297 anos da capital reluzente que banha a vida de mais de 2, 700 mi habitantes com as águas salgadas dos mares que rodeiam a cidade. Agraciada com as mais belas paisagens que os olhos podem ver, Fortaleza distribui generosidade e acolhimento pelos braços dos seus moradores, conhecidos e fiéis defensores dos seus infinitos e esquecidos territórios.
Povo arretado, de linguajar próprio. Gente que vaia o sol e acredita na lua, que corre na chuva, que pula da ponte, que aposta na praça e come panelada no café. Que vai pra rua, que luta pelos seus direitos, que briga pelo que é certo. Povo trabalhador, gaiato por natureza, que abre um sorriso por qualquer brincadeira, mesmo que as marcas no rosto mostrem a lida do dia a dia. Há tantas beiras mar debaixo do céu furta-cor. Do litoral leste e todos os seus investimentos ao abandono vivido por quem mora do lado oeste da cidade, ou ainda na desestruturada periferia, é um afeto quase palpável pela Fortaleza em que nascemos, moramos ou adotamos com o decorrer do tempo.
Para quem carrega a força da cidade no nome, a identificação é ainda maior. O multiartista Pingo de Fortaleza é um filho atento e apaixonado, com décadas de canções criadas e manifestações por Fortaleza. “É uma Fortaleza apartada, historicamente construída de forma injusta, com as pessoas basicamente sobrevivendo da sua luta diária. Mas os marcos são importantes para refletirmos sobre os poucos espaços da cultura, a falta de editais para atender tantos artistas, que hoje, por exemplo, não estarão no palco para comemorar a cidade”, alerta o artista.
Tantas mudanças podem ser vistas ao longo de séculos. Quem por aqui chegou observa as fases da cidade, ora com encantamento, ora com lamentação. A executiva de vendas, Beth Amaral, natural do Piauí, mora há 21 anos na Fortaleza que ela viu se modificar. “A cidade está de parabéns por resistir a tantos problemas e dificuldades, mas está longe de ser a Fortaleza ideal, a Fortaleza de todes”, observa. Beth se refere às desigualdades sociais, a falta de segurança, a carência de políticas públicas que melhorem as escolas, a ação das facções criminosas que assustam os moradores. “A população é a grande beleza dessa Fortaleza”, ressalta Beth.
Há quem prefira viajar no tempo e lembrar da época em que Fortaleza estava livre de super prédios, como resultado da especulação imobiliária predatória que invadiu a cidade, modificando para sempre cenários que muitos olhos gostariam de continuar enxergando. “Mudanças irresponsáveis e criminosas que mexem com o modo como tratamos a cidade, que de alguma maneira,nos priva da doce sensação de nos sentirmos em casa. Vivemos em um lugar que propositalmente apaga sua história”, lamenta a jornalista Roberta Bonfim.
É com o mesmo olhar crítico que a professora, escritora e poetisa Carla Corrêa, enxerga a sede por respeito. Citando Ednardo, um dos nossos maiores poetas que temos, ela questiona: “Hoje a lua, já exausta talvez tenha desistido de observar o avanço dos prédios, farmácias e academias. E nós? O quê de nossa história e memória resiste?” reflete a poetisa, ao lembrar da letra da música Longarinas.
Messejana, Parangaba, Damas, Jacarecanga, Aldeota, Praia de Iracema, Mucuripe. Tantos encontros, abraços e endereços de vidas vindas do interior. Povo aguerrido que se entrelaça e embala a cidade com a força, o valor e a coragem que estão estampados na sua bandeira. Que nós continuemos a resistir, tal a qual a ponte velha que teima em não cair. Fortaleza, é teu aniversário e o melhor presente é o teu povo resistente.
Edição: Camila Garcia