Ceará

Arboviroses

Entrevista | “A dengue não é brincadeira, morrem-se milhares de pessoas por ano no Brasil”

Adam Valente conversou com o Brasil de Fato sobre as precauções às arboviroses nesse período de chuva

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Em uma suspeita de dengue é importante buscar o serviço de saúde. - Foto: Marcos Moura/Prefeitura de Fortaleza

Ceará entrou na quadra chuvosa e nesse período é importante ter bastante atenção à prevenção das arboviroses, doenças causadas por artrópodes. Dentre eles, o mosquito aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, zika e da chikungunya. Algumas ações podem evitar a proliferação do mosquito, como manter baldes, potes, bacias, tambores e caixa d’água limpos e fechados corretamente. Mas, em caso de contágio, é preciso ficar atento. Para falar sobre esses cuidados o Brasil de Fato conversou com Adam Valente, médico da estratégia da saúde da família em Pacatuba, no Ceará e membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares. Confira

O que são as arboviroses?

As arboviroses são essas viroses. Nós temos duas famílias de vírus, aquela que vai englobar mayaro virus, chikungunya, mayaro virus é semelhante ao chikungunya, nós temos menos aqui no Brasil. E nós temos já aquelas velhas conhecidas, que são dengue e zika. Esses vírus são endêmicos no Brasil, ou seja, foram introduzidos. Arbovirose significa, do termo inglês, que é esse vírus carreado, transmitido por um artrópode, significa: arthropod borne viroses.

Nós temos esses vírus que estão convivendo conosco há muito tempo. Nós tivemos ciclos, em algum momento esses vírus meio que desapareceram do nosso convívio e na atualidade nós temos tido casos anuais pela proliferação e o próprio avanço dos seres humanos sobre os biomas. A pressão sobre os biomas fazem com que esses mosquitos, principalmente o aedes aegypti, já muito conhecido, carreiem esses vírus na nossa população. Então essa é definição geral do que é uma arbovirose, que são essas doenças virais. Alguns pacientes, algumas pessoas ainda não sabem que são vírus, mas são, não são bactérias, então não adianta usar antibiótico para essas doenças.

Há sintomas específicos que caracterizem as arboviroses?

Como são viroses os sintomas são muito pessoais, porque depende de corpo para corpo. Em geral, alguns sintomas são mais conhecidos: a dengue tem um sintoma um pouco mais clássico que é essa parte da febre um pouco mais alta, dor no corpo, moleza muito grande, sem espirro, sem dor de garganta, essa dor atrás dos olhos, mas é de cada paciente, por isso que é importante buscar o serviço de saúde e prestar atenção. Agora a questão é, os sintomas da dengue acontecem nos primeiros dias e depois passa, que é a fase que a gente chama de defervescência, ou seja, a febre diminui ali no segundo ou terceiro dia ela dá uma baixada, e aí é uma questão mais problemática porque o paciente melhora dos sintomas, volta para o trabalho e não busca o serviço, e aí é onde tem a queda de plaquetas, o risco de hemorragia, de desidratação porque o vírus ainda estar lesionando os vasos, ou seja, ainda tem risco para o paciente. 

A questão é: em uma suspeita de dengue é importante buscar o serviço de saúde, principalmente se você já teve uma dengue onde o risco de ter uma nova dengue é muito problemática, muito grande, então a gente tem que tomar cuidado nessa fase, ou seja, a dengue não é brincadeira, morrem-se milhares de pessoas por ano por dengue no Brasil. Isso é o ponto principal. E sintomas: dor no corpo, dor de cabeça, aqueles conhecidos sintomas de qualquer virose, aquela moleza que a gente chama, que é aquela dor no corpo como se tivesse um cansaço que você não sabe localizar nas articulações, aí são os sintomas da dengue. A zika é semelhante a dengue. A chikungunya quase sempre tem uma dor nas articulações que dá um pouco de diferença, apesar de o risco de morte de chikungunya ser um pouco menor, mas as dores agudas são muito preocupantes.

Siga as recomendações médicas, busque os serviços de saúde, estando bem você volta para casa, mas busque essa orientação e busque o serviço, principalmente o serviço de saúde no posto de saúde, não lotem as emergências quando não for necessário, busque sua atenção básica, o seu posto de saúde. O posto de saúde, em grande parte também está preparado para atender esses pacientes, deixa para ir para emergência quando realmente precisar fazer exame, quando for encaminhado do posto, mas passe pelo posto primeiro. 

Como está a situação no Ceará em relação a casos de arboviroses?

Nós já vemos, principalmente na prática clínica, que já estão chegando os primeiros casos, mas agora está iniciando a quadra chuvosa não só no Ceará como no Nordeste, mas principalmente no Ceará que é o lugar onde eu atuo. Então nos próximos meses nós sabemos que vai aumentar o número de casos porque é um aumento que acontecendo anualmente, que é o que caracteriza uma endemia, uma doença permanente que nós temos já um número esperado todos os anos para aquela doença no país.

Quais são os cuidados necessários para a prevenção dessas doenças?

Os cuidados principais que nós temos é: primeiro com a higiene. O mosquito para ser reproduzido precisa de água parada e às vezes água nem tão limpa assim, apesar de antigamente as campanha serem sempre “água limpa”. Não ter matéria orgânica acumulada dentro de casa, não ter água parada em grande quantidade. A pessoa pode dizer: “ah, mas não tem como a gente secar tudo”, “não vai deixar tudo seco no quintal”. Tudo bem, mas a questão é a proporcionalidade, se você tem uma tampinha de refrigerante aquilo vai produzir menos mosquito, agora se você tem um quintal, uma grande reserva de água a posta de ovos dentro daqueles lugares com água é muito maior, e aí, se você tem uma menor quantidade de mosquito você consegue matar com inseticida, você consegue fazer isso em uma outra medida menor e reduzir os mosquitos.

Outra coisa é limpar o seu quintal, se preparar para o período de chuva, porque quem sofre a picada do mosquito não são só os outros, mas quem mora dentro da casa também. E outra coisa também é abrir as suas casas para os agentes de endemia, para que eles possam fazer a sua busca ativa.


Uma das ações para combater as arboviroses é abrir as suas casas para os agentes de endemia, para que eles possam fazer a sua busca ativa. / Foto: Marcos Moura/Prefeitura de Fortaleza

Caso você seja diagnosticado com alguma arbovirose quais procedimentos deve fazer?

Na suspeita, se você tiver os sintomas iniciais, ou sintomas como dor atrás dos olhos, febre, dor de cabeça, dor no corpo, essa falta de ânimo que os pacientes relatam, e logo depois possam aparecer algumas manchas avermelhadas pelo corpo, busque o atendimento. É recomendado não tomar automaticamente por conta própria e também fazer hidratação, beber bastante água em todos os casos para que não fique desidratado, buscar o repouso, seguir as recomendações médicas e buscar o atendimento, mas sem superlotar os serviços, tentar utilizar a unidade básica de saúde, os postos de saúde, as emergências e seguir as orientações diretas do médico que está cuidando de você. Dependendo da gravidade e dos sintomas que você tiver ele vai lhe orientar.

A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares podem contribuir com a prevenção dessas doenças? Quais ações estão sendo realizadas pela Rede?

Na verdade, a principal a ação da Rede é a presença dos seus membros na atenção. Nós, como médicos, estamos na atenção direta aos pacientes, nós estamos atendendo esses pacientes em casa, nos hospitais, nas unidade básica de saúde, nas emergência, em todos os lugares, porque nós estamos no sistema de saúde, tanto público quanto privado, principalmente no SUS. Essa é a principal ação, da preocupação real da doença, mas o nosso papel é de formação popular, nós acreditamos que a saúde passa pela formação do usuário com o seu sistema de saúde, por isso nós defendemos que os pacientes saibam o que levar para a emergência, o que usar na unidade básica de saúde, quando usar, o que entender e não criar uma tensão entre o sistema de saúde e o usuário, para que a gente possa utilizar cada vez melhor os recursos que nós temos disponível.

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Edição: Camila Garcia