O acampamento bolsonarista em frente ao quartel da 10 Região Militar foi desmontado em Fortaleza. Por volta de 11 horas desta segunda-feira (09), os próprios golpistas retiraram as barracas e cartazes, pouco depois que o Governador Elmano de Freitas (PT) declarou que o acampamento seria desmontado, seguindo a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Em entrevista à imprensa no final da manhã, Elmano disse que espera respeito aos poderes e à democracia que resultou em Lula como presidente do Brasil para os próximos quatro anos. O governador destacou que o país precisa se unir para reconstruir o Brasil deixado por Bolsonaro. “Espero que as pessoas respeitem a democracia, saibam perder e ganhar uma eleição sem desrespeitar os poderes. Esse não é o caminho. Nós temos que nos unir para reconstruir o país e resolver os problemas do nosso povo. Desemprego, fila de cirurgia, pessoas passando fome. É disso que temos que cuidar urgentemente”, destacou.
A determinação do ministro Alexandre de Moraes foi motivada pelos atos de terrorismo praticados por extremistas bolsonaristas que, no último domingo (8), invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, em Brasília. Sob o olhar conivente dos policiais militares, golpistas quebraram vidraças, destruíram gabinetes, obras de arte, roubaram armas, munição e deixaram um rastro de vandalismo e perdas históricas e culturais irreparáveis para o país. Centenas de pessoas foram presas e outras serão investigadas.
Envoltos na bandeira nacional, com os dizeres Ordem e Progresso, grupos terroristas, que se autointitulam patriotas, inconformados com a derrota nas urnas, já estavam se preparando e anunciando atos antidemocráticos nas redes sociais. Parlamentares apoiadores do ex-presidente chegaram a incentivar a invasão, com o objetivo de reverter a posse do presidente Lula.
O deputado federal André Fernandes, do PL do Ceará, e um dos principais apoiadores de Bolsonaro chegou a publicar no twitter, na noite de sexta-feira, que participaria do ato golpista em Brasília. No dia do ato, o parlamentar postou a foto da porta quebrada do gabinete do Ministro Alexandre de Moraes, no STF. As duas postagens foram apagadas depois da repercussão negativa da invasão, no mundo inteiro. Em contato com o BDF, André Fernandes informou que não participou da tentativa de golpe e que “repudia veemente qualquer ato de vandalismo, depredação ou invasão”. O parlamentar afirma que publicou sobre o ato, pois até então “parecia legítimo para todos” e que “não é com quebra-quebra que se deve lutar pelos seus direitos.”
Durante o fim de semana, a militância bolsonarista desembarcou em centenas de ônibus, em frente ao quartel, onde estava montado o acampamento dos golpistas em Brasília, desde que Bolsonaro perdeu as eleições. O ministro da Justiça, Flávio Dino, chegou a determinar no sábado (7) o uso da Força Nacional durante o fim de semana para evitar algum tumulto. Entretanto, as imagens divulgadas pelos próprios golpistas mostram que a cautela não foi suficiente, pois policiais militares agiram em conivência à tentativa de golpe. A ação resultou no afastamento, por noventa dias, do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Antes, porém, ele exonerou o secretário de segurança de Brasília e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres.
Pelas redes sociais, o ministro da Educação e ex-governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou o ataque como gravíssimo: "Gravíssimos os ataques golpistas ocorridos hoje no DF, com a invasão e depredação do Congresso, Planalto e STF. Um inaceitável atentado à nossa Democracia, que merece resposta dura e imediata contra todos os envolvidos", disse Camilo Santana.
Prejuízo do terrorismo
Ainda não se sabe o tamanho do prejuízo causado pelos atos terroristas ocorridos no último domingo (8), mas os especialistas identificaram que a obra de arte mais antiga em exposição no STF foi completamente destruída e não há possibilidade de reparos. Trata-se de um vaso chinês da dinastia Shang, de cerca de 3.500 anos. A peça de valor inestimável foi um presente do governo da China ao STF e foi estraçalhada pelos golpistas.
Um relógio de pêndulo raro, presente da Corte Francesa para Dom João VI está entre os itens históricos destruídos pelos extremistas. Os criminosos arrancaram uma estátua de Netuno que ficava no topo do objeto, os ponteiros e os números da peça. O quadro “As Mulatas”, do pintor carioca Di Cavalcanti, de 1962, que fica no Palácio do Planalto, teve, pelo menos, sete perfurações.
O arquiteto Rogério Carvalho, especialista em artes e diretor de curadoria dos palácios presidenciais, relatou imagens de tristeza e destruição, especialmente no segundo andar do Palácio. “É uma cena de tristeza para quem se relaciona diretamente com o patrimônio. Para mim tem um peso maior pois é meu objeto de trabalho. Foi muito vandalismo, perdemos muitas esculturas, fora os danos para a arquitetura. O segundo andar foi virado ao avesso, o terceiro andar também tem vários pontos de destruição. Felizmente não conseguiram entrar na sala do presidente, nós remontamos ela na sexta à noite”, disse.
Rogério disse ainda que o Iphan do Distrito Federal e o Ministério da Cultura estão acompanhando de perto a apuração dos fatos, mas os prejuízos são inestimáveis. “Eu não pude tocar nas obras, vi algumas boiando em poças d'água, outras que estão viradas para baixo que eu não consegui nem ver como estão. Vamos precisar de muita força para recuperar isso”, lamentou.
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Edição: Francisco Barbosa