Ceará

Espécie invasora

Predador venenoso: Mais de cem peixes-leão já foram encontrados no litoral do Ceará

Espécie invasora já foi encontrada em todos os municípios cearenses. Cientistas do Labomar analisam as amostras

Brasil de Fato, Fortaleza, Ceará |
A espécie é considerada uma ameaça ao ecossistema marinho porque o peixe-leão não possui predadores naturais e se reproduz rapidamente. - Foto: Alexandre Custódio/Siará scuba dive

Pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC) estão analisando as amostras das espécies de peixe-leão encontradas no litoral do estado. Desde a primeira aparição do animal  no Ceará, em março do ano passado, mais de 100 capturas já foram registradas em todos os municípios cearenses, mas o número é subestimado.

“Infelizmente nós não temos recursos federais ou estaduais para fazer esse acompanhamento junto aos pescadores e mergulhadores e os custos são muito altos. Nós estamos recebendo os que estão encontrando, mas o número de peixe-leão circulando é muito maior”, destaca Marcelo Soares, pesquisador do Labomar.

Há registro da espécie invasora desde o Amapá, na Costa Norte, até Pernambuco, no Litoral Nordestino. A espécie é considerada uma ameaça ao ecossistema marinho porque o peixe-leão não possui predadores naturais e se reproduz rapidamente. “Uma espécie de 17 centímetros já se alimenta e se reproduz. Nós encontramos peixes de 29 centímetros no Ceará, e em Fernando de Noronha há registros de espécies com 35 centímetros. Cada um  pode se alimentar de até 29 espécies de peixes. É uma expansão muito grande que vai acarretar na redução das espécies locais, com impacto nos ecossistemas e na produção pesqueira”, explica Marcelo.


No Ceará, o peixe-leão está aparecendo em áreas rasas e preocupa o número de acidentes. / Foto: David Magalhães/Siará scuba dive

No início de março, mergulhadores encontraram duas espécies de peixe-leão no Parque Marinho da Pedra da Risca do Meio, mesmo local onde ele foi visto pela primeira vez em Fortaleza, em novembro do ano passado. O animal estava a 17 metros de profundidade Outros dois foram capturados a 25 metros de profundidade no Pecém. Os mergulhadores também encontraram um peixe-leão no Naufrágio Macau, que fica no litoral de Fortim, e outra espécie foi encontrada no último sábado (24) em uma marambaia na praia de Icapuí. Os registros foram feitos por mergulhadores da equipe Siará Scuba Dive. 

Marambaias são artifícios utilizados pelos pescadores, simulando ninhos artificiais para atrair algumas espécies que se escondem em locais escuros e assim facilitar a captura. Muitas vezes, os pescadores utilizam pneus, tambores, tonéis e carcaças de veículos. Essas estruturas, além de serem proibidas, podem estar contaminadas, e o animal pescado nesses ambientes podem trazer riscos à saúde. 

"O resultado preliminar aponta a presença de metais pesados no estômago dos peixes que estão em análise no Labomar e por isso nós não estimulamos o consumo da carne desses animais. Além disso, o consumo não é regulamentado no Brasil”, ressalta Marcelo.

 

Em 2022, o IBAMA criou o Grupo de Trabalho para formular uma proposta de manejo do peixe-leão e articular com os órgãos ambientais, pesquisadores e especialistas, informações e documentos que ajudem na discussão para o enfrentamento da invasão da espécie no Brasil.

Na primeira vez que apareceu na região Norte do país, o peixe-leão estava em recifes com cem metros de profundidade. Aqui no estado, ele já apareceu em áreas costeiras mais rasas e cresce a preocupação com os acidentes, especialmente com os pescadores, pois os espinhos do peixe-leão são venenosos. Em abril do ano passado, um pescador sofreu com dores e convulsões depois de pisar em uma espécie. “Eu já recebi cerca de seis relatos de acidentes com pescadores. Cada espécie tem 18 espinhos e eles não usam luva, a água é turva e isso não ajuda. É uma questão de saúde pública”, alerta Marcelo.

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Edição: Francisco Barbosa