Acho que uma das coisas mais importantes que aconteceu comigo quando completei 40 anos foi dar conta da solidão que a gente enquanto ser social carrega, e que nada vai preencher ou fazer desaparecer. Acho que sempre olhei pra essa solidão em mim, mas ou romantizava, ou sofria pela existência dela. Agora, passei a reparar nela com olhos de lírica cotidiana: sem dor e sem afobação, apenas constatando a sua existência permanente.
Saber que ela é parte ineliminável da vida em mim.
Quando eu era criança devo ter pensado que a mamãe preenchia esse vazio. Depois na adolescência, que era papel dos amigos preencherem essa parte em mim. Em algum momento da juventude achei que o amor romântico seria o responsável por entupir essa solidão persistente. Em um outro momento da idade adulta cheguei pensar que seria a militância, ou ainda, que ficaria para a arte o papel de ser a salvadora de mim, de eliminar de mim esse estar sozinha dentro.
Agora com 40 anos, o que me salta é que essa solidão é também o que me constitui, o que me sustenta e o que me faz ser quem eu sou. É uma solidão que permanece que não acaba que me faz plena, por assim dizer.
Penso que esse foi o meu maior ganho e que ele pode resumir bem todas as sensações e mudanças que ocorreram em mim desde meu aniversário de 40 anos.
Acolher isso foi libertador ao ponto de pensar que mesmo a permanência é varia. Que todas as outras coisas são minúsculas diante dessa solidão que carrego, mesmo que a revelia. E que no fundo, penso que todo mundo carrega em si também, tendo consciência ou não disso.
Então, a busca pelo corpo perfeito, pela aceitação plena, pelo reconhecimento, pela inteligência, são meios de lidar com esse fato ineliminável da vida: a solidão que carregamos em nós. E não falo aqui do vazio subjetivista imposto pelo capital e que luto cotidianamente para fazer ruir. Falo de um estado permanente de ser você, que inclusive é engolido por esse sistema de morte que nos nega o direito de sermos só nós e nós, de sermos nossa própria e mais potente companhia, nós nega o direito humano ao ócio e ao não produtivismo.
Acho que gostei muito de compreender isso dessa forma, acho tem me feito olhar e viver a vida de outra maneira e consequentemente tem me feito mudar coisas em mim. Tem sido boa a jornada do eu com meu vazio e com minha solidão, tem sido boa a companhia.
*Professora em Fortaleza (CE) e militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Camila Garcia