Ceará

Cultura

Fortaleza recebe Conferência Temática Cultura e os Povos do Campo, Águas e Florestas

A Conferência acontece até o dia 1º de fevereiro no Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A Conferência visa ouvir as experiências dos participantes e eleger três propostas que serão levadas à 4ª Conferência Nacional de Cultura (4ªCNC). - Foto: Lucas Calisto/ASCOM Secult

De 30 de janeiro a 1º de fevereiro acontece em Fortaleza, a Conferência Temática Cultura e os Povos do Campo, Águas e Florestas, que tem como um dos objetivos fortalecer o debate sobre políticas públicas culturais voltadas aos povos e comunidades tradicionais, camponesas e originárias. A conferência é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e conta com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Governo do Estado do Ceará, por meio das Secretarias da Cultura (Secult Ceará) e do Desenvolvimento Agrário (SDA). 

Binho Riani Perinotto, coordenador-geral de Orientação e Capacitação para Estados, Distrito Federal e Municípios do Ministério da Cultura (MinC) explica que esse encontro tem uma característica muito específica, que é tratar, como o próprio título diz, os povos do campo, das águas e floresta. “Então ele vai tratar uma perspectiva de territorialidade com aqueles que cuidam do nosso planeta. É esse olhar de territorialidade popular, ambiental, de sobrevivência, resistência e sobrevivência, por isso que a Conferência dá condições de juntar quem é pequeno agricultor com indígenas, com quilombolas, com ribeirinhos, com caiçaras”

Mãe Tecla do Caboclo Tupinambá é presidente da União Espirita Cearense e Umbanda, presidente do Maracatu Filhos e Iemanjá e membro do Comitê de Expressões Culturais Afro-Brasileiras da Secult-CE está participando do encontro como representante dos povos de terreiro, e ela fala sobre a importância desse momento. “Um encontro desses é de suma importância. Eu estou aqui representando os povos de terreiro que está espalhado em todo o estado do Ceará, aliás, em todo o Brasil, e esse momento é importante porque a maioria, principalmente, as pessoas do interior, lidam com a agricultura e nós temos a nossa culinária também de terreiro. Não é só a questão da religiosidade, tem também a questão da agricultura, tem a questão da nossa culinária, porque cada homenagem que a gente faz para os nossos pretos velhos, para os caboclos tem a culinária. Na época dos Preto Velhos tem a mandioca, tem a batata-doce, tem a tapioca, o baião de dois, o vatapá, tem tudo isso. A festa de Ogum, que é São Jorge, tem a feijoada. Oxóssi, que aconteceu agora, tem a salada de frutas, tem o peixe, tem o arroz, então toda essa culinária está dentro dos povos de terreiro também”.

Eliane Saraiva está participando do encontro representando as bibliotecas comunitárias, em especial, a biblioteca comunitária do Assentamento Novo Horizonte, em Tururu. Eliane explica que as bibliotecas comunitárias representam um setor um pouco esquecido quando há conferências da cultura ou até mesmo em alguns eventos culturais. “É como se essa área fosse da educação, mas não é, área de bibliotecas públicas e bibliotecas comunitárias é do setor da cultura, e aqui, nessa Conferência que tem muita gente, muitas representações de outros povos eu estou aqui para representar uma biblioteca comunitária que fica no Assento, é uma biblioteca do campo que tem todo um desafio, que é trazer um público. O público de uma biblioteca comunitária é diferente do público de uma biblioteca da periferia, porque a maioria das bibliotecas comunitárias são de bairros da periferia e no nosso caso, no campo é diferente, porque as casas são distantes, muitos jovens estão ajudando os pais em um período que não estão na escola e aí é um desafio muito grande de conseguir pessoas, de fazer um trabalho nessas bibliotecas”. 

Eliane afirma que está participando dessa Conferência com o objetivo de ser ouvida e conseguir apoios. “Eu vim para essa Conferência para representar tanto a biblioteca comunitária do meu Assentamento, que é a biblioteca do Assentamento Novo Horizonte quanto a Rede de Bibliotecas Comunitárias Camponesas. Estou com uma expectativa de que em algum momento vou ter alguma oportunidade de falar sobre a importância dessas bibliotecas, de mostrar que esse setor existe, que estamos na luta, e procurar alguma brecha, alguma forma de conseguir algum apoio porque eu já sei que as outras áreas já tem uma visibilidade maior, mas no nosso trabalho precisamos de ajuda, nós não conseguimos fazer isso sozinhos”.

A secretária de cultura do estado do Ceará, Luisa Cela explica que o Ministério da Cultura está construindo a 4ª Conferência Nacional de Cultura, que vai acontecer de 04 a 08 de março deste ano, e como parte dessa 4ª Conferência vem realizando as etapas municipais, as etapas estaduais e agora as etapas temáticas que buscam exatamente aprofundar a discussão da política cultural na relação com temas que são intrinsecamente ligados. “E essa conferência, especificamente, dos povos do campo, das águas e das florestas, tem uma relação umbilical, por assim dizer, com a nossa cultura. São exatamente os povos originários, aqueles que chegaram muito antes de nós e que até hoje lutam para preservar as terras, os territórios e a cultura associada a esses lugares com práticas relacionadas à alimentação, à saúde, às vestimentas, aos módulos e aos princípios de uma vida fundada na solidariedade, no amor, na cooperação que o mundo está precisando muito”. 

A política pública de cultura, como a secretária explica, fala sobre arte, sobre atividades e programações artísticas, mas, fundamentalmente, fala sobre o jeito de ser do povo brasileiro. “E não tem como falar sobre isso sem falar dos povos e comunidades originários e tradicionais que estão muito antes dos que dizem que descobriu o Brasil. É com muita alegria que o Ceará sedia essa Conferência Temática, recebendo companheiros e companheiras de outros estados, o Ministério da Cultura, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, junto com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário daqui do estado e, fundamentalmente, com os movimentos populares para um momento de escuta. E é nesse espírito que a Secretaria de Cultura vai estar aqui com sua equipe ao longo dos próximos dias”.

4ª Conferência Nacional de Cultura (4ªCNC)

Para além de fortalecer o debate sobre políticas públicas culturais voltadas aos povos e comunidades tradicionais, camponesas e originárias, a Conferência Temática Cultura e os Povos do Campo, Águas e Florestas visa ouvir as experiências dos participantes e eleger três propostas que serão levadas à 4ª Conferência Nacional de Cultura (4ªCNC) que acontece de 4 a 8 de março, em Brasília com o tema “Democracia e Direito à Cultura”. 

Binho explica que a intenção é que, de todas as conferências estaduais, conferências temáticas e também os debates que são mais setorizados dentro das conferências estaduais tenham um acúmulo trazido de quem vem participando desses processos pelo Brasil inteiro desde o ano passado e no começo desse ano para que na Conferência Nacional de Cultura contribua no fortalecimento do Sistema Nacional de Cultura que é Concelho, Plano e Fundo, “assim como a gente já tem avançado, por exemplo, na assistência social que tem o conselho de gestão social, fundo de assistência social ou na área da saúde como o SUS, conselho de saúde, fundo de saúde, então a expectativa, na esfera nacional, é fortalecer não só o sistema nacional de cultura, mas também os sistemas estaduais e municipais de cultura”.

Programação

Quarta-feira, 31/01

14h às 20h – Experiências Exitosas em Territórios Culturais
Luciana Silva (Escola Mangue Brasília Teimosa), Marjorie Botelho (Ponto de Cultura Rural), Daniel Lira (Museu do Índio), Jade Percassi (Curso de Graduação de Arte Educação para Escolas do Campo), Luana Oliveira (Escola livre de artes João das Neves), Guê Oliveira (Armazéns do campo), Sandra de Souza Maciel (Valorização dos saberes dos povos de territórios tradicionais), Alana (Cultura Viva, Assentamento Santana).
20h – Jantar
21h – Sarau dos Povos do Campo, Águas e Florestas

Quinta-feira, 01/02

07h às 08h30 – café da manhã
9h – Apresentação da Metodologia para trabalho em grupos sobre eixos temáticos da 4ª Conferência Nacional de Cultura
09h30 às 12h – Construção das propostas para a 4ª Conferência Nacional de Cultura
12h30 às 14h – almoço
14h – 16h – Plenária de definição de propostas prioritárias
16h – Peça o Maquinista
19h30 – Solenidade de Encerramento
21h – Pereira da Viola e Coco Mestra Maria de Tiê

Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.

Edição: Camila Garcia