A posse do presidente Lula trouxe reconhecimento aos povos indígenas e protagonismo às lideranças que ocupam diversos cargos no atual Governo Federal, depois de quatro anos sendo excluídos e invisibilizados pelo Governo Bolsonaro.
Nas primeiras horas do seu governo, Lula acatou duas sugestões do GT dos Povos Indígenas: revogou o decreto que permitia garimpo em terras indígenas e corrigiu o nome da Funai para Fundação dos Povos Indígenas. Além de Sônia Guajajara, como Ministra dos Povos Indígenas e de Joenia Wapichana na presidência da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), destaca-se o nome do cearense Weibe Tapeba, que chegou a ser indicado para ocupar o ministério e assumiu a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI).
Nas redes sociais, articulações e federações indígenas de todo o país comemoram os avanços nas políticas voltadas para os povos originários. A Apib - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - reconheceu a nomeação de Weibe como estratégica “para garantir que as demandas dos povos indígenas na área da saúde sejam atendidas”, já a APOINME - Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo, considerou o momento histórico e de “fortalecimento do Movimento indígena no novo governo”.
Weibe Tapeba é líder do povo indígena Tapeba, do município de Caucaia, no Ceará, advogado e vereador. É muito atuante entre as organizações indígenas no âmbito estadual, regional e nacional. Seu nome compôs a lista tríplice enviada ao Presidente Lula para ocupar o Ministério dos Povos Indígenas. Weibe coordenou a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará – FEPOINCE e compõe o departamento jurídico da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo - APOINME.
Por meio das redes sociais, Weibe agradeceu o apoio dos movimentos indígenas e populares que o apoiaram. Ele garantiu que a gestão será pautada no diálogo com gestores e coordenadores de territórios visando reconstruir e fortalecer os movimentos. Weibe também destacou que está comprometido com a força de trabalho existente nos territórios de todo o país.
O fim do governo de Jair Bolsonaro deu voz aos grupos excluídos e invisibilizados historicamente por grande parte da sociedade e perseguidos pelo ex-presidente e seus apoiadores. A cerimônia de posse do presidente Lula foi o pontapé inicial de um longo caminho de reparação histórica do país com diversas representações marginalizadas ao longo de séculos. Além de receber a faixa presidencial de representantes do povo brasileiro, Lula trouxe de volta o Ministério das Mulheres e criou o Ministério da Igualdade Racial e do Ministério dos Povos Indígenas como sinais evidentes dessa mudança.
Política indigenista no Ceará
Seguindo os passos do Governo Federal, o governador Elmano de Freitas (PT) criou as mesmas pastas a nível estadual. O Ceará terá pela primeira vez uma secretaria para cuidar dos interesses dos povos indígenas e a pasta será comandada pela Cacika-Irê do povo Jenipapo-Kanindé Juliana Alves.
Juliana é professora indígena e mestre em antropologia pela Universidade Federal do Ceará. Ela foi candidata a deputada estadual nas eleições de 2022 e obteve mais de 5700 votos. Ela é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e vice-coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Ceará (AMICE).
Filiada ao PcdoB, Juliana é filha da cacika pequena, a primeira mulher a comandar uma aldeia no Brasil e desde menina acompanha as lutas da mãe pelo reconhecimento da terra e da existência dos povos originários. Em entrevista ao BDF, Juliana contou que foi com a mãe, ouvir o convite do governador Elmano para assumir a secretaria, depois de ter conversado com Weibe Tapeba. “Meu irmão Weibe Tapeba ia assumir essa secretaria, mas durante as reuniões de planejamento dos povos indígenas, ele me chamou para conversar e disse que havia recebido outro convite (assumir a SESAI) e que o governador iria me chamar pra conversar. Eu e minha mãe, fomos encontrar o governador para ouvir o convite de alguém que temos muita admiração e respeito, porque ele (Elmano) sempre foi muito próximo do nosso povo. Senti como se fosse um reconhecimento a luta da minha mãe. Eu sou a continuidade dela, mas consegui aliar a vivência, a militância com o conhecimento teórico da Universidade, então aceitamos porque temos diplomacia para isso”, contou a secretária.
Durante a entrevista, Juliana estava no território comemorando a conquista com a família e os amigos em uma mistura de alegria e choro. “Fizemos nossos rituais religiosos e comemoramos. Algumas pessoas me perguntaram se eu ia sair da Aldeia e eu digo que pelas minhas novas tarefas, ficarei mais distante, mas assim como saí para estudar e voltei, vou continuar voltando porque meu pé é no chão da aldeia. É um aqui e outro na luta”, afirmou.
Sobre os desafios e prioridades da primeira Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará, Juliana elencou como prioridade número um, a demarcação dos territórios, problema histórico no Ceará que ganhou força nos últimos quatro anos com diversas decisões judiciais contrárias aos povos originários existentes no estado. “Já conversei com o governador Elmano e vamos trabalhar fortemente nisso. Temos muito a contribuir para cessar as constantes ameaças contra nosso povo com a criação da secretaria, reestruturando o que for necessário para revogar ações contrárias aos territórios indígenas e agora temos um Governo Federal ao nosso lado”, afirmou.
Por fim, a nova secretária respondeu que fica à vontade ao ser chamada de cacika com K ou pelo seu nome de batismo Juliana e que não vai deixar de usar nenhuma das denominações. “Juliana é meu nome de batismo e ele deve aparecer mais por conta da secretaria. Mas é importante dizer que cacika não é um título, é permanente, é o que sou e eu gosto de ser chamada assim”, ressaltou.
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Edição: Camila Garcia