Com seis anos de atuação no Ceará, o Instituto de Formação, Capacitação, Pesquisa, Arte, Cultura e Direitos Humanos Pula Fogueira (Instituto Pula Fogueira) surgiu em 2016 a partir de lideranças do Assentamento 25 de Maio, o primeiro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Ceará, e do vizinho Assentamento Tigre dos Carneiros, dividido entre os municípios de Quixeramobim e Madalena, na região do Sertão-Central.
A iniciativa de criação do Instituto se deu de forma coletiva, assim como todas as lutas travadas pelo Movimento para a conquista de seus direitos, com a organização de jovens e militantes que naquele ano eram responsáveis pelos trabalhos da cultura no Assentamento 25 de maio. Em 2016, além de organizar os grupos culturais no Assentamento e mostrar todo trabalho realizado no território, a criação do Instituto ainda tinha como objetivo formalizar uma associação que pudesse captar recursos para o Grupo Junino Arraiá Pula Fogueira, que por sua vez. Vale ressaltar que, o grupo junino é o primeiro grupo do MST a entrar em competições das etapas do Ceará Junino.
De acordo com André Luís, presidente do Instituto e educador na do campo Escola Margarida Alves, localizada no Assentamento 25 de maio, fazer cultura e principalmente quadrilha junina é uma forma de resistir, em um país onde os investimentos no setor da cultura no governo anterior não existiram. “Por isso, levar o nosso grupo junino para ocupar o São João, com temas relevantes para a sociedade brasileira, levar nossa bandeira para as arenas de São João Ceará afora, não é pouca coisa, e nós decidimos ocupar esse espaço que até então nenhum grupo nosso tinha se desafiado a entrar”, pontuou.
O Pula Fogueira é responsável por desenvolver diversas atividades e ações no Assentamento 25 de maio. No setor cultural, o objetivo do Instituto é ajudar na organização dos grupos culturais no assentamento e fomentar a criação de novos grupos, como, por exemplo, o Grupo Raízes do Sertão, na Escola do Campo João dos Santos de Oliveira (João Sem Terra), e o Grupo de Teatro Carcará, ambos fomentados pela Escola que também possui papel fundamental na organização da cultura no território. Além desses grupos, o Instituto ainda foi fundamental para a organização do grupo Brilho Junino (quadrilha infantil), organizado pela Escola de Ensino Fundamental Educadora Elionia (Escola 25 de Maio 02).
E não para por aí. Durante a pandemia o Instituto foi responsável por desenvolver diversas ações de solidariedade através de projetos apoiados pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao todo foram distribuídas cerca de 100 cestas básicas e 2 mil marmitas solidárias para as famílias carentes que residem nas periferias de Madalena. “Durante a pandemia realizamos também diversas oficinas, lives e seminários de formação com a juventude, como o “Seminário Vidas Negras Importam”, realizado em 2021, em parceria com a Coordenadoria de Políticas para a Igualdade Racial do Ceará (CEPIR)”, destacou o presidente do Instituto.
Segundo o levantamento feito pelo setor de cultura do MST, em 2021 havia mais de 150 grupos culturais espalhados pelos assentamentos e acampamentos da reforma agrária, sejam de quadrilhas juninas, reisados, teatro, entre outros. “Talvez os grupos juninos sejam mais conhecidos pela expressão de organização e os festivais realizados, mas a diversidade cultural em nossos assentamentos e acampamentos é de uma lindeza que não tem tamanho”, afirmou André Luís.
Para 2023, André Luís conta ter grandes expectativas e reafirma a permanência na luta em defesa da cultura dentro do estado, “independente do governo, nosso papel é está na luta”. O presidente destacou os avanços nas políticas de acesso aos editais na Secretaria de Cultura (SECULT) com a categoria de culturas camponesas, e apontou também a importância da luta pela desburocratização da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). “Este ano com a secretária Luisa Cela à frente da SECULT, esperamos avançar cada vez mais, a cultura merece o povo cearense e tenho certeza que o Governador Elmano de Freitas tem compromisso com a cultura e sobretudo com o povo mais humilde do nosso estado”, findou.
Este ano, o pula fogueira tem como objetivo focar nas ações de formação com a juventude dos assentamentos e acampamentos da reforma agrária.
Tradição Junina nos assentamentos da Reforma Agrária: Arraiá Pula Fogueira
Entre 2016 e 2018, a quadrilha junina Arraiá Pula Fogueira realizava suas apresentações somente em comunidades, assentamentos e eventos realizados pelo MST, quando não havia perspectivas competitivas, tendo somente o amor e a alegria de estar levando a magia do grupo junino em noites de São João.
Já em 2019, com o tema “MST Ceará 30 anos de luta e resistência popular”, o grupo participou pela primeira vez dos festivais de quadrilhas juninas de caráter competitivo, tornando-se o grande destaque nos arraiais de Canindé e do Sertão Central. Em 2020 e 2021, mesmo com o advento da pandemia do Covid-19, a quadrilha não ficou parada, e realizou lives, ciclo de palestras e oficinas virtuais com os membros da quadrilha para de manter o contato e as atividades mesmo que virtualmente. E por fim, em 2022 o tema trabalhado pela quadrilha foi “Vidas negras importam”, e buscavam denunciar o racismo no Brasil e fazer uma homenagem ao Povo Negro.
Para André Luís cultura é política e não devem ser dissociadas. O educador destacou todos os temas trabalhados pela quadrilha nos anos anteriores e reafirmou que todos os grupos juninos sempre buscam levar temas relevantes para os festivais. “É isso que nos inspira, a cultura é enfrentamento. O Arraiá Pula Fogueira é resistência, é luta, somos filhos da lona preta, somos do primeiro assentamento do MST Ceará, a política está em nossas veias, por isso esse link é natural, ainda mais passando pelo momento de turbulência política que vivenciamos nesses últimos quatro anos de fascismo”, concluiu o presidente.
De acordo com André Luís, em 2023, o tema a ser trabalhado dentro do grupo junino e levado para as quadras dos festivais é “Madalena coração do Sertão cearense”, e deve contar a história do município traduzida nos figurinos e adereços utilizados pelos brincantes.
O público pode acompanhar as atividades da Quadrilha Junina Arraiá Pula Fogueira através do Instagram @arraiapulafogueira e pelo Facebook @institutopulafogueira
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Edição: Camila Garcia