A Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT-CE) está com um novo nome na presidência: Lucia Maria Silveira de Queiroz. A então diretora estadual assumiu a cadeira da entidade no início de junho, após o pedido de afastamento entregue pelo metalúrgico e agora ex-presidente, Will Pereira, licenciado para concorrer às eleições municipais de 2024.
No programa dessa semana, o Brasil de Fato Ceará conversou com Lucia Silveira sobre a luta dos trabalhadores, a atuação da entidade no Ceará e as perspectivas para os próximos meses. Confira:
Lúcia, explica para a gente o que é a CUT e qual o papel dela na luta dos trabalhadores?
A Central Única dos Trabalhadores, a CUT, é uma organização sindical brasileira de massa, classista e que tem a defesa histórica dos interesses da classe trabalhadora. É representar sindicalmente e dirigir a luta dos trabalhadores do campo e da cidade. No setor público, no setor privado, ativos e inativos, por melhores condições de vida e de trabalho para uma sociedade justa e democrática.
E, nós da CUT, somos a maior central sindical do Brasil e a quinta maior da América-Latina. Nós somos a central que representa mais trabalhadores no Brasil. Nós temos hoje 3806 entidades filiadas no Brasil, no Ceará nós temos mais de 320 sindicatos filiados a CUT, sejam sindicatos do campo, rurais, municipais, de todas as categorias nós temos sindicatos filiados.
E como tem se dado a organização dos trabalhadores nesse novo período, desde o início dos governos Lula e Elmano?
Nos dá um pouco de ânimo de termos um governo progressista que muitas vezes são de pessoas que foram próximas a central, e entendemos que será mais fácil o diálogo, mas isso não deixa que a CUT não cumpra o seu papel. Nós precisamos sempre estar tentando dialogar, reivindicando as melhores condições de trabalho, tanto no setor público como no setor privado, como no caso do governo do setor público. Então, se nós não fomos atendidos como achamos que devemos, nós vamos para às ruas, vamos fazer greve e manifestações, porque nós temos que cumprir o papel da CUT independente do governo, quem estava hoje mais próximo da gente, mas agora ele cumpre o seu papel, e nós vamos continuar cumprindo o nosso papel enquanto Central Única dos Trabalhadores.
Nós acreditamos que o governo esteja de portas abertas para nos receber, mas isso não faz com que a gente fique parado, nós vamos seguir fazendo manifestações e reivindicações, tanto quanto a greve dos professores federais e estaduais ainda está em vigor. Enquanto não se tem uma boa negociação para os trabalhadores, nós entendemos que seja justa a greve não acabar. Então nós não olhamos quem está lá, nós achamos que quem está lá deve nos receber com mais facilidade, apesar de avaliarmos que tenha sido, porque em outros governos não conseguimos ter nenhuma negociação mínima. Porém, a gente precisa entender que sentar para negociar não significa que vamos ter resultados que a categoria queira e esteja pedindo de reajuste percentual, porque envolve muito mais que a questão salarial, mas também a saúde, a precarização do trabalho, a terceirização. Então assim, a CUT não olha quem está lá, a gente olha sempre para os trabalhadores e trabalhadoras.
Outro ponto importante é a valorização do salário mínimo, bandeira de luta antiga da CUT que a gente nunca deixa de lado, porque precisamos sempre estar atentos, assim como nunca deixar que os aposentados e aposentadas percam a luta pelo reajuste do percentual, porque esse reajuste é também sobre uma segurança financeira que esse público vai ter. Então a gente precisa avançar muito ainda na construção de uma agenda de lutas, pois a CUT não vai estar parada, nenhuma central sindical tem parado, muito pelo contrário, a gente tem se reunido com o governo e outras centrais sindicais, propondo mesas de negociação para que possamos dialogar e propor reajustes que satisfaçam os desejos da classe trabalhadora.
No que diz respeito a reorganização do trabalho, como a CUT tem avaliado o processo de uberização do trabalho?
Nós sabemos que o processo de uberização do trabalho está passando agora por um processo de conscientização. Os trabalhadores de aplicativos sempre falam que são seus próprios patrões e donos do próprio trabalho e do seu tempo, quando na realidade eles não possuem direito a nada, a nenhuma garantia de direito para quando ficarem doentes, não possuem direitos a licenças trabalhistas remuneradas. Então nós estamos organizando esses trabalhadores com a criação de sindicatos que possam dialogar diretamente com o governo federal e reivindicar seus direitos trabalhistas, porque na realidade, o patrão de quem trabalha com aplicativos de entrega, é a própria plataforma.
Então a gente precisa organizar sindicatos em todo o Brasil, principalmente aqui no nordeste, e já temos enxergado algumas movimentações e representações dessa categoria, para iniciar o processo de negociação para as plataformas oferecerem auxílio doença, contribuição previdenciária para aposentadoria, além da implantação de um horário fixo de trabalho para esses trabalhadores e trabalhadoras. Então, nacionalmente a CUT tem organizado os trabalhadores por aplicativo para a construção de sindicatos da categoria, para que a gente possa avançar nessa luta e conquistar mais direitos para os trabalhadores de aplicativos, que vão além dos motoristas e entregadores da Uber.
E Lúcia, qual a avaliação que você tem em relação a greve dos professores e técnicos administrativos, e as negociações que ambas as categorias têm realizado com o governo federal?
Nós estivemos acompanhando através das entidades filiadas que nós apoiamos e achamos que é legítimo a categoria sustentar a greve. Nós já lançamos nota de apoio, já participamos das atividades, nos colocamos à disposição da categoria, dos sindicatos que precisarem da gente, porque nós sabemos que a representação oficial dos trabalhadores de fato é o sindicato, e a CUT apoia fortemente a decisão da categoria em permanecer em estado de greve.
Agora, com a posse da nova presidência da CUT, quais são as perspectivas da entidade para os próximos meses?
Dar continuidade ao trabalho que o ex-presidente Will Pereira vinha realizando desde o início de sua gestão à frente da Central. Nos próximos dias estaremos participando de um evento com as representações de sindicatos de todas as centrais da Região Nordeste, e que vai ser encerrado no próximo dia 25, com o Fórum da CUT Nordeste, reunindo representações das nove centrais da região em Fortaleza, às 14h, para discutir o financiamento sindical e o lançamento da plataforma da classe trabalhadora do nordeste, fruto de um ciclo de debate que nós fizemos com o nordeste.
O Fórum da CUT acontece exatamente para que todas as centrais daqui do nordeste possam dialogar sobre o lançamento da plataforma da classe trabalhadora do nordeste. E como surgiu o lançamento desta plataforma, a ideia de construí-la? A gente, e quando falo nós me refiro a CUT Nordeste como um todo, percebemos que a dificuldade que tínhamos de deixar na responsabilidade das Regiões Sul e Sudeste pensar as ações e organização dos trabalhadores no nordeste, então os presidentes da CUT nordeste juntamente com a Escola de Formação Maria de Paiva de Morais, em Recife (PE), na qual eu sou uma das coordenadoras, iniciamos o debate sobre a necessidade de pensarmos de forma mais próxima e pontual as problemáticas da nossa região, então, por exemplo, o debate sobre a transição justa da usina eólica. Como é que nós vamos pedir para o Sul e Sudeste discutir a usina eólica do nordeste se nós do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco é quem sentimos os impactos direto da implantação desse tipo de energia com as hélices gigantescas?
Daí nós entendemos que precisávamos trabalhar o desenvolvimento do nordeste dentro do próprio nordeste, seja dialogando com organizações parceiras ou com o consórcio dos governadores, e até mesmo diretamente com os trabalhadores através dessa plataforma. Nós trabalharemos na plataforma o estudo fruto do ciclo de debate que nós tivemos com o professor Roberto Veras e com o professor Valmor, da Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a DIEESE, onde debatemos cinco eixos de trabalho: eixo um - defesa e direitos que garanta vida digna para os trabalhadores; eixo dois - defesa da democracia, participação popular, inclusão social e pluralidade; eixo três - valorização do trabalho, garantia do emprego e das condições de trabalho; eixo quatro - defesa da mulher trabalhadora; e eixo cinco - estudo indutor do desenvolvimento regional sustentável.
Então esses foram os eixos discutidos e que nós vamos trabalhar na plataforma, a qual esperamos que vereadores, prefeitos e demais parlamentares que recebam, possam extrair o que eles mais se identificarem e coloquem como suas bandeiras de luta dentro da luta institucional.
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Edição: Lívio Pereira