Na década de 30, mas especificamente em 1932, retirantes fugindo da seca no interior do Ceará e dos campos de concentração que se formavam em Fortaleza para barrar o contingente dos flagelados, nasceu o bairro Pirambu. A comunidade inicialmente formada por pescadores, aumentou a população rapidamente. Localizado no litoral oeste da cidade, bem próximo à praia e à ferrovia, o território foi ocupado por barracos insalubres, fome e um alto índice de violência.
O Pirambu, maior favela de Fortaleza, está completando 61 anos. Desde cedo o estigma da miséria andou lado a lado com a luta da comunidade contra as injustiças sociais. Em 1962, no primeiro dia do ano, milhares de pessoas foram às ruas, em direção ao Centro da cidade reivindicar melhores condições de vida. Foi a primeira marcha do Pirambu. Uma luta organizada e pacífica que inspirou gerações inteiras.
Yuri chegou no bairro ainda criança. Fez morada, casou, teve três filhas e através do esporte fez sua caminhada de vida. Foi atleta amador de futebol, passou por vários clubes no Ceará e em São Paulo, mas não deslanchou a carreira como jogador profissional. Mas o sentimento de frustração passou longe dele. Yuri montou a “Escolinha do tii” e há cinco anos desenvolve um trabalho de formiguinha, usando o esporte como ferramenta de inclusão para salvar e transformar vidas de crianças e adolescentes. “É um trabalho totalmente voluntário, feito por amor mesmo. Não recebemos ajuda de ninguém e nem um retorno financeiro”, explica o professor.
A escolinha de Yuri atende crianças a partir dos 7 anos. Já são 60 crianças beneficiadas com o projeto voluntário. “O que peço é compromisso, respeito e disciplina. Sei que a escolinha faz a diferença na vida deles, mas tem que seguir as regras”, conta. Junto com ele, trabalha a esposa, Andréia, que abraçou o projeto quando ele ainda era um sonho. “A gente quer preencher o tempo ocioso desenvolvendo atividade esportiva, beneficiando a aprendizagem e a parte mental e física dos nossos atletas. A gente trabalha em equipe, prepara para uma vida saudável e minimiza os índices de violência”, comemora Andréia.
A dona de casa nasceu no bairro. Ela conta que no início sentia o preconceito das pessoas quando dizia onde morava, mas com o tempo o sentimento não fez mais sentido. “Aqui é um ótimo bairro para morar e se divertir. Tenho três filhas nascidas aqui e hoje em dia já não tenho problema com minha morada. Somos bem aceitos pelas outras comunidades”, garante.
A festa de aniversário
Yuri, Andréia, as três filhas e as 60 crianças da Escolinha do Tii fazem parte do contingente de 19. 595 moradores do Pirambu, segundo a Prefeitura de Fortaleza. Boa parte estará celebrando no próximo sábado, os 62 anos de luta e resistência do bairro. O tema da festa? Nosso clima é de paz!
A festa está sendo preparada pelo movimento Mobiliza Pirambu, que integra as diversas lideranças comunitárias do Grande Pirambu, formado pelos bairros Barra do Ceará, Quatro varas, Pirambu e Cristo Redentor.
A primeira atividade será concentrada no Vila do Mar, um grande projeto de requalificação da área, iniciado no início dos anos 2000 que requalificou a área e mudou a realidade de diversos moradores da comunidade.
As comemorações começam às 9h e seguem até às 15h, com uma ação social no calçadão, em frente ao Instituto Cai Cai Balão. Às 16h, haverá uma marcha com concentração na Av. Pasteur com Vila do Mar. “É um momento de festa mas também de reivindicação e a principal delas é a paz por conta da violência que ainda vivemos. Por isso, a ideia é todos irem de branco”, pede Helder Careca, morador do bairro e membro do Movimento Mobiliza Pirambu.
No final do dia, a partir das 18h, a Areninha do Pirambu será palco de apresentações artísticas e culturais para celebrar a luta e a coragem do bairro que conta um pouco a história de Fortaleza.
Serviço:
Aniversário de 61 anos do Pirambu
Data: Sábado, 27 de maio
Hora: 9h às 22h
Edição: Camila Garcia