Há enorme desconhecimento dos órgãos competentes sobre a extensão destas contaminações e seus riscos
O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) expressa enorme preocupação com as informações apresentadas pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) e pela Cagece em audiência pública realizada no distrito de Trapiá, em Santa Quitéria, nesta segunda-feira (14), para anunciar que foram identificados índices de urânio nas águas acima do permitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Localizado a 70km da Jazida de Itataia, moradores do Trapiá tiveram três poços públicos lacrados e passaram a ter seu abastecimento público fornecido por carros-pipa em razão dos potenciais riscos à saúde humana. Além disso, afirma-se que haverá o aceleramento das obras referente a adutora proveniente do açude Araras, que substituirá o abastecimento de água no distrito.
Há enorme desconhecimento dos órgãos competentes sobre a extensão destas contaminações e de seus riscos à saúde. Ainda que tenham sido analisados três poços, há um número significativo de outros poços públicos e de uso particular para abastecimento humano e animal que não foram analisados. Além disso, não se sabe das potenciais afetações provocadas à produção local como leite, queijo, carne, frutas, verduras e legumes.
Ainda há impactos econômicos que não foram mencionados no tocante as famílias que serão obrigadas e deixar de utilizar a água de seus poços e deverão passar a consumir as águas provenientes do sistema de abastecimento público mediante o pagamento mensal destas faturas.
A comprovação da contaminação das águas por urânio de um distrito localizado a 70km do Projeto Santa Quitéria (Jazida de Itataia) reforça que o subsolo da região já apresenta muitos eventos de rochas uriníferas com relevante potencial de risco à saúde humana.
Reforçamos que a exposição à radiação de urânio não é segura à saúde humana, sobretudo quando ultrapassam os limites definidos pela OMS. Fica, ainda, tecnicamente comprovado, refutando o que o Consórcio Santa Quitéria insiste em afirmar, que rochas uriníferas emitem sim radiação a níveis prejudiciais à saúde e que, em um eventual cenário de licenciamento do Projeto Santa Quitéria, os danos à saúde, águas e solo poderão ser catastróficos.
Ainda que tais ações emergenciais tenham sido adotadas, o MAM defende que:
1. Que os laudos técnicos das análises realizadas pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará sejam publicizados;
2. Que a Sesa e a Cagece façam a análise das águas de todo o distrito de Trapiá, considerando os poços profundos de uso particular, cacimbão e toda e qualquer estrutura hídrica de uso particular e coletivo para abastecimento humano e animal;
3. Que seja realizado o sequenciamento genético das famílias do distrito de Trapiá para averiguar potenciais contaminações;
4. Que a Sesa e a Cagece façam a análise de todas as infraestruturas hídricas de uso particular e coletivo para abastecimento humano e animal de todos os distritos do município de Santa Quitéria, em especial, dos assentamentos Saco do Belém, Morrinhos, Queimadas e Alegre e Tatajuba, além das comunidades do entorno do distrito de Riacho das Pedras;
5. Que todas as análises de água realizadas pelo Consórcio Santa Quitéria sejam publicizadas e que, independentemente do resultado, novas análises sejam realizadas pela Sesa e Cagece;
6. Que seja realizado um estudo de base epidemiológica para que se estabeleça uma linha de corte que permita identificar a situação da saúde do povo de Santa Quitéria e região.
*Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Francisco Barbosa