Um homem de 23 anos está internado em estado grave na UTI do Instituto Doutor José Frota (IJF) depois de levar um tiro na nuca durante uma abordagem policial no bairro Granja Lisboa. De acordo com testemunhas, era madrugada do último domingo (7) quando Matheus Domingos Vieira e um grupo de amigos conversavam na Travessa B, da Rua 23, quando a polícia chegou de repente, atirando contra os rapazes.
Matheus foi socorrido e levado pelos próprios policiais para o IJF, onde está preso, em estado grave, com o projétil alojado na cervical. Segundo a irmã de Matheus, Michelle Cleone, ele está entubado, sob escolta policial e os médicos aguardam ele acordar. “Atiraram pelas costas. Ele correu porque a polícia chegou de uma vez e foi logo atirando neles. O tiro atingiu a nuca e desceu para a cervical”, conta.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os policiais militares estavam em patrulhamento quando se depararam com quatro homens com atitude suspeita. "No momento em que iriam abordar o grupo, houve uma troca de tiros e um dos suspeitos foi atingido. Matheus está preso por suspeita de receptação, tentativa de homicídios (contra os policiais) e porte ilegal de arma de fogo", informa a SSPDS. A família contesta. "Não foi encontrado nada com ele, nem arma, nem nada. A polícia diz que ele foi pego em flagrante com quatro cápsulas deflagradas, e cadê a arma?”.
Questionada pelo BdF, para saber se a polícia encontrou alguma arma, a SSPDS disse que demais informações não seriam repassadas para “ não atrapalhar os trabalhos policiais.” O caso está sendo investigado pela Delegacia do 32° Distrito Policial.
Contexto social
De acordo com o índice de vulnerabilidade do ranking dos bairros, os cincos bairros que compõem o Grande Bom Jardim estão entre os 12 mais vulneráveis de Fortaleza (Bom Jardim – 4º; Siqueira – 6º; Canidezinho - 10º; Granja Lisboa - 11º e Granja Portugal - 12º).
Segundo a dona de casa Edna Silva, há 21 anos moradora da comunidade São Cristóvão, onde aconteceu o crime, a truculência da polícia é algo comum no bairro, especialmente dos novos policiais militares. “Todo dia a polícia entra com violência na comunidade. Os novatos querem mostrar o seu poder, abordam quem tá sentado lá fora, dão choque nos rapazes, ameaçam de prender. Eles andam com flagrante na viatura para forjar as pessoas. Isso não é de agora não”, denuncia a moradora.
Na terça-feira, os moradores tentaram fazer uma manifestação contra as constantes abordagens violentas, mas segundo os manifestantes, a polícia dispersou o grupo atirando para cima. “A gente está fazendo esse movimento, sabendo que teremos represália, mas ninguém aguenta mais essa situação”, conta Edna.
Em nota enviada ao BdF para explicar a abordagem que resultou no tiro da nuca do Matheus, a SSPDS não respondeu sobre as outras denúncias de violência e abordagem policial. Em um texto padrão, informou apenas que a população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais pelo número 181 ou por meio do whatsapp da Secretaria no número (85) 3101-0181. O sigilo e o anonimato são garantidos.
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Edição: Camila Garcia