Vermelho que toma quase toda a galeria do 5º andar do Centro Cultural Banco do Nordeste, no Cariri
Vermelho é a primeira marca que chama atenção em “Cruzar fronteiras, rasurar normatividades – exposição e pensamentos sobre corpo, gênero e sexualidade”, com curadoria de Wandealyson Dourado. Um vermelho intenso que toma quase toda a galeria do quinto andar do Centro Cultural Banco do Nordeste, no Cariri.
Uma cor que pode sozinha suscitar muitas questões a depender da cosmovisão e epistemes implicadas. O cristianismo associou o vermelho ao mal, seria essa a cor do inferno e do diabo. A esquerda historicamente utiliza o vermelho como sua cor, como o fizeram os jacobinos na insurreição da Comuna de Paris durante a revolução francesa. Mas vermelho também representa desejo, luxúria, paixão… e tantos outros significados que podemos ainda elencar.
E pelo menos essas três leituras do vermelho podem ser trazidas para a conversa ao vivenciar essa exposição, pois aqui encontramos uma crítica à violência simbólica e física cristã contra corpos que transitam fora das normas, que tiveram seu direito à fé cerceados, ou que perseguem outras fés, que foram expulsos de suas famílias/casas cristãs por sua orientação sexual e tantas outras agressões que parte destes fiéis realizam diferentemente do que lhes pregou Mateus evocando a palavra do seu messias – amai ao próximo como a ti mesmo.
Neste mês que marca a luta pela diversidade de gênero e sexual, rememorando a Rebelião de Stonewall, é importante espaços expositivos voltando a serem preenchidos com obras que questionem a norma, que reflita sobre a multiplicidade de corpos que habitam o planeta, sobre direitos. Essa exposição é por sua própria natureza um ato democrático em defesa dos direitos humanos, que se soma as paradas, rodas de conversa, formações e outras ações de conscientização. Dessa forma seria o vermelho luta aqui evocado.
E o desejo? Bom, ele também está presente de várias formas na exposição; frustrado, romântico, imposto socialmente. Na real, nenhum dos trabalhos evoca apenas um desses vermelhos. Todos são complexos, cheios de camadas e nos permitindo múltiplas leituras/interações. São trabalhos de 11 artistas trazendo para jogo questões sobre corpo, gênero, sexualidade e raça. Encontramos diversas linguagens – pintura, escultura, instalação, performance – mostrando a virtuosidade e qualidade da produção contemporânea caririense.
Os trabalhos de Alex Sousa, Caeu, Caju, Charles Lessa, Eliana Amorim, Indja, Lucas Tavares, Marsonília Duarte, Nayra Gomes, Rawan Carvalho e Soupixo podem ser vistos até o final do mês de julho. Mais informações podem ser encontradas na página do Laboratório Bixórdia.
Hasteemos então a bandeira colorida, pois o amor não é desonra!
*Lívio Pereira é trabalhador da cultura e militante social, escreve para o BdF há mais de um ano.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Francisco Barbosa