Se encerra hoje a tradicional Festa de São Francisco das Chagas, em Canindé, a 120 km de Fortaleza, que também leva o nome de “Romaria de Canindé”. A festa em homenagem ao padroeiro do município, São Francisco das Chagas, é considerada uma das maiores manifestação franciscana e religiosa do Brasil. A celebração reúne milhares de devotos, principalmente, do Nordeste e Norte do Brasil, mas também de outros estados.
Andréa Lima Pinheiro, é devota de São Francisco e é uma das romeiras da Romaria Dom Joaquim (RDJ). Para ela, a romaria significa amor, generosidade e fortalecimento da fé diante das dificuldades. Ela participa da romaria a pé. “Caminhar 130 km é uma forma de pensarmos em quem somos e de como podemos crescer no amor ao próximo, onde muitas vezes sentindo dores, somos capazes de minimizar a nossa dor para apoiar e fortalecer o outro”.
“Minha primeira romaria com a Romaria Dom Joaquim foi em 2019, quando fui para fazer companhia ao meu esposo e como forma de penitência. Os anos seguintes: 2020, 2022 e 2023, não fui mais como penitência, mas para agradecer as graças alcançadas pela intercessão de São Francisco. Em 2020, minha mãe caiu e no hospital pedi a São Francisco que, caso não fosse necessária uma cirurgia na face dela eu iria com a RDJ, para agradecer. Em 2022, fui para agradecer pela vida de meus familiares que foram acometidos pela covid e que ficaram curados e sem sequelas. E este ano de 2023, fui para agradecer pela cirurgia do meu filho realizada em 24 de junho para a retirada de uma lesão óssea. Nesta cirurgia foi retirado um pedaço do osso do crânio e da capa dura e colocada uma placa de titânio. Então, pedi a São Francisco para que ele intercedesse para que ocorresse tudo bem com a cirurgia e que ao resultado da biopsia fosse benigno. E o senhor atendeu o meu clamor”.
Jeová Sampaio, militante do MST e educador popular afirma que as romarias a Canindé são um marco na vida de um católico, é um momento de muita emoção e fé. Sua aproximação com as romarias se deu ainda muito novo, com 11 anos de idade. “Com 11 anos fui para minha primeira romaria, de minha comunidade Cacimba do Meio, do município de Crateús. Cerca de 40 romeiros e romeiras, vestidos com o traje de São Francisco, o marrom que também nesta época é símbolo de devoção e agradecimento, junto com a nossa tradicional farofa que não pode faltar em uma romaria, somando aos cânticos que embalavam a viajem, desbravamos os sertões de Crateús aos sertões de Canindé. Assim como as marchas, uma romaria é um momento místico de se viver”.
Para Jeová, participar das romarias de São Francisco, está em Canindé é uma grande experiencia na vida dos católicos e, de modo especial, das famílias camponesas, pois é um encontro especial com a fé e suas diversas manifestações.
Religiosidade e a cidade de Canindé
Odilon Monteiro da Silva Neto, professor de história do IFCE Campus de Fortaleza e Doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) explica que Canindé conseguiu, suscitou uma experiência religiosa que é comparada com outras experiências, inclusive, de caráter internacional, a exemplo de Assis. “Segundo os números, Canindé fica em segundo lugar, só perde para Assis. De acordo com ele, Canindé é a principal referência Franciscana fora da Europa".
“O que hoje nós conhecemos como a cidade de Canindé se configurou por conta desse campo devocional vinculada a presença do Francisco, que é um personagem do medievo ocidental, que cria uma ordem diferente, Ordem dos Frades Menores, dos Franciscanos, que depois se ramifica em outras ordens, mas diferente das outras ordens eles buscavam esse tipo de contato, essa ideia de ir, de seguir, de sair para além das suas fronteiras. Era num período que isso não havia, essas demarcações, então os Franciscanos foram extremamente importantes porque eles saíram, levaram essa presença do cristianismo, desse catolicismo para além, inclusive, do que hoje a gente conhece da Ásia, lembrando que houve um momento que o mundo foi dividido entre Portugal e Espanha”, informa Odilon.
Odilon explica que Canindé só existe hoje enquanto cidade Santuário, por conta da devoção Franciscana, e a devoção de Canindé é tão importante para o Ceará, assim como é a devoção do Padre Cícero, assim como são outras devoções, inclusive, devoções mais contemporâneas, como é o caso da beata Benigna como nós vamos ter São Francisco também celebrado em outros lugares, como Fátima em Fortaleza, entre outros.
“No Ceará, embora aqui hoje nós notamos um processo de crescimento das comunidades evangélicas, dos grupos evangélicos, das igrejas, mas o Ceará é um lugar com forte tônica religiosa católica e isso é um processo que atrai ainda, que se coloca. Existe alguns estudiosos que trabalham dentro de uma perspectiva do turismo, embora que Canindé tenha elementos delicados de se falar, de fato, de um relacionamento de turismo religioso, mas que, de fato, a cidade está inserida dentro de práticas devocionais e de que a cidade ocupa um espaço que, inclusive, os equipamentos que estão colocados são utilizados de uma perspectiva de lazer e de diversão. Você tem, por exemplo, a Praça dos Romeiros, que durante os outros momentos é utilizada como lugar para as pessoas fazerem piqueniques, caminharem e assim são outros espaços da cidade como é caso do zoológico também. Então há uma relevância, isso é importante, não só para Canindé, o fato das romarias, mas também para o estado do Ceará, que embora se projetando como sendo um lugar de turismo de sol e praia, na prática, traz grande relevância para o nosso estado, de ser conhecido como o lugar que abriga a principal experiência Franciscana do Brasil e a segunda maior do mundo e a maior das Américas”, finaliza Odilon.
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Edição: Camila Garcia