A partir da próxima semana, usuários do transporte urbano de Fortaleza irão pagar 60 centavos a mais na passagem integral dos coletivos. O aumento superior a 15% na tarifa será cobrado a partir do dia 19 de março. O valor, que passa de R$3,90 para R$4,50, preocupa quem precisa se deslocar de ônibus todos os dias. Trabalhadores desempregados, informais e aqueles que ganham até um salário mínimo, serão os mais prejudicados.
O transporte é um gasto fixo do trabalhador. Assim como o pagamento da luz, do aluguel, do supermercado. Rose Santos trabalha como diarista de segunda a sábado e assim como a maioria dos usuários do transporte coletivo foi pega de surpresa com o aumento das passagens. A diferença superior a 16 reais no fim do mês, deixou a profissional insegura, pois ela tem medo perder clientes. “Eu já avisei aos clientes e alguns já reclamaram porque vai sair do bolso deles também. Eu já tinha aumentado o valor da diária e do nada vou ter que repassar o da passagem. Vamos ter que encontrar um jeito para não prejudicar eles e eu não perder cliente, porque meu medo maior é esse”, se preocupa Rose.
E a preocupação é válida. Quem tem menor renda terá um impacto maior. A economista Thais Veras, especialista em economia aplicada pela USP, explica que o valor se torna mais significativo no fim do mês para quem recebe menos e a tendência é retirar ainda mais o lazer das pessoas, acentuando a desigualdade social “Num primeiro momento os trabalhadores terão que reduzir gastos com outras áreas da vida para poder cobrir essa elevação de custos no deslocamento, sofrendo uma perda de bem estar. Quanto menor for a renda das famílias, menor é a margem para cortar outras despesas por serem essenciais como luz, água, alimentação e aluguel”, ressalta a especialista.
A economista também alerta para os efeitos em empreendedores individuais e micro e pequenas empresas. “Haverá uma dificuldade maior em repassar a elevação deste custo, o que pode comprometer a manutenção dos negócios, gerar prejuízos financeiros e demissões de funcionários que moram distante. Empresas médias e grandes possuem maior capacidade de absorção de custos mas também buscarão, no médio prazo, repassar seus custos para o preço de seus produtos”, explica Thaís.
Na última quarta-feira, um dia depois do anúncio do aumento, os vereadores aprovaram na Câmara Municipal a ampliação do subsídio da Prefeitura de Fortaleza para R$ 90 milhões, por ano, para as empresas que operam na Capital. A aprovação gerou revolta em alguns parlamentares. O vereador Júlio Brizzi, do PDT, mesmo partido do prefeito, se posicionou contra a mensagem porque o pedido da Prefeitura chegou em caráter de urgência, sem os dados do transporte público de Fortaleza para o debate “A matéria aumenta o subsídio e a tarifa. É uma folha frente e verso que não explica nada, não tem os dados do transporte para debater o sistema. O subsídio é de R$ 90 milhões por ano, é mais de R$ 7 milhões por mês e eu não me sinto à vontade de tratar uma matéria importante dessa, sem informação”, declarou o parlamentar na ocasião.
A co-vereadora Adriana Gerônimo, da Mandata Nossa Cara (Psol), também questionou o aumento da passagem, mesmo com a aprovação do subsídio. "Acabamos de aprovar R$ 90 milhões de subsídio",que é para não haver aumento de passagem, ele pode rever esse aumento”, alegou a vereadora.
O anúncio do aumento da tarifa gerou uma guerra de versões entre o Prefeito José Sarto (PDT) e o Governador Elmano de Freitas (PT), enfraquecendo ainda mais a aliança entre os dois poderes, que já estava desgastada desde as eleições de 2022. Na terça-feira (7), ao anunciar o aumento, o prefeito José Sarto justificou os novos valores, alegando que, em pleno mês de março, o Governo do Estado ainda não havia feito o repasse mensal de R$3 milhões para subsidiar o serviço. O valor é o mesmo que a Prefeitura repassa para pagar as empresas que fazem o transporte na Capital. “Para vocês terem ideia, a Prefeitura de Fortaleza subsidia as passagens com R$ 3 milhões por mês. Até 2022, havia uma parceria com o Governo do Ceará, que aportava mais R$ 3 milhões. Porém, chegamos em março de 2023 e, até agora, esse recurso do Estado não chegou. Diante disso, enviei projeto de lei para a Câmara Municipal ampliando o aporte para até R$ 90 milhões/ano", escreveu o prefeito.
O governador Elmano de Freitas (PT) rebateu às críticas, em seguida. Também nas redes sociais disse que Sarto “tenta transferir a responsabilidade de aumento de passagens de ônibus para o Governo do Estado”. O governador disse ainda que embora o transporte público municipal seja responsabilidade direta da prefeitura, o Estado ajuda a manter serviço com “cerca de R$ 30 milhões/ano, através da redução em 66% na base de cálculo do ICMS do Diesel” utilizado pelas empresas de transporte urbano. Em nota, o Governo do Estado informou que “não existe outro convênio vigente com a Prefeitura de Fortaleza para repasse extra de recursos para essa área”.
Qualidade do serviço
O aumento da tarifa de ônibus vem aliado a outro problema: a qualidade do serviço prestado pelo Sindônibus. Usuários reclamam da demora para chegar o ônibus, da falta de ar-condicionado nos veículos e até da nova catraca, que por ser alta demais, tem prejudicado muitos passageiros. A Rose que mora no Conjunto Esperança, muitas vezes precisa sair de casa antes do sol raiar para chegar na casa dos clientes com tempo para fazer tudo. "Eu levo quase três horas para ir e para voltar de quase todos os destinos que eu vou. Se eu perder o ônibus de 5:15h da manhã, o outro não passa tão cedo. Não é nem meu trabalho que cansa, é esse sufoco todo dia, essa espera, demora pra chegar em casa", lamenta a diarista.
Na publicação das redes sociais, o prefeito Sarto informou que exigiu o retorno do ar-condicionado nos veículos e o aumento da frota para melhorar a vida dos usuários.
Tarifa estudantil
Desde a última quinta-feira (9), estudantes já pagam o valor da nova tarifa que foi reduzida, passando de R$1,80 para R$ 1,50. De acordo com a Prefeitura de Fortaleza, 285 mil estudantes serão beneficiados com o novo valor, o que representa 12% dos usuários do transporte público.
Valores a partir do dia 19 de março
Valor tarifa inteira: de R$ 3,90 para R$ 4,50;
Hora Social (segunda a sexta-feira, das 9 às 11 horas e das 14 às 16 horas): de R$ 3,30 (inteira) e R$ 1,50 (tarifa estudantil) para R$ 3,90 (inteira).
Tarifa Social (domingos, dia 13 de abril, 31 de dezembro e 1 de janeiro): de R$ 3,30 (inteira) e R$ 1,50 (tarifa estudantil) para R$ 3,90 (inteira)
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Edição: Camila Garcia