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Fraternidade

Entrevista | “Todo mundo, pessoas de boa vontade, podem e devem se sentir convidadas a participar da Campanha da Fraternidade”

Patrícia Amorim falou com o BdF sobre a Campanha da Fraternidade 2024 que tem como tema “Fraternidade e Amizade Social”

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Este ano, a Campanha da Fraternidade, que é promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem como tema “Fraternidade e Amizade Social”. - Foto: Osnilda Lima/ Cáritas Brasileira Regional Santa Catarina

Este ano, a Campanha da Fraternidade, que é promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem como tema “Fraternidade e Amizade Social”, e o lema bíblico “Vós sois todos irmãos e irmãs” e busca propagar o projeto de “Fraternidade” e a ideia de “Amizade Social”. E para falar sobre a Campanha, sobre a escolha do tema e a importância da sua realização o Brasil de Fato conversou com Patrícia Amorim, mestra em sociologia pela UECE, assessora da Cáritas Regional Ceará, assessora e coordenadora da equipe de campanhas da CNBB Regional Nordeste 1 e assistente social. Confira

O que é a Campanha da Fraternidade?

A Campanha de Fraternidade, a gente costuma dizer que é a forma da igreja evangelizar durante o período da Quaresma aqui no Brasil. A gente acredita que a Quaresma é um tempo de conversão, é um tempo que a gente chama de conversão pastoral, onde a gente vai refletir e também a gente faz ações relacionadas a, geralmente, jejum, oração e caridade, e a partir dessa tríade a gente entende que é importante fazer uma relação com temas sociais. E este ano é um ano muito especial para nós também, porque em âmbito nacional, a Campanha da Fraternidade faz 60 anos. Então a gente também está celebrando esse tempo, que é um tempo de muitas conquistas, enquanto igreja, mas, sobretudo, enquanto sociedade, já que a gente reflete temas ligados à sociedade em geral.

A Campanha da Fraternidade é uma ação unicamente da igreja ou ela também é uma ação social onde todos podem participar e contribuir?

Essa é uma boa pergunta. A Campanha da Fraternidade nasce como uma iniciativa da CNBB há 60 anos atrás, mas ela não é uma ação exclusiva da CNBB, inclusive, tem anos que a gente realiza de forma ecumênica. A gente convida outras igrejas para também realizar conosco a Campanha da Fraternidade. É um convite que a igreja faz para toda a sociedade, no sentido de que todo mundo, como a gente diz, pessoas de boa vontade, podem e devem se sentir convidadas a participar e a integrar as ações que a gente chama gestos concretos da Campanha da Fraternidade.


Cartaz da Campanha da Fraternidade 2024 / Divulgação

Hoje se percebe uma participação maior da população na Campanha da Fraternidade ou ela ainda está muito dentro da igreja?

A gente reconhece que ela nasceu como uma iniciativa da igreja católica, mas à luz de uma igreja que a gente chama igreja comprometida com o povo de Deus. Então, nesse aspecto, desde o seu nascimento, ela foi muito dialogada com setores da sociedade de uma forma mais ampla, já que ela sempre teve como pauta questões sociais. E de lá para cá isso veio se consolidando ainda mais. Claro que a gente ainda tem o desafio de fazer com que a Campanha da Fraternidade seja reconhecida para além do campo religioso, para além das igrejas, como uma ação mesmo da sociedade de uma maneira geral, mas a gente afirma de que sim, ela é uma ação mais ampla, não só da igreja católica, mas ela tende a abarcar toda a sociedade.

Qual é o objetivo da Campanha da Fraternidade?

Existe o que a gente chama de objetivos permanentes da Campanha da Fraternidade, que sempre a gente vai querer que a comunidade e a sociedade, de um modo em geral, promovam a fraternidade à luz dos seus valores, daquilo que a gente acredita, quando a gente fala em relação ao bem comum. Esse é o objetivo principal das Campanhas da Fraternidade e este ano, especificamente, com o tema da Amizade Social, a gente tem como objetivo geral despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que em Jesus Cristo a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos. Então esse é o objetivo principal da Campanha da Fraternidade deste ano.

Anteriormente o tema da Campanha da Fraternidade foi sobre a questão da fome, de combate à fome e este ano é sobre a questão da amizade social. Dá para ver que são temáticas bem atuais. Como é feita a escolha desses temas e o que representa cada tema?

No ano passado realmente foi a temática da fome, Fraternidade e Fome, esse foi o tema da Campanha da Fraternidade do ano passado e foi um tema que a gente conseguiu desenvolver bem, inclusive porque, infelizmente, a gente ainda está um índice altíssimo de insegurança alimentar e nutricional, então a Campanha de Fraternidade veio também dar uma luz sobre esse grande problema social que a gente tem enfrentado não só no Brasil, mas no mundo, sobretudo nos países da América Latina. Foi muito importante a gente desenvolver sobre esse tema, onde a gente pode expressar e reconhecer as várias iniciativas da sociedade civil, para além das de governo.

A Campanha da Fraternidade sempre dialoga com temas que são do cotidiano, da realidade, e são temas sociais, são temas que a gente identifica questões desafiadoras no âmbito nacional e que elas precisam ser refletidas, abordadas, mas, sobretudo, transformadas, porque aí é esse o gancho que a gente faz de desenvolvê-las no período da Quaresma. Como a gente entende que é conversão, então conversão é transformação. Então é necessariamente um tema que a gente emerge, para que ele possa ser visto, ser refletido, mas, sobretudo, transformado. 


A gente tem figuras importantes, que são da igreja católica. Você citou o Padre Júlio Lancellotti, mas até mesmo o próprio Papa Francisco hoje sofre ataques de uma maneira generalizada / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Vimos na mídia alguns ataques e ameaças sendo feitos a representantes da igreja, como por exemplo, é o caso do Padre Júlio Lancellotti. A Campanha da Fraternidade também tenta trazer a reconciliação e a fraternidade para dentro da própria igreja?

Com certeza. A gente tem figuras importantes, que são da igreja católica. Você citou o Padre Júlio Lancellotti, mas até mesmo o próprio Papa Francisco hoje sofre ataques. O próprio sucessor de Pedro, vamos dizer assim, como a gente acredita, sofre ataques de uma maneira generalizada, mas assim, são grupos muito específicos que fazem isso, que a gente sabe que eles têm um grande poder também do capital para fazer isso, então são grupos que são muito direcionados, são muito específicos e são minoritários, é importante que a gente diga isso, porque às vezes a gente pode ter impressão de que eles são a maioria, e não são, mas por conta do capital atrelado a esses grupos, eles conseguem fazer com que é isso tome proporções maiores. 

E no caso do Padre Júlio Lancellotti tem uma situação muito específica, que na própria Campanha da Fraternidade a gente também vai dialogar e dialoga muito sobre isso, que é o que a gente chama de alterofobia. Ele denuncia cotidianamente a aversão aos pobres, então existe na nossa sociedade brasileira uma aversão verdadeira pelos pobres, e aí, na Campanha da Fraternidade, a gente vai discutindo justamente sobre a questão do individualismo, da indiferença e da intolerância, e aí no grau mais elevado da intolerância, ela quer a eliminação do outro, do diferente. No caso, existe uma parcela da sociedade que quer a eliminação dos pobres, acham que os empobrecidos são os grandes responsáveis, e aí, sendo eliminados, esse problema é resolvido, e a gente sabe que não é isso, é justamente ao contrário, a gente acredita que a partir do evangelho, a partir de Jesus Cristo, a gente tenha a luz dos empobrecidos, a força para que a gente possa superar esses desafios e construir uma sociedade onde todos tenham acesso a leite e mel. 

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Edição: Camila Garcia