No último sábado (25), data em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Ceará completou 35 anos da primeira ocupação de terra no estado, as famílias Sem Terra que viviam na antiga Fazenda Cipó, em Quixeramobim, receberam a imissão de posse da área, que passou a se chamar Assentamento Nova Jerusalém. Com essa aquisição, a área de 3.545 hectares do Assentamento Nova Jerusalém foi destinada a 40 famílias. A área foi adquirida pelo Governo do Estado do Ceará, através do Instituto de Desenvolvimento Agrário (Idace), autarquia vinculada à Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), em convênio firmado com a Prefeitura Municipal de Quixeramobim, e é considerado o maior assentamento estadual destinado a fins de Reforma Agrária em território cearense.
A antiga fazenda Cipó foi palco de diversos conflitos com latifundiários da região durante décadas. De 2012 até os dias atuais, o MST tem apoiado e acompanhado as famílias e durante esse período houve três reintegrações de posse, mas as famílias resistiram e permaneceram na área. A fazenda Cipó fica localizada no distrito de Damião Carneiro, em Quixeramobim, distante 33,7 quilômetros da sede do município.
João Alfredo Telles, superintendente do Idace, destaca a importância dessa aquisição para o avanço da Reforma Agrária no estado. "Para nós é uma alegria muito grande, no dia 25 de maio, no dia em que surgiu o MST na ocupação da antiga fazenda São Joaquim, há 35 anos atrás, trazer hoje a maior compra de terra do Governo do Estado para fazer o maior assentamento estadual do Ceará, para produzir, combater a fome, para trazer dignidade para o homem e pra mulher do campo".
Edna da Silva, assentada da Reforma Agrária no Assentamento Nova Jerusalém, relata a alegria da conquista da terra. "Para mim é uma alegria muito grande. Hoje eu vivo com meu marido e meus três filhos numa casa de taipa muito antiga, eu sempre sonhei em ter um pedaço de terra para trabalhar, plantar e garantir nosso sustento e agora, com a posse da terra, a gente vai ter a liberdade e a possibilidade de buscar outras conquistas de forma mais segura, pois hoje somos assentados. Eu tenho muita gratidão a Deus, ao Movimento Sem Terra que nos possibilitou essa conquista que certamente mudará nossa vida para melhor".
O Governador Elmano de Freitas reafirmou o compromisso com os camponeses em garantir políticas para avançar na produção de alimentos e garantir a dignidade no campo. "Agora é a fase de dizer o que vamos produzir na terra que é nossa, o que vamos fazer de projeto produtivo, o que o Governo do Estado se compromete a fazer, e já quero dizer que aqui vai ter projeto para produção de leite, projetos para produção de genética. O estado do Ceará vai apoiar as famílias do Assentamento Nova Jerusalém. Nós estamos nessa caminhada para que a gente possa avançar com os direitos do nosso povo, porque a gente quer que essas crianças jamais precisem passar por aquilo que um dia as suas famílias passaram".
Durante sua fala, Elmano parabenizou e reconheceu a luta do MST em seus 35 anos de existência no estado, e reconheceu o empenho da militância. "Essas pessoas que doam a sua vida para organizar trabalhadores, para organizar famílias para melhorar de vida, são elas as principais responsáveis para que a gente tenha essa conquista".
Kelha Lima, da direção nacional do MST, destacou a importância da conquista do novo assentamento. "Hoje é um dia muito importante na história do nosso movimento. Há exatos 35 anos era hasteada a primeira bandeira do MST em território cearense, portanto é dia de celebrar as nossas lutas, as nossas conquistas e também de reafirmar a continuidade dessa caminhada em defesa da classe trabalhadora, da luta pela terra, pela Reforma Agrária e a luta pela transformação da sociedade. Estar aqui hoje, celebrando a imissão de posse do Assentamento Nova Jerusalém, é muito simbólico, pois marca a conquista do nosso maior assentamento estadual, destinado a famílias que, a partir daqui, terão o direito à terra, a produzir e viver com dignidade."
O ato de assinatura da imissão de posse aconteceu por volta das 10h, na sede do Assentamento Nova Jerusalém e contou com a presença do Governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas (PT); do Superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (IDACE), João Alfredo Telles; do Superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Erivando Santos; do Secretário da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), Moisés Braz; de parte do secretariado do governo do estado; do Deputado Federal, José Nobre Guimarães (PT); de deputados estaduais; do Prefeito de Quixeramobim, Cirilo Pimenta; da militância do MST, representantes de assentamentos da região e das famílias assentadas que receberam a posse da terra.
MST no Ceará
No dia 25 de maio de 1989, cerca de 400 famílias Sem Terra ocupavam a antiga fazenda Reunidas de São Joaquim, localizada nos municípios de Madalena, Quixeramobim e Boa Viagem, essa foi a ação que marcou o primeiro hasteamento da bandeira do MST em território cearense.
Hoje, após 35 anos, o movimento apresenta para a sociedade um lastro de muitas conquistas, de muitas cercas rompidas, de muitos latifúndios ocupados, o latifúndio da terra, da educação, da produção, da comercialização, da comunicação, do parlamento e tantos outros que o povo Sem Terra ousou romper.
Hoje, o estado do Ceará tem cinco grandes agroindústrias, que fazem o beneficiamento do mel, da mandioca, do caju, do leite e dos caprinos e ovinos, cooperativas regionais para garantir um bom processo de organização de produção dos assentados, assim como as feiras que garantem a renda às famílias e a possibilidade do povo das cidades de consumir um alimento saudável diretamente de quem produz.
São 12 escolas do campo de ensino médio, que fazem a diferença na formação da juventude dos assentamentos e acampamentos. Além das escolas, o movimento ocupou as universidades com cursos superiores para garantir, através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), a formação acadêmica dos filhos de assentados.
A ocupação do latifúndio do ar, que acontece desde 2007, com a implantação da primeira rádio comunitária no Assentamento 25 de Maio, em Madalena. Desde então, outras iniciativas surgiram, hoje são sete estruturas que têm garantido uma comunicação que informa, forma e contribui no processo de organização da classe trabalhadora nos territórios.
Os assentamentos e acampamentos do MST são espaços de produção de alimentos, de cultura, de esporte e de bem-viver. Assim como são construídos os festivais de arte e cultura, as quadrilhas juninas, as copas da Reforma Agrária, e tantas outras iniciativas que fazem dos territórios a expressão viva da Reforma Agrária Popular no Campo.
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Edição: Francisco Barbosa