No último domingo (02), a tradicional Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, em Barbalha, ganhou ares de protesto. Cerca de 200 professores e técnicos-administrativos, das diversas universidades públicas cearenses, saíram acompanhando o cortejo que reuniu mais de 70 grupos de cultura popular tradicional, cobrando prioridade para a educação e reivindicando que o presidente Lula (PT) e o Ministro da Educação, Camilo Santana (PT), assumam diretamente as negociações com os grevistas.
A manifestação, no entanto, não acontece somente este ano. Nas edições anteriores da festa popular, movimentos populares, sindicais e organizações políticas já realizaram reivindicações em outros âmbitos, com o objetivo de dialogar com a população presente no evento e também de ter acesso a mídia, é o que afirma a professora da Universidade Regional do Cariri (URCA), militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), do Movimento Negro Unificado (MNU) e sindicalista, Zuleide Queiroz. “Todos os anos nós participamos da festa do Santo Antônio, na verdade, de todas as festas que acontecem na região do Cariri e no Ceará como um todo, como uma das possibilidades da gente dialogar com a população. Já faz bastante tempo, eu acredito, que há uns oito anos que a gente tem atuado na festa, nesse sentido do diálogo, de ter acesso à mídia, de ter acesso à população”.
O ato foi realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (SINTUFCe), ligado à Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA), e contou com a participação do Sindicato dos e das Docentes da Universidade Regional do Cariri (SINDURCA), ligado ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN); do Sindicato dos Servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (SINDSIFCE), ligados ao Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE); e do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC-Sindicato). Além de docentes e técnicos administrativos, o ato contou ainda com a participação de estudantes universitários, que neste momento reivindicam a ampliação de políticas de permanência estudantil nas universidades cearenses.
A professora ressalta ainda a necessidade em aproveitar momentos de festa para dialogar e discutir com a população a importância da greve para o cenário político educacional do Ceará. Zuleide destaca que em termos de competição, de premiação, de primeiros lugares no ensino médio, no âmbito nacional, o Ceará possui grande referência, mas, ao mesmo tempo, se encontra em um processo educacional sucateado. “A educação no Ceará tem resultados positivos? Pode ter, mas no balanço geral, se a gente pensar em educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e superior, a gente tem muito ainda que avançar. E isso é importante que a gente veja, não só no sentido dos números, mas a qualidade do ensino”, afirma.
Ao longo do cortejo que se seguiu pelas ruas de Barbalha, os docentes reivindicaram o direito à reposição salarial e, no caso específico do Ceará, a data base - momento em que o governo todo ano apresenta um valor que possa cobrir a inflação. O valor da reposição apresentado pelo Governo do Estado, entretanto, não correspondeu às expectativas dos docentes, uma vez que a perspectiva era de 35% de reposição. “O governador, numa mesa de negociação, além de apresentar um percentual muito aquém da reposição, não cumpriu o calendário previsto para os quatro anos dessa reposição dos 35%, como também esse ano não obedeceu a nossa data base, então isso foi a gota d'água para pensar numa categoria de trabalhadores do Estado do Ceará”, informa Zuleide Queiroz. A professora aponta ainda que além da pauta da reposição e a data-base, os docentes têm reivindicado também as condições de funcionamento das universidades, no que diz respeito à autonomia e democracia.
Agora, os próximos passos no âmbito nacional é o indicativo de mais uma mesa de negociação que acontece na próxima terça-feira (11). Até lá, as categorias estão em vigília junto ao Ministério da Educação (MEC), em Brasília, para falar sobre a proposta que o governo ofereceu e que não foi aceito por nenhuma categoria em todo o Brasil, e a denúncia da Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes Sindicato) que, de acordo com a professora Zuleide Queiroz, não possui legitimidade para participar da negociação com o Governo Federal, uma vez que não preenche os requisitos legais e constitucionais para a representação da categoria docente.
A greve dos professores das universidades federais do Ceará teve início no dia 15 de abril e, além da recomposição salarial, as demandas dos profissionais incluem melhores condições de trabalho, reestruturação de carreiras e recomposição do orçamento das universidades públicas.
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Edição: Francisco Barbosa