O sonho da viagem internacional para levar seus projetos ao mundo está prosperando e cada vez mais perto. Essa é a realidade de Ludmila Oliveira, Natanael José, Isaque Alves e Vitor Teles, estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, o IFCE, que tiveram projetos científicos aprovados na Genius Olympiad 2024, uma das maiores feiras científicas do mundo, que acontece em junho, nos Estados Unidos.
Fundada em 2011 e organizada pelo Terra Science and Education e pela Rochester Institute of Technology (RIT), a feira é uma competição internacional de projetos do ensino médio sobre questões ambientais, que acontece anualmente em Rochester, no estado de Nova Iorque (EUA). A feira tem como principal objetivo promover uma compreensão global das questões ambientais e para a realização da sustentabilidade através de oito eixos, sendo eles: ciência, escrita, negócios, robótica, arte, música, curta-metragem e programação.
Na edição 2024 da feira, quatro estudantes cearenses do IFCE, conquistaram a tão sonhada credencial para se fazerem presentes no evento prestigiado por estudantes, cientistas e empresários de diversas localidades de todo o globo, que são aliados da luta ambiental e desejam investir e desenvolver projetos que transformem o meio ambiente.
Sobre os projetos
Diretamente dos campi de Limoeiro do Norte e Juazeiro do Norte, os estudantes cearenses devem levar para feira os projetos intitulados “A2 Database (Amazon Atmospheric Database)” e “Prótese Mioelétrica”.
A2 Database (Amazon Atmospheric Database)
O primeiro projeto é desenvolvido pelos estudantes Ludmila Oliveira e Natanael José, do IFCE Campus Juazeiro do Norte, e se constitui de uma plataforma de monitoramento de dióxido de carbono e compostos orgânicos voláteis, que funciona através de um website em conjunto com um sistema de identificação prévia de queimadas e incêndios para as florestas do Brasil e do mundo, visando a democratização das informações e a ação efetiva no combate ao desmatamento e as mudanças climáticas.
De acordo com o professor de física do IFCE (Juazeiro do Norte), e também orientador do projeto, Rodrigo Almeida, a ideia inicial do “A2 Database” se deu a partir da observação do número de queimadas e desmatamento que a Floresta Nacional do Araripe estava sofrendo. Com a grande divulgação dos veículos de comunicação sobre o descaso ambiental com a unidade de conservação brasileira, o professor destaca que em conjunto com os estudantes, pensaram na utilização de sensores que pudessem monitorar a qualidade atmosférica, a partir de variáveis, como sensores de fumaça, como CO2, concentração de monóxido e dióxido de carbono. “A partir desses dados, a gente consegue, então, observar qual a saúde ambiental da atmosfera no ambiente da floresta. Além disso, eu propus aos alunos a desenvolver um site, desenvolver um aplicativo que pudesse armazenar esses dados e que servisse para toda a população acessar”.
Ludmila Oliveira, estudante do 3º ano do ensino médio integrado ao curso Técnico de Eletrotécnica e uma das integrantes do projeto, afirma que a iniciativa a fez ter uma visão mais real da situação dos indivíduos na sociedade, e que proporcionou uma melhor compreensão das condições que o mundo se encontra atualmente. “Esse projeto me faz perceber que meus conhecimentos e ideias podem sim ter uma influência positiva e direta na transformação da minha realidade”, destaca.
Já o seu colega de projeto, o ex-aluno do curso de Eletrotécnica e agora graduando em Energias Renováveis, Natanael José, ressalta que o projeto proporcionou diversas experiências em sua vida, ao abrir portas para novas experiências e reconhecimento. O estudante também conta que participar do projeto lhe possibilitou a primeira viagem de avião, que teve como destino a cidade de São Paulo, quando a dupla teve a oportunidade de levar o projeto para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharias, a FEBRACE, um dos maiores programas brasileiros de incentivo aos jovens talentos em ciências e engenharia, realizado anualmente na Universidade de São Paulo (USP).
Natanael revela ainda que as expectativas para participar da Genius Olympiad estão nas alturas. “Estamos super ansiosos e animados! Esperamos não só apresentar nosso projeto, mas também adquirir conhecimento de outras iniciativas inovadoras e expandir nossa rede de contatos e oportunidades”. Do outro lado, Ludmila também demonstra boas expectativas, apesar da preocupação com os desafios em angariar recursos para custear o deslocamento dos jovens cientistas até os EUA. “As expectativas são as melhores possíveis, mesmo estando em situações financeiras complicadas e sendo muito difícil a parte de logística e organização, estamos animados e confiantes de que iremos conseguir realizar esse sonho que é apresentar nosso projeto internacionalmente, mostrar ele para o mundo e ampliar nossas visões e perspectivas”, afirma.
O professor e coordenador do projeto, Rodrigo Almeida também revela as expectativas e angústias com a aproximação do evento, e apesar de pontuar as dificuldades financeiras de levantar recursos para participação da feira, destaca que é muito empolgante e gratificante ver um trabalho produzido no Ceará consolidado e colhendo bons frutos a cada evento científico que os membros do projeto tem participado, sobretudo, ser apresentado em um espaço internacional e de escala global. “A gente está muito feliz, os alunos estão bem motivados e eu como professor me sinto muito orgulhoso de toda a equipe e de onde o projeto tem conseguido chegar”, afirma o professor.
O projeto científico que será apresentado por Ludmila e Natanael já esteve presente também em outras grandes mostras científicas nacionais, sendo duas vezes na FEBRACE - no qual foi medalhista de prata e honra ao mérito - e outra na Mostra de Ciência e Tecnologia do Instituto Açai - MCTIA, em Belém do Pará, onde também conquistaram medalha de prata. “Em todas as feiras que apresentamos nosso projeto, nós fomos premiados, e na feira paraense realizada no final do ano passado, foi quando conquistamos, pela importância do trabalho, pelo desenvolvimento em tentar resolver questões de problemas ambientais, a credencial para participar como finalistas da Genius 2024, agora em junho, nos Estados Unidos”, salienta o professor.
Prótese Mioelétrica
Já o segundo projeto, desenvolvido pelos estudantes do 3º ano do ensino médio integrado ao curso Técnico de Eletrotécnica do IFCE Campus Limoeiro do Norte, Isaque Alves e Vitor Teles, sob coordenação do professor de automação e energias renováveis, Marcello Anderson, consiste na criação de uma prótese mioelétrica utilizando filamentos de garrafas PET recicladas para impressão 3D, buscando soluções de baixo custo e sustentável, para democratizar o acesso às próteses, por conta do seu elevado custo disponível comercialmente.
A ideia do projeto surgiu no final de 2022, influenciados pela inserção dos estudantes em um ambiente onde havia bastante incentivo a formação de projetos de pesquisa e de extensão. Ligado a existência de um outro projeto de produção de filamentos para impressão 3D a partir da reciclagem de material PET, os estudantes perceberam que conseguiriam construir um projeto a partir daí, e foi quando começaram os estudos sobre o uso de filamentos PET para confecção de próteses mioelétricas. “Nós sempre desejamos participar de algum projeto, foi aí que, coincidentemente, quando ficamos sabendo desse projeto de produção de filamentos, surgiu a nossa ideia de criar próteses a partir do filamento, pois uniria uma tecnologia assistiva com uma questão social”, afirmou o estudante e membro do projeto, Isaque Alves.
O professor e coordenador do projeto, Marcello Anderson, revela que a primeira etapa do projeto surgiu na perspectiva da sustentabilidade ambiental e no desejo do barateamento dos insumos relacionados a impressão 3D. Ele destaca também que em um primeiro momento, através de pesquisas de projetos abertos e adaptações, construiu junto aos alunos uma extrusora de filamento (insumo para impressão 3D) a partir de garrafas PETs, maquinário que foi desenvolvido na disciplina de Projeto Social do curso de Mecatrônica Industrial. "Durante a minha atuação como professor, um grupo de cinco alunos me procurou, na perspectiva de desenvolvimento de projetos com o propósito de criação tecnológica e sua exposição no mundo acadêmico. Foi então que surgiu o pensamento de dar continuidade a ações já em andamento no campus, fazendo a aplicação de incrementos prévios a um instrumento que pudesse ser utilizado pela sociedade. Com isso, surgiu a ideia da criação de próteses a partir de garrafas PET e impressão 3D".
Protótipo e funcionamento da Prótese Mioelétrica / Divulgação
O projeto desenvolvido pelo docente em conjunto com o grupo de alunos é controlado por pulsos presentes no corpo do usuário portador de necessidades específicas. Essa perspectiva, busca dar uma alternativa as pessoas que necessitem de tais equipamentos e possuem uma limitação financeira para alcança-los. Atualmente, o projeto se encontra na etapa de prova de tecnologia, e buscam apresentar que é possível a construção mecânica e eletroeletrônica do dispositivo.
O estudante também salienta a forma como o projeto afetou sua vida e a rotina diária. “Fazer parte do projeto me fez aprender a trabalhar em equipe, além dos conhecimentos sobre a eletroeletrônica, adquiridos através do projeto, e também da consciência social, da realidade de várias pessoas que faltam um membro da mão e não têm a condição de comprar uma prótese”. Ele evidencia ainda que as expectativas para participar da feira e apresentar o projeto em um ambiente internacional é bastante alta, pois além de se tratar da primeira viagem internacional, se trata também de uma das maiores feiras do mundo, onde se encontram os principais projetos que mais se destacam, além de onde deverão aprender novas ferramentas que serão utilizadas e implementadas no projeto.
Do outro lado está Vitor Teles, estudante e também membro da equipe. O estudante aponta que entrar para o projeto trouxe para si transformações importantes e positivas, pois além dos conhecimentos técnicos conquistados dia após dia com a construção do projeto, a iniciativa lhe permitiu ainda desenvolver uma visão mais crítica do mundo, de que sempre devemos ajudar o próximo. Além disso, ele revela com entusiasmo que as expectativas para participar da maior feira científica do mundo voltada para jovens alunos está na alturas. “São momentos únicos que acontecem com nós acadêmicos, pois lá a gente vai adquirir novos conhecimentos, experiências, amizades e também culturas diferentes, então a gente vê a Genius como uma feira que vai nos ensinar bastante”, conclui.
A iniciativa da prótese mioelétrica, assim como o A2 Database, também já disputou outras grandes mostras científicas, como a Mostra Limoeirense de Projeto, a MosLiPro; a Feira de Ciência e Tecnologia das Nações – Colégio Dante Alighieri, a FeNaDante; e a Mostra de Ciência e Tecnologia do Instituto Açaí - MCTIA, responsável pela conquista da credencial para que a equipe pudesse disputar a final da Genius deste ano.
Marcello salienta que as perspectivas para participação na feira giram em alguns segmentos. Segundo o docente, do ponto de vista do projeto, toda a equipe torce pela apresentação internacional das ideias elaboradas no projeto, bem como divulgação do laboratório, campus e Instituição. "Com isso, nossa expectativa é que possamos encontrar parceiros para desenvolvimento tecnológico e apoio financeiro. Do ponto de vista dos alunos, nós, como instituição de ensino, esperamos apresentar as possibilidades mundiais existentes, ou pelo menos, apresentar que há algo mais além de nossa região. Acredito que será encantador para todos a sensação da descoberta de novas fronteiras", encerra.
Financiamento
Apesar da empolgação e das altas expectativas para participarem da feira, os desafios financeiros também se fazem presentes. Devido a limitação de orçamento do Instituto Federal e das famílias dos estudantes, os membros dos projetos selecionados para a maior feira científica não conseguem arcar com todas as despesas da viagem.
A jovem estudante Ludmila afirma que o Instituto Federal tem contribuído com parte dos gastos, mas revela ainda que essa ajuda não está sendo suficiente. Por outro lado, seu companheiro de projeto destaca que a campanha de financiamento tem sido ampla, e que ambos os alunos em conjunto com o coordenador do projeto têm buscado veículos de comunicação locais para contribuírem na divulgação, assim também como figuras políticas da região para patrocínio externo, com a finalidade de que possam ajudar com o financiamento.
Já os membros do projeto de prótese mioelétrica têm recorrido também à venda de rifas, como ferramenta de angariação de recursos que venham a contribuir com a viagem de ambos. Além disso, os estudantes também revelaram estarem em contato, juntamente do coordenador do projeto, com empresários e políticos locais.
Os custos incluindo passagem, taxa de inscrição do evento, hospedagem e alimentação para os quatro estudantes gira em torno de R$32.000,00 reais. Daí então, surgiu a ideia do financiamento coletivo para contribuir com o sonho dos jovens cientistas a chegarem no grande evento. Em caso de contribuição com o financiamento coletivo dos estudantes, basta acessar a vaquinha online.
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Edição: Camila Garcia