De um lado uma Fortaleza construída para as elites que vivem em uma das Regionais, a SER II, onde geralmente as grandes iniciativas se concentram. É onde temos a nova Beira Mar, os novos equipamentos públicos como o Complexo Estação das Artes, Mercado AlimentaCE, a Pinacoteca e o Centro de Design, para citar alguns.
Do outro, uma Fortaleza que sofre com a ausência de inclusão, com o crescimento das desigualdades e a distancia social do Centro. 121 bairros sem investimentos. Segundo dados do Observatório das Metrópoles, divulgados em 2022, a Grande Fortaleza tem pior cenário de pobreza dos últimos 10 anos; 1,5 milhão vive com até R$ 465 ao mês.
Chegando mais um Novembro da luta negra, posso afirmar que realmente a vida é diferente “da ponte pra cá”, pois a falta de prioridade não só acentuou os problemas sociais nos territórios empobrecidos, como também o genocídio do povo negro, acelerado no Governo Bolsonaro, assim como a polícia praticando chacinas, os presídios lotados de jovens e as periferias se tornando campos de concentração.
Diante disso, temos grandes desafios. Primeiro compreender que o descaso com a Fortaleza pobre é politico, afinal são 1.869.135 eleitores aptos a votar e as elites vão usar o dinheiro público e as obras nas nossas “Quebradas” para se manter no poder via eleições.
Também é preciso mobilizar, formar, organizar o povo da periferia para reafirmar a nossa luta pela mudança uma cultura e mentalidade política enraizada em 322 anos de colonização e mais de 388 anos de Escravidão. Para avançar é necessário destruir o mito da democracia racial, uma vez que as dificuldades de acesso aos direitos estão diretamente ligadas a existencia de um racismo estrutural no país.
É urgente construir um grande movimento urbano com capacidade de unificar varias bandeiras e de elevar a resistência ao cenário da luta institucional, de massas e ideológica, criando um tônus vibrante da periferia a ponto de deixá-la orgulhosa de sua referência territorial como lugar de potências. Como fala a canção: “Da ponte pra cá antes de tudo é uma escola, Minha meta é dez, nove e meio nem rola”; o povo negro periférico é patrimônio da cidade. Resistiremos e venceremos.
Nós dos Movimentos Populares nos mantemos de pé na resistência e ressignificação desse espaço social, contra o projeto de exclusão, segregação social das elites, onde a distância do "Centro" sempre foi uma distância sociológica, simbólica e de manutenção do poder.
As Periferias rebeldes de Fortaleza sempre foram espaço de uma população política, geográfica, cultural e social, historicamente marginalizada. É por isso que “da ponte pra cá” ela é violentada em tudo, pois todo lugar de maioria negra (mais de 70% - IPECE/2019) como: Favelas, Quilombos, Bairros empobrecidos, cárceres, estádios de futebol, escolas de samba, areninhas, os espaços de Reggae, Funk, Hip Hop, terreiros de Axé, Cozinhas Populares e etc. afinal todos os espaços e territórios preto vem sofrendo violência.
E a ressignificação da periferia, por parte das Organizações Populares tem que trazer um movimento de autoafirmação do “Sujeito Periférico” e colocar verdadeiros representantes da periferia no parlamento. Que para além da semântica “da ponte pra cá” a simbologia da palavra “o bom lugar” tem que ser apropriada e sustentada pelos lutadores do povo na câmara, reafirmando a relação de pertencimento ao território, contribuindo com a definição de suas identidades periférica.
* Rogério Babau, assistente social, morador da Serrinha em Fortaleza e da Coordenação do Movimento Brasil Popular no Ceará.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Camila Garcia