Cada ida ao supermercado tem sido um suplício para o consumidor brasileiro. O motivo todo mundo sabe: os altos preços dos alimentos, que por si só são responsáveis por abocanhar boa parte do orçamento mensal das famílias brasileiras. Como explica o economista Fábio Sobral: “o salário médio no Brasil caiu, e vem caindo ano a ano. Nós estamos talvez no nível mais baixo de renda média da população brasileira. Isso significa que as pessoas vão cortando, cortando saúde suplementar, seja planos de saúde, seja acesso a remédios, vão cortando lazer, cortando a energia elétrica, o gás. Então é uma luta para equilibrar o orçamento, mas isso não é equilibrável”, pontua.
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Que o diga a diarista Rose Souza da Silva, que tem feito malabarismos pra fechar essa difícil conta: “tá muito difícil, tudo muito caro, e a gente tem que fazer várias substituições. Dia de promoção é que a gente pode ir [ao supermercado]. No dia da carne a gente vai, no dia da fruta. E os cereais também estão muito caros e a gente tem que substituir sempre pelo mais barato. Por exemplo, o arroz, eu comprava o melhor, agora a gente tem que comprar o mais barato que tem”, lamenta.
A professora universitária, Carolina Melo, também está tendo que fazer concessões na hora de escolher o que vai na mesa da família: “antes eu comprava mais carne e peixe, que eu comprava mais do que eu compro agora. Agora eu compro mais frango mesmo, com uma frequência maior do que eu gostaria. Cada vez mais o meu salário tem que ser gasto com a questão do mercantil, que aí gastando mais com mercantil sobra menos para outras coisas”, pondera.
Em dezembro o IPCA, que é uma prévia da inflação, foi pressionado pelos custos de alimentos e transportes, e fechou 2022 com avanço acumulado em 12 meses de quase 6%. O índice indica estouro da meta pelo segundo ano consecutivo e reflete na escolha dos consumidores no supermercado, já que o índice impacta diretamente no valor dos produtos que você coloca no carrinho. Realidade que já virou rotina na vida da empreendedora Juliana Vieira: “é muito impactante, porque todo dia a gente vai no supermercado é um preço diferente, nunca tá o mesmo preço”, ressalta.
Joana Darque é dona de um mercadinho no Conjunto Palmeiras, bairro da periferia da capital, e fala como a alta de preços impacta no movimento do seu negócio: "traz uma saída dos clientes para procurar preços mais em conta. Quando a inflação está mais estabilizada, o preço está mais estabilizado, o cliente vem pra loja sabendo que ele vai encontrar aquela mercadoria que ele comprou ontem com o mesmo preço amanhã, então assim, eles saem da loja procurando um preço que caiba no bolso deles”, explica.
Para Sobral, o cenário é difícil, mas contornável. Para isso é preciso uma política efetiva de controle de preços: “a maior parte da inflação brasileira é produzida pelos chamados preços administrados e quem controla é o governo. Então se o governo controlar esses preços, ele controla a inflação, não são os juros. Aumentar os juros no banco central não vai controlar a inflação, isso aí só vai dar mais dinheiro pra banqueiro. Agora se você controla gás, combustíveis, energia elétrica, planos de saúde, passagens, você controla mais de 50% da inflação”, exemplifica.
Edição: Camila Garcia