Janeiro é mês de férias escolares e uma opção para quem quer aproveitar esse período com a família, ou simplesmente fugir da correria do dia a dia é o turismo comunitário, uma prática que proporciona aos visitantes experimentar o convívio com modos de vida tradicionais, além de fortalecer os cuidados com o meio ambiente. Aqui no Ceará temos algumas opções de turismo comunitário. Para falar sobre o tema o Brasil de Fato conversou com Ana Lima, agricultura, artesã, cozinheira e coordenadora executiva da Rede Cearense de Turismo Comunitário, a Rede Tucum.
O que é o turismo comunitário?
O turismo comunitário é uma atividade que surgiu entre 2008 e 2010. Na verdade, as articulações surgiram bem antes com a chegada e com o fortalecimento do turismo convencional. As comunidades precisavam ter alguma atividade que chamasse a atenção da sociedade para que elas vissem que essas comunidades existiam e o turismo comunitário foi criado nesse sentido.
A primeira linha do turismo comunitário é a defesa do território, depois vem o respeito às diversidades, o cuidado e o respeito com o meio ambiente, a igualdade de gênero e agregar valor à potencialização que existe nessas comunidades, como a questão da pesca artesanal, da agricultura, dos artesãos e, principalmente, o empoderamento feminino. Então se viu que estava faltando alguma atividade relacionada ao fortalecimento dessas pessoas, dessas comunidades e o turismo comunitário não vem como um negócio, mas sim como uma articulação entre comunidades, porque não se faz turismo comunitário só. Uma articulação entre comunidades de fortalecimento de todas as culturas locais existentes nessas comunidades do litoral do Ceará
O turismo comunitário é uma atividade a mais, não diferente da pesca e nem da agricultura, porque para fazer o turismo comunitário a gente precisa ter essas atividades tradicionais já citadas. Tudo tem que ter agricultura, tem que ter o ambiente preservado. A comunidade que não tem o meio ambiente preservado fica muito difícil de trabalhar o turismo comunitário, e sem essas atividades tradicionais que as comunidades sempre tiveram.
Qual a diferente do turismo comunitário e o turismo convencional?
A diferença do turismo comunitário para o turismo convencional são muitas. A gente vai na contramão de todos os projetos que o turismo convencional trás, que são projetos de destruição do meio ambiente, são projetos de exploração, principalmente dos trabalhadores, principalmente o trabalho feminino, mulheres que são exploradas, não tem nenhum respeito com as comunidades locais e eles estão focados na questão do capital, de tirar esses espaços das comunidades. O turismo comunitário quer manter os espaços das comunidades.
O turismo convencional vem colocar grandes empreendimentos, resorts, privatizar as praias, que é exatamente destruir aquele ecossistema porque eles exploraram até não ter mais nada e depois vão explorar em outro lugar e a função do turismo comunitário é justamente combater essa forma de turismo predador, de turismo nocivo, porque a gente sabe que existe sim as pessoas que são boas, as pessoas que tentam fazer um trabalho decente, mas o grande empresário, o grande empreendedor do turismo convencional quer saber do capital, ele não quer saber de preservar, ele não quer saber de respeito às comunidades, ele quer empregados para trabalhar para ele, para o capital dele sempre aumentar mais, diferente do turismo comunitário onde existe uma partilha desses trabalhos, dessas atividades.
Existe as famílias que se organizam, não é só uma família que pode fazer, que pode estar desenvolvendo todas essas atividades dentro da comunidade. O turismo comunitário tem uma rotatividade de atividades com os comunitários onde toda a renda que entra, que vem de fora para dentro da comunidade possa ser dividido. Tem os espaços que fazem alimentação, tem os espaços que fazem hospedagens, tem as pessoas que fazem trilhas, grupo dos pescadores, os quintais produtivos que sede os alimentos para as barracas, para as casas que trabalham com alimentação. Então esse recurso, essa renda que entra é toda dividida dentro da própria comunidade.
E qual é a importância de fortalecer esse tipo de turismo?
Esse é um questionamento que vem sendo feito já há muito tempo, que é o apoio do poder público. Políticas públicas para esse tipo de turismo, para essa modalidade, até porque a gente entende que o turismo comunitário, apesar dele ser muito massacrado vem crescendo, as pessoas vem procurando mais. Então o que falta é o apoio, são as políticas públicas para formações, para incentivo, para estruturar o turismo. Então eu acho que se o poder público olhasse para essa modalidade, o turismo comunitário estaria em um patamar bem melhor, bem mais alto.
O que é a Rede Tucum? Como ela surgiu e qual é o seu propósito?
Ela foi formada por comunidades que estavam sofrendo e passando as mesmas ameaças: as lideranças comunitárias sendo ameaçadas, a invasão do turismo de massa dentro dessas comunidades. Então foi preciso criar um movimento, esse movimento que ia na contramão, mostrando para eles que ali existia pessoas e que as comunidades também sabiam trabalhar o turismo, porque desde sempre foi a gente que esteve aqui, as comunidades que estiveram naqueles espaços sempre recebendo as pessoas.
Então já há muitos anos, antes de existir a Rede Tucum, já existia esse movimento, mas que não era reconhecido, nem por nós próprios. Então esse movimento vem também para mostrar que nós, comunidades tradicionais, sabemos fazer turismo e um turismo sem maquiagem, um turismo mais da realidade mesmo, mostrando realmente como que é a comunidade. As vezes vem para hospedagem, a hospedagem é simples, não gostam muito, mas essa, na verdade, é a realidade das comunidades, das pessoas que vivem nesses territórios. Então eu acho o turismo comunitário o turismo mais original possível porque é nele que você encontra o pescador que sabe contar história da pesca artesanal, é nele que você pode ir na casa do agricultor e conversar sobre agricultura e mostrar de onde está saindo aquele alimento que o visitante está consumindo.
Eu entendo como um turismo bem real, de verdade mesmo, sem nenhuma maquiagem e ele foi criado para isso, para mostrar que existem pessoas, que a gente sabe fazer turismo do nosso jeito e que a gente já estava aqui antes da especulação imobiliária e do turismo chegar.
A Rede Tucum está presente em quais cidades do Ceará?
Hoje, a Rede Tucum está presente em doze comunidades. Ela está de Icapuí à Camocim. Eu vou passar os nomes aqui das comunidades começando lá de Camocim: Tatatajuba, que fica em Camocim; Curral Velho, que fica no Acaraú; Caetanos de Cima, que fica em Amontada; Assentamento Maceió, que é lá no acampamento Nossa Terra, que fica em Maceió, no município de Itapipoca; No Frei Humberto temos uma sala de eventos e uma parceria com eles, que é em Fortaleza; a Terra Indígena Jenipapo kanindé, em Aquiraz; Resex do Batoque, em Aquirás; Prainha do Canto Verde, que fica em Beberibe; Quilombo do Cumbe, que fica em Aracati; e em Requenguela e Córrego do Sal, que fica em Icapuí. São essas comunidades que hoje se faz presente na Rede Tucum.
E quem quiser conhecer mais sobre a Rede Tucum e sobre seu turismo comunitário pode pegar essas informações onde?
A Rede Tucum tem um site, mas ele tá com problema de atualização, ele está desatualizado, mas assim, tem as comunidades e todas as comunidades tem as suas redes sociais: Instagram, Facebook e no Google você também vai encontrar informações sobre o turismo comunitário.
E quem quiser saber mais sobre o turismo comunitário em Caetanos de Cima?
Sobre Caetanos de Cima a gente tem o Instagram e lá na página tem o meu telefone, meu WhatsApp. Sou eu que estou atualmente cuidando e passando algumas informações para as pessoas que querem vir, conhecer, que querem conversar. Tem o Instagram @VisiteCaetanosdeCima, @CaetanosdeCima e o meu é @espaçocabaçadecolo.
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Edição: Camila Garcia