Consagrado pela crítica e pelos leitores e considerado um dos mais importantes romances da literatura nacional, o livro “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, se volta às origens do Recôncavo Baiano para recriar quase quatro séculos da história do país por meio da saga de múltiplos personagens. Nele, realidade e ficção se misturam para criar um épico brasileiro com passagens heroicas e cômicas, tendo como pano de fundo momentos decisivos para a história do país, como a Revolta de Canudos e a Guerra do Paraguai. Agora, completando 40 anos desde sua primeira publicação, o livro ganha os palcos em uma versão musical, que chega à Fortaleza neste fim de semana, no Cineteatro São Luiz.
Com direção de André Paes Leme, músicas originais de Chico César e direção musical de João Milet Meirelles – da banda BayanaSystem, “Viva o Povo Brasileiro” [de Naê e Dafé] fala sobre uma alma que queria ser brasileira. “A adaptação começa com um grande estudo do livro, um estudo minucioso, detalhista, tentando entender todas as linhas possíveis de construção de um espetáculo. A ideia primeira é de construir mais do que um espetáculo, fazer uma tetralogia, uma trilogia. Então essa primeira fase que a gente adaptou é só o primeiro ciclo do livro, ainda tem muita coisa pela frente”, adianta Leme.
Mas adaptar uma obra grandiosa não só em importância, como também em volume, é um desafio. É o que explica o diretor do espetáculo cênico: “o maior desafio de uma adaptação de um romance dessa extensão é você conseguir encontrar a melhor síntese para aquelas quase 3 horas de espetáculo. É você conseguir puxar um fio e trazer ele até o final construindo expectativa, interesse, fazendo o público identificar, reconhecer, passar a entender a trama, os seus objetivos principais e, ao mesmo tempo, emocionar, divertir, trazer uma reflexão profunda como a literatura propõe muitas vezes. Mas o maior desafio é, talvez, encontrar o recorte certo”, confessa Leme.
E encontrou, no vídeo promocional que tem cerca de 10 minutos é possível já se encantar e se emocionar ao adentrar as histórias contadas na trama. Beleza, tristezas, alegrias, se misturam aos belos figurinos e atuações dignas de uma epopeia.
“O processo começa com a escolha desses limites, dessas balizas, e depois de definido isso a gente começa a identificar as personagens que não podem deixar de estar presente, as sínteses que são necessárias, mas sempre respeitando muito a obra. Entendendo também que toda adaptação não deixa de ser uma traição, toda transposição pra um outro tipo de formato daquela obra original é, em parte, uma traição. Mas quem for assistir entenderá e reconhecerá todo o material literário dentro do espetáculo”, garante o diretor.
Ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura, a obra inspirou o samba-enredo da escola de samba Império da Tijuca, no Carnaval carioca, em 1987. A trama é ambientada em Itaparica, na Bahia, e percorre 400 anos da história do Brasil, acompanhando uma alma em busca da identidade brasileira, que encarna em personagens invisibilizados pela história. A construção dos abismos sociais é mostrada através das figuras de Caboclo Capiroba, o Alferes e Maria Dafé, que transformam suas dores em heroísmo e demonstram a força da ancestralidade que percorre a formação do nosso povo.
“Viva o povo brasileiro é um romance muito importante, ele faz uma visita a toda a formação da nossa sociedade, ele traz a discussão sobre o que foram os nossos primeiros anos de existência enquanto Brasil, as questões dos povos originários, as questões seríssimas que a colonização trouxe num movimento de muita repressão, de muita intolerância, de muita exploração dos povos afrodiaspóricos, da cultura africana, ele traz a força da mulher. Eu diria que a importância desse livro, 40 anos depois que foi escrito, está o tempo todo recuperando pro nosso leitor, pro nosso espectador o quanto devemos buscar uma sociedade justa. Com equidade, com igualdade. Que Brasil é esse que construímos e que queremos ainda construir?”, questiona o diretor falando sobre a importância da adaptação da obra para o musical, que promete não só encantar o público, como levar a nossa história contada sob a ótica de Ribeiro para muito além das fronteiras literárias.
O espetáculo conta com 30 músicas originais compostas por Chico César, a partir de letras inspiradas ou que utilizam parte textual da obra original. “Para compor as músicas, eu parti da palavra do escritor e busquei a sonoridade da escrita. Trouxe muito da minha formação intuitiva da música negra, brasileira, baiana, porque o livro se passa em Itaparica e Salvador. Fiquei feliz quando soube que era o João Meirelles quem seria o diretor musical, porque o BaianaSystem é o grupo com maior expressão dessa contemporaneidade da música negra brasileira”, conta Chico César.
Em seu segundo trabalho com o teatro musical, João Milet Meirelles trouxe para “Viva o Povo Brasileiro (de Naê a Dafé)” uma construção coletiva com referências da música baiana contemporânea e da tradicionalidade. “Existe também um apontamento para o futuro. Tem muita percussão, cordas, sanfona, piano. São três músicos e um elenco também muito competente musicalmente. Tem essa diversidade como uma linha que vai conduzindo tudo. É uma construção coletiva com o processo de experimentação”, define João.
No elenco, estão Alexandre Dantas, Guilherme Borges, Izak Dahora, Jackson Costa, Júlia Tizumba, Luciane Dom, Maurício Tizumba, Sara Hana. Além do elenco fixo, o espetáculo tem um coro composto por atores iniciantes/estudantes, que ajudam a dar vida a essa epopeia.
“O espetáculo é divertido, é comovente, é crítico, é forte, ele tem vários momentos emocionantes, muito fortes, mas é também, eu acho que, acima de tudo, um convite a uma discussão sobre a sociedade brasileira, é o que o próprio livro se propõe. Ninguém sai desse espetáculo como entrou. Eu acho que é um espetáculo necessário e importante para o público”, finaliza Leme.
Musical Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé)
Dias 12, 13 e 14 de julho. Sexta e sábado às 19h e Domingo às 18h no Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500, Centro, Fortaleza-CE). Ingressos à venda na bilheteria do Cineteatro e na plataforma Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/95088/d/261559?share_id=1-copiarlink). Plateia Inferior 1 (Fileira A a J): R$ 120,00 e R$ 60,00 (meia); Plateia Inferior 2 (Fileira K a U): R$ 80,00 e R$ 40,00 (meia); Plateia Superior: R$ 39,00 e R$ 19,50 (meia).
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Edição: Camila Garcia