As músicas da mixtape “Imigrante” trazem o som do drill, boombap e trap, influências trazidas das batalhas de rima que o rapper Kpivara participava desde os 12 anos, no seu país de origem, São Tomé e Príncipe, no continente africano. O álbum lançado em março, já está disponível em todas as plataformas digitais com 8 músicas: “Vungu Pingu”, “Imigrante”, “Makongo”, “N’ga Sêbê Sa Tagi”, “Amor Violento” e “Uê Gôdo”, além da faixa “T.M.P.M.” de kizomba, que abre o trabalho, e do afrobeat “Punda Kê Kuá”.
Foram três meses de produção que contou com a parceria de produtores angolano e português, como o Legend and BeatzTi e o Deejay_Show, respectivamente. O som traz referências africanas, misturando o português falado aqui, em São Tomé e em Portugal. Uma mistura que também busca reflexões sobre o cotidiano vivido pelos imigrantes negros, as desigualdades sociais e o racismo. Lições que só o rap é capaz de trazer. “Eu amo Fortaleza e encontrei outra casa fora do meu país e por isso eu quis ficar. Quero mostrar um trabalho diferente para o meio musical do Ceará. Eu me inspirei muito no som do rapper Angolano NGA, que fala da relação de imigrantes com os nacionais, mostrando tratamentos diferentes”, diz Kpivara.
A música que leva o nome do álbum "Imigrante" foi escrita no início da guerra da Ucrânia, em março do ano passado. Kpivara conta que começou a observar no espaço dado pela mídia e no tratamento dos refugiados brancos que fugiam do conflito. “A mídia não dá o mesmo espaço para as guerras que acontecem no continente africano. Muitas dessas guerras orquestradas pelos países imperialistas. E a forma como os imigrantes brancos eram tratados também era diferente. Na música, eu tento mostrar que o imigrante só procura refúgio e a pessoa negra não é ruim como tudo tenta mostrar,” ressalta o cantor.
Refletir sobre o racismo foi condição imposta ao rapper quando o artista saiu do seu país para estudar. Kpivara é engenheiro de energias formado pela Unilab, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, e ao chegar ao Ceará precisou lidar com várias formas de opressão. “Eu costumo dizer que os pretos nos países africanos só começam a ter consciência racial quando eles colocam o pé fora do seu país. Depois de sofrer preconceito em várias ocasiões, fui me colocando em outra posição e vendo que o Ceará também evoluiu muito na questão racial”, avalia.
A falta de oportunidade para imigrantes também se reflete na cultura. A música “Vungu Pligu” chama atenção para a forma como é feita a escolha dos artistas por parte dos contratantes em Fortaleza, com muitos artistas da cena underground sendo ignorados ou com poucas possibilidades para mostrarem os seus trabalhos.
Apesar deste ser o primeiro álbum lançado por Kpivara, sua trajetória artística tem diversos pontos marcantes como a abertura do show dos Racionais MC’s, no ano de 2015, em Fortaleza, quando fazia parte do grupo A.Se.Front, grupo de rap universitário criado com o propósito de unir a comunidade dos estudantes dos países africanos falantes da língua portuguesa como São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique.
Com o fim do grupo, Kpivara seguiu cantando e entre 2019 e 2022 lançou os singles “Barras, “Santola Squad”, “Nha Drill”, “Good Life”, “Desigualdade Social”, “Invejoso”, “Santomé”, “Carne Preta” e “Freestyle”. Músicas vivas que se contrapõem a diversas formas de opressão.
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Edição: Camila Garcia