Ceará

INCENTIVO AO ESPORTE

Conheça a Taça das Favelas, maior torneio de futebol de campo entre favelas

Neste final de semana, Fortaleza recebe as etapas conhecidas como “peneiras” femininas e masculinas.

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |
Bola usada na fase de grupos da Taça das Favelas São Paulo Série A - 2024 - Flávio Lima

Realizada pela primeira vez em 2012, a Taça das Favelas é um importante torneio de futebol entre favelas e considerada a maior do mundo. Organizada pela Central Única das Favelas, a Cufa, e pela Frente de Assistência à Criança Carente (FACC), a competição tem por objetivo promover a inclusão social de centenas de jovens por meio do esporte, influenciando positivamente a realidade dessas pessoas, além de revelar grandes talentos dentro da modalidade esportiva.

O presidente da Central Única das Favelas, Wilton dos Santos, conhecido como Piqqueno, afirma que o esporte pode desempenhar um papel fundamental na formação dos jovens, especialmente em comunidades como as favelas, onde as oportunidades podem ser limitadas. Ele ressalta ainda que a prática esportiva ensina valores importantes como disciplina, respeito, honestidade, trabalho em equipe, e perseverança. “Esses valores são essenciais para o desenvolvimento do caráter dos jovens e os ajudam a construir uma rede de apoio na comunidade, e ao alcançar conquistas no esporte, esses jovens sentem-se valorizados e capazes”, afirma.

Além de destacar o desenvolvimento de valores que o esporte traz para a vida dos jovens atletas, o presidente da Cufa afirma que o esporte vai para além de uma atividade física que traz benefícios ao corpo, e aponta a prática esportiva como ferramenta abrangente de desenvolvimento pessoal, e uma oportunidade de inclusão social, permitindo que jovens de comunidades marginalizadas participem de uma competição que valoriza suas habilidades e talentos.

O técnico esportivo, Paulo Bruno, também acredita na força dos projetos sociais e do esporte como agente transformador da vida da juventude que vive nas favelas brasileiras, e aponta que a taça é um momento único e crucial, não só para o atletas, mas também para as famílias e adultos, que têm o prazer de participar da competição de nível mundial. Ademais, Paulo também assume que o evento traz grandes impactos para a vida profissional, enquanto técnico ele revela que se sente lisonjeado por participar da competição e isso o faz acreditar no esporte enquanto ferramenta de transformação social, e que não fraqueje diante os desafios existentes para realização do torneio.


Etapa feminina e masculina nas cidades de Aquiraz e Maracanaú, respectivamente / Divulgação

Com o passar dos anos, a competição ganhou ainda mais destaque no cenário mundial, tendo sua importância reconhecida por grandes craques do futebol nacional como Zico, Júnior, Bebeto e Romário. Aqui no estado, para participar da competição, um dos principais critérios é que os atletas residam em favelas do Estado do Ceará e em cidades próximas à Fortaleza, Crateús, Sobral e Juazeiro do Norte. Nesta edição da Taça, a expectativa é que o evento impacte diretamente 8 mil jovens e crianças e, indiretamente, entre 25 e 30 mil.

Questionado pelo BdF Ceará sobre as perspectivas para a realização de mais uma edição da Taça das Favelas, o presidente da central revela que muitos jovens que participam do evento esportivo sonham em seguir carreira no futebol, e por isso, a taça serve como uma vitrine para olheiros e clubes de futebol, aumentando as chances de esses talentos serem descobertos e conseguirem oportunidades profissionais. Neste sentido, Piqqueno confessa que as expectativas para a chegada do torneio e revelação de novos talentos são altas. Além disso, assegura ainda que a Cufa busca outras perspectivas de ver a realização da taça, como formação de Lideranças e redução da violência proporcionando uma alternativa construtiva e saudável para os jovens.

A bicampeã da Taça das Favelas e atualmente jogadora do time da Favela Bela Vista/MDO, Andréia Monteiro, revela que as expectativas para esta edição da taça são uma das melhores. “Esse ano eu não vou jogar pelo time que sou bicampeã, esse ano eu vou jogar para outro time, porque, assim, novos desafios são sempre bem-vindos, e a gente que é atleta, a gente gosta disso. Esse ano eu vou jogar para outra favela. E eu estou muito ansiosa e tenho muita confiança no meu time”, aponta.


Etapa semifinal da Taça das Favelas 2023 / Michel Andrade

Apesar da animação com a aproximação do evento esportivo, Andréia destaca alguns desafios principais em relação a participação no torneio, e acredita que o principal deles é a ausência de apoio, sobretudo no futebol feminino. “Eu conheço muito o futebol feminino de outros estados e aqui no Ceará, o futebol feminino não é valorizado como deveria ser, são muitos desafios! A grande maioria das meninas, trabalham, treinam e jogam. Eu não tenho o futebol como um trabalho próprio, e as meninas que eu conheço também possuem seus trabalhos, e tentam conciliar com os treinos e jogos”, relata.

Mesmo com a rotina cansativa de conciliar o trabalho com os treinos e jogos, Andréia não esconde o amor pelos campos e quadras, e acredita que muitas mudanças deverão acontecer em breve para melhorar a cena do futebol feminino no Ceará.

Congresso Técnico da Taça das Favelas 

Para que a etapa estadual do torneio aconteça, as capitais brasileiras realizam o Congresso Técnico, momento voltado para treinadores, jogadores, dirigentes e outros profissionais do futebol. Aqui no Ceará, o congresso aconteceu na última terça-feira (6), no Cuca Mondubim. O evento, que foi aberto ao público, permitiu que os profissionais pudessem debater vários aspectos do esporte, como táticas e estratégias de jogo, preparação física, análise de desempenho, gestão de equipes e até desenvolvimento de jovens talentos.


Congresso Técnico Fortaleza da Taça das Favelas - Um gol pra toda vida / Divulgação

O congresso contou ainda com a participação do diretor da Fundação Cultural Nipônica Brasileira (FCNB), Daniel Braga, que ao lado de treinadores, jogadores e autoridades, celebrou o esporte como um poderoso agente de transformação social e revelou o orgulho de construir o evento ao lado da Cufa. “Vamos juntos promover a inclusão e o desenvolvimento social através do futebol!”, afirmou o diretor.

Etapa das Peneiras

Em Fortaleza, as etapas conhecidas como “peneiras” femininas ou masculinas, irão ocorrer neste e no próximo final de semana, entre os dias 10 e 11, e 17 e 18 de agosto. Já na Região Metropolitana (Maracanaú, Caucaia, Maranguape e Aquiraz), o momento já ocorreu no último final de semana, em 3 e 4 de agosto, e envolveu mais de 500 atletas.  Por fim, a seletiva estadual está programada para os dias 24 e 25 de agosto, a semifinal para 31 de agosto e a final estadual no dia 21 de setembro.

Na categoria masculina, as equipes são compostas por jovens nascidos a partir de 2005. Já na categoria feminina, as equipes contam com jovens com idade igual ou superior a 14 anos.

A jovem atleta bicampeã ressalta que a preparação para as etapas da taça das favelas vem desde o início do ano, uma vez que não se limita somente à fase estadual, mas também implica na possibilidade da disputa nacional, realizada anualmente em São Paulo, com exceção desta edição, marcada para acontecer no Rio de Janeiro. “A gente faz um mês de preparo físico e depois vamos juntando peças, e o que seria juntar peças? É buscar meninas interessadas em jogar a taça das favelas, em ser reconhecida, em ter um sonho de ser uma atleta profissional, entende”, finaliza.

Na edição 2024 da taça das favelas, serão premiadas as três primeiras equipes colocadas, nas duas categorias. Ao todo, mais de 100 mil jovens já participaram da competição nas edições realizadas em várias cidades do País. Tudo começa nas peneiras internas realizadas nas comunidades e vai até a grande final. No Ceará, a competição conta com o patrocínio do Governo do Estado, Prefeituras de Fortaleza, Maracanaú e Caucaia e Fecomércio Ceará, além do patrocínio da TV Verdes Mares. 

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Edição: Camila Garcia