Ceará

Visibilidade lésbica

Entrevista | “A sociedade tem um papel fundamental de combater a lesbofobia e LGBTfobia”

Sintia Gonçalves, do Coletivo LGBT Sem Terra do MST, conversou com o Brasil de Fato sobras a luta contra a lesbofobia

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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O Coletivo LGBT Sem Terra surgiu para combater todo tipo de violência, para conscientizar a classe trabalhadora que o sangue LGBT também é sangue Sem Terra. - Foto: Dowglas Silva

Agosto é o mês da visibilidade lésbica e neste mês temos duas datas marcantes. Uma é o dia 19 de agosto, que marca o Dia do Orgulho Lésbico e a outra data é o dia 29 de agosto, que celebra o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Mas como está a luta contra o preconceito e a lesbofobia no Ceará? Quais são as políticas públicas voltadas para esse público? Para responder essas e outras perguntas o Brasil de Fato conversou com Sintia Gonçalves, do Coletivo LGBT Sem Terra do MST, mulher negra e lésbica. Confira.

Qual a importância de se celebrar o mês da visibilidade lésbica?

O dia 29 de agosto é o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica no Brasil e foi criada em 1996 durante o Primeiro Seminário Nacional das Lésbicas, no Rio de Janeiro, um evento que foi Marco Histórico para o movimento lésbico no Brasil, e aí deu início a luta pelo direito das lésbicas, por dignidade e pela nossa autonomia, combater o patriarcado, combater todos os tipos de violência.

E no estado do Ceará, há alguma programação específica para este mês?

Aqui no estado do Ceará, nós fazemos roda de conversa para sistematização da nossa pauta, fazemos debate contra a violência contra a lésbica, pinturas, atividades culturais. No campo fazemos ação de solidariedade, roda de conversas, atividades culturais e, principalmente, o debate da nossa existência e resistência.

Qual é a importância da visibilidade lésbica no campo?

A importância que se tem é que é uma data em que nós, lésbica, comemoramos, mas também pautamos a nossa reivindicação para o poder público, onde fazemos roda de conversa com as mulheres do campo, da nossa realidade, do combate à violência. É onde nos encontramos, nos abraçamos, comemoramos, mas não deixamos a luta de lado.

Quais são os maiores desafios para as mulheres lésbicas no Ceará?

Um dos nossos maiores desafios são os debates, nossa participação, nossa autonomia nas reuniões, nas plenárias onde muitas vezes nós temos que nos impor para que a gente tenha esse espaço e sejamos reconhecidas e, principalmente, nós do campo, onde o patriarcado é muito forte, o conservadorismo, mas nós lutamos para que nós possamos ser vistas. No MST nós tivemos um avanço muito grande através do Coletivo LGBT Sem Terra, que nos ajudou a nos encorajarmos a participar da assembleia e ter o nosso espaço na cooperativa e nas escolas do campo.


Promover a visibilidade lésbica e exigir o reconhecimento de suas subjetividades constituem-se em estratégias de resistência e práticas de liberdade / Reprodução

O que é a lesbofobia?

A lesbofobia é um tipo de discriminação que nós, mulheres lésbicas sofremos no nosso dia a dia pelo fato da sociedade não aceitar que mulher pode amar outra mulher, e aí a gente sofre essa discriminação onde a cada dia tentamos abordar através dos debates e através da nossa autonomia como mulher, principalmente no campo, que no campo o patriarcado é muito forte e nós, mulheres lésbicas, queremos ter o nosso espaço na sociedade.

E como a sociedade pode contribuir para a extinção da lesbofobia e de outros preconceitos e crimes relacionado às lésbicas?

A sociedade tem um papel fundamental de combater a lesbofobia, LGBTfobia e todos os tipos de fobia através da conscientização, através de cartazes e, principalmente, fazer que se tenha uma lei de criminalizar todo tipo de preconceito.

Quais foram as conquistas que a luta já garantiu para as mulheres lésbicas no Ceará?

As conquistas foram os quintais produtivos, o Fomento Mulher, onde elas vão estar fazendo seu próprio projeto, as cozinhas solidárias do governo do estado. Nós temos vários grupos de mulheres que têm cozinhas solidárias.

Qual o papel dos movimentos populares para as pautas de lutas e garantias de direitos e visibilidade das mulheres lésbicas?

A nossa principal tarefa, nós de movimentos populares do campo e da cidade, é ocupar o poder público, é reivindicar os direitos, é fortalecer a nossa pauta, é trazer projetos produtivos, principalmente para o campo, e debater a importância da agroecologia. Quando eu debato com as companheiras, eu sempre digo: ‘mulheres lésbica com agroecologia’, porque nós, do campo, necessitamos de apoio, necessitamos de projetos para que a gente ocupe as nossas companheiras com a produção.

Além do Mês da Visibilidade Lésbica, também estamos no Agosto Lilás, que se refere ao Mês de Combate à Violência Contra a Mulher. Fala um pouco sobre a realidade da violência contra a mulher no Ceará, principalmente em relação à violência contra a mulher lésbica.

Nós fazemos atividades, principalmente o ‘Basta de Violência Contra as Mulheres’, tanto no campo como na cidade, e também a gente faz assembleias nas praças, ocupamos a Assembleia Legislativa para que a gente possa ser atendida na pauta do ‘Basta de Violência Contra as Mulheres’, porque aqui no Ceará o índice de violência é muito grande, tanto para as lésbicas como para as companheiras trans, que a cada dia a mortalidade vem aumentando, e aí a gente vem tentando conscientizar essa sociedade através das redes de comunicação. No campo a gente é reúne as mulherada, fazemos o debate, na cidade a gente faz pauta para fortalecer a Delegacia da Mulher para que, realmente, essa delegacia aconteça, que as nossas mulheres possam denunciar, porque a violência não é só física, tem vários tipos de violência, e aí nós nos reunimos, o grupo de mulheres, o coletivo de mulheres, o coletivo de lésbica, e a gente faz essa conscientização.

Você faz parte do Coletivo LGBT Sem Terra do MST.  Fala um pouco sobre as ações e a organização desse coletivo.

O Coletivo LGBT tem ações que fazemos contra a LGBTfobia em todo o Brasil e na América Latina, através da Via Campesina; combate à violência, juntamente, também, com as companheiras do setor de gênero aonde a gente faz trabalhos nos nossos assentamentos, nos nossos acampamentos; da importância do debate da lesbofobia, de ‘Basta de Violência contra as Mulheres’, que no campo é mais acirrado, no campo, a realidade, onde o machismo é mais forte, mas nós do Movimento Sem Terra todo dia a gente conscientiza uma companheira. 

O Coletivo LGBT Sem Terra surgiu para combater todo tipo de violência, para conscientizar a classe trabalhadora que o sangue LGBT também é sangue Sem Terra, que no campo existe LGBTs, existe lésbica, existe trans e a nossa principal tarefa é debater a importância, é mostrar para os trabalhadores que devemos romper a cerca e devemos viver e devemos amar qualquer pessoa.

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Edição: Camila Garcia