Ceará

Dia do Médico

Artigo | Dia do Médico deve ser celebrado, mas também devemos refletir sobre sua jornada

Que a ciência possa hoje, mais do que nunca, trazer o fim das desigualdades.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
O Dia do Médico é celebrado no dia 18 de outubro. - Foto: Jerônimo Gonzalez/MS

A Medicina não é um início e nem muito menos um fim. A caminhada dos que abriram os olhos e decidiram enxergar as mazelas humanas é cheia de tristeza e sofrimento. A luta, portanto, para que tenhamos um mundo mais igual pode ser produto de egoísmo. Não se ver inundado por tudo aquilo que transborda das periferias das grandes cidades ou que se esconde nas entranhas dos sertões. Viver em um mundo sem miséria, sem pobreza, seria então a saída para o que decidi enxergar?

Não me resta dúvida que isto é algo capaz de motivar a natureza humana. Mas seria ela impura em sua essência? A meu lado, vejo pessoas cegas (por opção?). Conversar tem-se tornado um ato cada vez mais difícil. Por vezes a incompreensão, por vezes o desinteresse, por vezes até o asco, mas algumas vezes há quem se deixe enxergar, que se permite escutar, que se arrisque tentar entender. Mas então o que oferecer a quem aceite trilhar o caminho mais obscuro? Tristeza? Sofrimento?

Se a felicidade é um bem coletivo, e se ser feliz é condição que depende da felicidade alheia, então há uma motivação justa para nossa jornada. Quero compartilhar e agradecer às mãos dadas da caminhada, que não se faz sozinha. Agradecer aos que abrem os olhos e decidem enxergar, mesmo sabendo que distante e difícil estará a felicidade. A sua busca não será em vão. Poderemos senti-la a cada nova conquista por nosso tão sonhado mundo. 

Talvez passaremos deste mundo sem jamais ter sabido o que é ser plenamente feliz, mas com a certeza que lutamos para que não apenas nós, mas todos possam um dia serem plenos e felizes. E se uma vida de dificuldades pode nos fazer pensar que essa vida foi de tristeza e sofrimento, lembremo-nos que a verdadeira felicidade em viver está em fazer felizes aqueles que amamos.

“A luz que me abriu os olhos
para a dor dos deserdados
e os feridos de injustiça,
não me permite fechá-los
nunca mais, enquanto viva.
Mesmo que de asco ou fadiga
me disponha a não ver mais,
ainda que o medo costure
os meus olhos, já não posso
deixar de ver: a verdade
me tocou, com sua lâmina
de amor, o centro do ser.
Não se trata de escolher
entre cegueira e traição.
Mas entre ver e fazer
de conta que nada vi
ou dizer da dor que vejo
para ajudá-la a ter fim,
já faz tempo que escolhi.”

 - Thiago de Mello - Já faz tempo que escolhi. Rio de Janeiro, 1981.

Feliz dia a todas as pessoas que trilham o verdadeiro caminho da Medicina.

*Médico de Família e Comunidade.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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Edição: Francisco Barbosa