias linguagens e aí o Inhamuns acabou absorvendo também a linguagem do circo, mas não era só de circo, ele era de teatro, as vertentes do teatro, o teatro de boneco, o teatro de rua, o teatro, principalmente esses.

E aí eu voltei em 2009 com essa ideia, “eu vou propor. Acho que vou fazer”, não sozinha. Eu sou produtora cultural, eu não sou artista, sou só produtora, mas sou casada com meu companheiro Ângelo, que é da Dona Zefinha, que tem um trabalho circense, e aí a gente construiu essa proposta, mas não foi de imediato, sabe? A gente escreveu a primeira proposta do projeto em 2010 e só em 2014 é que a gente conseguiu fazer a primeira edição. A gente teve que encaminhar até chegar na primeira edição.


Este ano o Festival chega a sua 10ª edição. / Foto: Reprodução/Redes Sociais

Este ano Festival chega a sua 10ª edição. Qual é o significado disso tudo?

É um significado de vitória, porque trabalhar com cultura no Brasil, no Ceará, eu digo assim pelo meu território, eu não sei como é em outros lugares, mas é uma luta.

Qual é a importância da arte circense para a cultura e arte brasileira e cearense? 

A arte circense, para mim, acho que é uma das mais democráticas, das mais acessíveis, das mais inclusivas, das mais acolhedoras das artes, porque no circo cabe tudo. O circo, enquanto equipamento, ele como lona, recebe artistas de vários lugares, de várias situações, com suas histórias, e a pessoa passa ali um tempo no circo, vivendo uma vida de arte. No circo você recebe atletas, porque o circo tem disso, uma pessoa que faz contorção é uma atleta, uma pessoa que faz um número de argolas, o número de trapézio é artista, mas ela é também atleta. 

O circo recebe o esporte, o circo recebe a música, as charangas, as músicas que tocam ao vivo, o circo recebe humor, estão sempre convidando um artista do humor para abrilhantar ali uma noite, recebe o teatro, recebe ações de saúde, recebe escolas, é uma potência enquanto equipamento formador de plateia, de construção de identidade, ele vai a todos os lugares onde os equipamentos não estão, eles circulam pelas periferias, circulam pelos interiores. Então o circo é uma potência, tem uma importância enorme e é essencial que se veja melhor o circo, que se apoie o circo, que se invista no circo enquanto estrutura e seus artistas, porque ele vai aonde o poder público não vai, essa é uma grande contribuição que o circo tem, além de ser extremamente atrativa.

E quais são os maiores desafios para quem trabalha com circo?

São muitos. Como disse no começo e vou repetir, eu não sou artista circense, eu sou produtora cultural, mas trabalho com circo, essa é a linguagem do meu festival, então eu trabalho com a linguagem do circo. Não sendo artista e não sendo dona, gestora de um equipamento, de um circo, mas o que a gente percebe? Do nosso lado, enquanto produção, as dificuldades é a captação, é o recurso para fazer o seu projeto acontecer. Essa é a nossa principal dificuldade, é o que nos deixa todos os anos na situação de instabilidade, de insegurança, sem saber se você vai ter o dinheiro para fazer o seu projeto. Do lado dos artistas eles também encontram essa dificuldade, o recurso dos editais é pouco, não atende todo mundo, o acesso aos equipamentos também é tudo via edital, para você acessar a programação dos equipamentos no estado, e não estou dizendo que o estado tenha que absorver tudo, mas não dá conta, como está hoje não dá conta do que é produzido. 

Uma coisa que é bacana de pontuar, que não é a minha vivência, mas que eu percebo e que tem os relatos que a gente acompanha, é que há uma dificuldade muito grande hoje com os artistas circenses, os tradicionais de lonas, os artistas de lonas em conseguir terrenos para instalar as lonas. Fortaleza, por exemplo, está tomada, tomada assim, não há mais terreno disponível para os circos armarem as suas lonas. Houve épocas em que tinha dez circos aqui pelas periferias ou de maiores portes em terrenos, em áreas mais centrais, mas hoje, o presidente da APAECE (Associação de Proprietários, artistas, e Escolas de Circo do Ceará, que é o Reginaldo Aparecido Calvo, me relatou na abertura do Festival, que tem um ou dois circos em Fortaleza de lona, porque não há mais terrenos disponíveis. Então essa é uma realidade que eles estão vivendo e que é um problema, e que no interior também já tem dificuldades, tem prefeitura que nem aceita que tenha um circo.

Então a gente precisa de muita conversa, muito diálogo, para estabelecer uma política de ter terreno, lugar do círculo, o lugar físico do circo, entendeu? A gente tem que botar o circo no lugar dele de história, de merecimento, de linguagem, dar o valor que o circo, enquanto linguagem, tem que ter e a gente precisa de um lugar do circo instalar lá a sua lona. Essa é uma dificuldade vivida pelo circense de lona tradicional.


"A arte circense, para mim, acho que é uma das mais democráticas, das mais acessíveis, das mais inclusivas, das mais acolhedoras das artes, porque no circo cabe tudo", Giza. / Foto: Reprodução/Redes Sociais

E como é que está a realidade de acesso, produção e realização dos espetáculos circenses no Ceará? Muitas pessoas ainda vão ao circo?

Eu acabei de dizer que a gente está com pouquíssimos circos aqui em Fortaleza. O Reginaldo me falou que tem dois circos. Então, se a gente está só com dois circos aqui em Fortaleza, eu acho que o acesso deva ser pouco, porque está com pouco circo aqui em Fortaleza, por exemplo, mas no Ceará, quando eu fui pesquisar para fazer esse projeto, o presidente na época, que era o Motoca, me relatava que tinha cerca de 60 circos pelo Ceará. Depois da pandemia caiu para 30, e hoje eu não sei exatamente como está, mas está em torno disso, 30 circos, mais pelo interior. 

Do ponto de vista do festival, o festival é muito bem frequentado. A gente nunca teve problema com o público, nunca precisou investir em mídia paga para TV ou rádio para atrair o público, porque dá muito público. O festival em si não tem nenhum problema de acesso de público, o público é presente, é participativo, é bonito, são grandes rotas, a gente faz inteiramente gratuito e livre, acessível em libras, em áudio descrição, coloca acessibilidade para que seja realmente de todo mundo e para todo o mundo poder acompanhar a programação.

Fala um pouco sobre a programação do festival Internacional de circo do Ceará.

A programação está linda. A gente já começou. Desde julho que a gente faz atividades. Iniciamos em Fortaleza na primeira semana de novembro, de 1 a 05, no dia 06 a gente passou por Aquiraz, dia 08 em São Gonçalo do Amarante, 09 e 10 em Paracuru, 11, 12, 13 e 14 em Itapipoca e no dia 15 de novembro chegamos em Sobral. Além da programação que é dessas cidades por onde a gente circula, a gente ainda tem um circuito paralelo de programações que a gente fez show em parceria com outros festivais. Também tem as lonas que vão abrir no dia 20 de novembro, fazendo uma matinê em algumas cidades aqui do Ceará. Dia 15 a gente conclui nas cidades do circuito, mas ainda tem outras programações que é da programação paralela. É tudo livre, gratuito, acessível. Quem tiver tempo, vontade e desejo, é só chegar, acompanhar o nosso círculo.  Quem quiser pegar mais informações da programação pode acessar nosso site: www.festivalcircoceara.com e o instagram @festivalcircoceará

Você pode conferir nossas entrevistas no Spotify ou no nosso perfil no Anchor.

Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.

Edição: Camila Garcia