Dezenove vezes campeã do carnaval de Fortaleza, a escola de Samba Unidos do Acaracuzinho entrou na avenida Domingos Olímpio, na noite desta terça-feira (21), anunciando que seria o último desfile da agremiação na festa da capital.
De acordo com um dos intérpretes da escola, o músico Carlos Guilherme, faltando uma semana para o carnaval, a Secretaria de Cultura de Fortaleza comunicou durante uma reunião que a agremiação fundada em Maracanaú, município da Região Metropolitana, não poderia competir no carnaval de Fortaleza. Pegos de surpresa, os integrantes tentaram negociar a participação da escola, mas só conseguiram desfilar como convidados do evento.
“A justificativa da secretaria é de que as agremiações de Fortaleza também precisam ter a chance de ganhar o carnaval e nós concordamos. Mas para isso, a gestão, a secretaria de cultura de Fortaleza precisa investir nas escolas. A verba de 22 mil reais que as agremiações recebem no carnaval não dá pra pagar os investimentos que fazemos na avenida. Nós temos 19 títulos e precisamos ser respeitados”, alegou o intérprete.
Em protesto, a escola entrou na avenida apenas com uma pequena parte dos integrantes. Os quatro carros alegóricos que deveriam entrar na avenida, não chegaram a ser finalizados no barracão da escola. No início do desfile, ao conversar com o público e explicar o desfalque na Avenida, a escola teve o microfone cortado em diversas ocasiões. A situação ficou tensa e evoluiu para xingamentos e agressões entre integrantes da agremiação e seguranças que trabalhavam na Domingos Olímpio.
“Tentaram nos calar por causa de cinco mil reais. Esse é o valor da premiação e nós tentamos negociar dizendo que se ganhássemos o prêmio, dividiríamos o valor com o segundo e o terceiro lugar, mas não permitiram. Nosso objetivo era desfilar em respeito ao público que sempre nos prestigiou, mas não foi possível, explicou Carlão.
Quem estava nas arquibancadas se surpreendeu com a confusão. A dona de casa Marta Oliveira foi com as filhas, a mãe e alguns vizinhos para prestigiar a escola, mas se decepcionou. “Eu ainda tô sem acreditar que a escola que mais ganhou tá proibida de desfilar depois de 20 anos na avenida Um desrespeito com quem trabalha o ano todo e com a gente que vem na expectativa de assistir a festa,” disse indo embora.
Para o comerciante José dos Santos, a decisão da Secretaria de Cultura de Fortaleza precisa ser revista. “Mesmo a escola sendo de Maracanaú, faz muito tempo que ela tá no carnaval. Aí vão tirar e ficar por isso mesmo?”, indagou o folião.
A Escola de Samba Unidos do Acaracuzinho foi fundada em 1983 em Maracanaú e já no ano seguinte conquistou seu 1º título oficial no carnaval de rua de Fortaleza. Foram 19 títulos em 22 apresentações. Este ano, a escola preparou o enredo “O dia em que a terra parou. Que loucura seria se não houvesse carnaval,” em homenagem aos 40 anos do município de Maracanaú e abordando os danos causados pela pandemia da Covid-19, o valor da liberdade e o direito de ir e vir.
No próximo sábado (25), a escola participa, com todos os integrantes e alegorias, do desfile promovido pela Prefeitura de Maracanaú com os campeões do carnaval, incluindo escolas de samba, blocos e maracatus. A festa começa a partir das 18h , na Avenida Central de Acaracuzinho.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Cultura de Fortaleza para saber o posicionamento da gestão. Em nota, a Secultfor informou que a escola de samba foi comunicada que participaria apenas como convidada e que a decisão atende a uma reivindicação antiga das agremiações que fazem parte de Fortaleza.
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Edição: Camila Garcia