Ceará

Pratinho Cearense

Festival do Pratinho: de onde vem a cultura da iguaria que já é quase um patrimônio cearense?

O evento acontece neste sábado e domingo e conta com mais de 20 expositores com pratinhos que variam entre R$10 e R$20.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Hoje encontramos pratinhos pra lá de variados, dos tradicionais às releituras, incluindo opções veganas, sem glúten e sem lactose. - Fernanda Siebra

Arroz branco, baião, creme de galinha, vatapá de frango, paçoca, salada de maionese. Quem é do Ceará sabe que o conjunto descrito acima compõe uma famosa iguaria, típica da nossa região: o pratinho. O insumo arrasta fãs país à fora e faz dos festejos juninos uma das épocas mais aguardadas do ano para se deliciar com o quitute. Mas brilhar por apenas um mês não foi o suficiente, e o pratinho alçou voo para além do período e virou fonte de renda e sabor o ano inteiro por aqui. Tanto que ganhou um festival pra chamar de seu: a 2º edição do Festival do Pratinho acontece neste sábado (20) e domingo (21), na Estação das Artes.

E foi justamente com o pratinho, que a paulistana Ana Paula Kitaka começou a trilhar sua carreira como empreendedora. Há 9 anos, ela e a mãe conheceram a iguaria, pesquisaram os insumos, entenderam a importância do pratinho e investiram nele como forma de compor a renda familiar. “Com a convivência a gente aprendeu a fazer os pratinhos, ver a melhor forma, ver como as pessoas gostavam e fomos adequando conforme a necessidade, como por exemplo os pratinhos sem lactose, já que vimos que muitas crianças tinham essa restrição. E assim foi crescendo a nossa fama pela comida boa, pela comida gostosa, sempre fresquinha”, conta a empreendedora que há quase uma década vende seus pratinhos na Praça Luíza Távora.

E é isso, basta uma voltinha pelas praças das cidades para se deparar com a clássica cena: uma mesa, alguns banquinhos e nas panelas a fartura de encher os olhos – e alma: “são servidos juntos, em uma cumbuca, uma combinação de ingredientes principalmente provenientes da comida do sertão, como baião, vatapá, farofa; e que ganha ao longo do tempo releituras e novos sabores”, explica Marina Araújo, diretora do Mercado AlimentaCE.

E ganhou: hoje é possível encontrar os mais diversos itens compondo essa cumbuca, com sabores e o frescor de cada região. Com isso, não é possível descrever um dito pratinho “original”, pois ganhamos exemplares em todo o estado e em cada município temos referências e sabores diferentes. “Nas regiões litorâneas, por exemplo, o dito original são os pratinhos com frutos do mar, que são vendidos em pracinhas com insumos frescos e a preços populares. Isso segue sendo, para aquela região, uma originalidade. Além disso, temos outras releituras a depender de cada fornecedor que vão se adequando ao tempo e às necessidades, como é o caso dos pratinhos veganos, por exemplo”, pontua Marina.

E é do mar que dona Maria Edinete retira os insumos fresquinhos que compõem o seu pratinho. O baião de polvo, inclusive, foi o responsável por fazer a empreendedora ganhar fama numa pracinha de Icaraizinho de Amontada. Além do baião, tem moqueca e vatapá de camarão, moqueca de arraia, ensopado de lagosta, coisa chique, mas com preço acessível, já que ela compra os produto direto do pescador, regalias de quem mora, praticamente, dentro do mar. “Essa cultura não pode deixar de existir, que o pratinho de rua é o primeiro lugar, serve todo mundo, do rico ao pobre, todo mundo come pratinho”, defende uma dona Edinete orgulhosa do trabalho que executa. Os pratinhos vendidos na praça custam entre R$20 e R$25 e valem cada centavo, segundo contam as boas línguas que já dele o provaram.


A cultura do pratinho vem da necessidade de ter uma opção que seja nutritiva, que tenha sustância, mas que também tenha um preço bom, e que caiba no bolso de todo mundo. / Fernanda Siebra

Origem
O certo é que ele conquistou o coração e o paladar do cearense, e já nem é possível precisar sua origem, tamanha diversidade e inserção do insumo por aqui. “Não há bem ao certo uma data ou período específico de surgimento do pratinho. A cultura do pratinho vem da necessidade de ter uma opção que seja nutritiva, que tenha sustância, mas que também tenha um preço bom, e que caiba em vários bolsos. Precisar quando ele surgiu é difícil, pois a cultura alimentar das pracinhas é bem antiga, e a “comida de panela” sempre esteve presente. A nossa cultura é uma cultura de fartura, e mesmo sendo uma cumbuca relativamente pequena, cabe o suficiente para fazer feliz um buchinho cearense”, defende Marina que, claro, também é fã do item de desejo.

O festival
A primeira boa notícia, é que dona Edinete e Ana Paula estarão nesta segunda edição do evento, que vai contar com mais 20 expositores – da capital e outras regiões do estado – ou seja, é a possibilidade de o público poder conhecer um pouquinho da diversidade de sabores que compõe a iguaria. A segunda boa notícia é que para esta edição o festival conta com dois dias de evento e, além da atração principal – o pratinho - , tem ainda muita música e programação para a criançada (no domingo).

“O fortalecimento da ideia de que pratinho é sim um elemento forte da economia criativa, é sem dúvidas um dos ganhos desse evento, pois está no DNA do Mercado AlimentaCE o empoderamento das linguagens gastronômicas que durante muito tempo ficaram escondidas por trás da economia tradicional. Nosso papel como política pública é também valorizar devidamente o material humano que protagoniza esse saber. Sem contar que movimenta significativamente aquilo que chamamos de comércio local, que é o que podemos quantificar, mas gostaríamos de evidenciar que toda essa mídia direcionada para os pratinhos fomenta e valoriza o segmento em todo o estado, salienta Marina Araújo sobre o evento que fez grande sucesso em sua primeira edição.

E opções é o que não vão faltar para compor o pratinho de quem for à estação neste fim de semana, já que os cardápios dos expositores conta com pratinhos pra lá de variados, dos tradicionais às releituras, incluindo opções veganas, sem glúten e sem lactose.

Programação
Sábado(20/07) - 17h às 22h
●  Feira Gastronômica + Comedoria - 17h às 22h
●  Cerimonial de Abertura - 17h30
●  Iara Pamella e banda - 18h às 19h30
●  Vanessa A Cantora na Estação das Artes - 20h às 22h
Domingo(21/07) - 10h às 16h
●  Feira Gastronômica + Comedoria - 10h às 16h
●  Atividade Infantil - 11h às 12h
●  Forró Tá Bonito Para Chover (parceria Sesc)- 11h às 13h
●  Pavão do Acordeon - 13h30 às 15h30

Sobre o Mercado AlimentaCE
O Mercado AlimentaCE é um espaço para vivenciar o Ceará de Comer. Um dos equipamentos públicos que integram o Complexo Cultural Estação das Artes, em Fortaleza, é um lugar para experimentar, aprender sobre e adquirir alimentos cearenses de qualidade, que contam histórias e trajetórias de toda a cadeia produtiva local. Tem como diretriz ser um polo de referência gastronômica no país e valorizar a gastronomia e a cultura alimentar.

Serviço
2ª Edição do Festival do Pratinho no Mercado AlimentaCE
Quando: Sábado, 20 de julho, de 17h às 22h e domingo, 21 de julho, de 10h às 15h30
Onde: Mercado AlimentaCE (Rua Dr. João Moreira, 540 – Centro, dentro do Complexo Cultural Estação das Artes)
Acesso gratuito mediante a doação de 1kg de alimento não perecível.

 

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Edição: Lívio Pereira