“Respeitamos a propriedade privada. Não queremos saber de MST”. Foi com essa fala que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, se referiu ao Movimento dos Sem Terra, durante coletiva de imprensa, no último sábado (15), no Aeroporto de Fortaleza. Bolsonaro disse ainda que deu dignidade aos assentados e entregou mais de 400 mil títulos de terra, o que segundo ele, ajuda o assentado a “ingressar na agricultura familiar como cidadão”.
As declarações dadas pelo Presidente sobre o Movimento dos Sem Terra, contrariam os princípios da reforma agrária, que só é efetiva quando há grandes desapropriações de terras e distribuição das mesmas aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. A política fundiária do Governo Bolsonaro se limita a emitir o título de propriedade privada a quem já tinha a posse da terra por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Na prática, a política de entrega de títulos favorece a grilagem, pois não é vetado ao assentado vender a terra depois que ele consegue a posse.
Além disso, durante os quase quatro anos de seu governo, o orçamento para aquisição de terras passou de R$ 930 milhões em 2011, para R$ 2,4 milhões neste ano. O orçamento do Incra também caiu de R$ 1,9 bilhã,o em 2011 para R$ 500 milhões em 2020. Um dos primeiros atos do Governo Bolsonaro foi transferir o Incra para a responsabilidade do Ministério da Agricultura, pasta ruralista comandada por Tereza Cristina. O sucateamento fez com que o Instituto paralisasse todos os processos de aquisição e desapropriação de terras para a reforma agrária, no início do governo.
Durante a coletiva no aeroporto, o presidente foi questionado como seria sua relação com o governador eleito Elmano de Freitas (PT), que advogou para o MST no início da sua carreira e tem estreita relação com o Movimento. Em resposta, Bolsonaro disse que “nunca deixei de atender nenhum prefeito ou governador do Brasil com recursos, nenhum, o Ceará recebeu recursos. O que quero é de vez tirar os que faltam ser tirados da escravidão da posse, vamos dar título para eles, vamos dar um registro da terra e eles vão ser cidadãos, vão integrar pra valer a agricultura familiar", falou em referência ao MST.
Foi a primeira vez que Bolsonaro vem à capital cearense durante as eleições deste ano. Ele realizou um comício como parte da sua agenda de campanha, no Conjunto Ceará, acompanhado de lideranças e apoiadores no estado. No aeroporto, Bolsonaro chegou com discurso pronto e falou durante mais de 20 minutos sem a intervenção de jornalistas. Quando houve espaço para perguntas, se limitou a responder superficialmente questões como a fome e a segurança. "O problema são os jovens de 16, 17 anos que roubam um celular pra ganhar um dinheirinho e tomar uma cervejinha. Mas tenham certeza que com esse novo parlamento de centro-direita,vamos reduzir a maioridade penal," afirmou, fazendo referência aos eleitos para o congresso nacional.
No Ceará, Bolsonaro alcançou pouco mais de 25% da preferência dos eleitores no primeiro turno das eleições. Ao ser questionado sobre o baixo índice de aprovação no estado, o candidato considerou que a culpa do resultado " é das mentiras divulgadas PT" e emendou dizendo que a estratégia para virar os votos no Ceará "é conversar, como estou fazendo com vocês".
As falas do presidente tiveram clara intenção de reduzir o desgaste na sua relação com o Nordeste, depois de diversas falas ofensivas. Recentemente, em uma de suas lives, Bolsonaro atrelou a votação expressiva do candidato Lula na região ao que ele chamou de “ analfabetismo” existente nos estados nordestinos. Durante a coletiva deste sábado, o presidente se defendeu, acusando o PT de “propagar mentiras sobre sua pessoa e sua gestão”. Para dar credibilidade a sua fala, citou mais uma vez, que a primeira-dama é filha de cearense e falou da boa relação que tem com o sogro, na sua justificativa para não ser racista. “O meu sogro é negro, Paulo Negão”, disse.
Durante todo seu discurso para a imprensa, o presidente criticou o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores na gestão de estados nordestinos. "O PT administrou por 20 anos, se eles fossem tão bons assim, isso aqui tinha que ser uma Suíça", disse. Sobre a pandemia, lamentou que o Ceará, assim como outros estados, tenha adotado políticas de isolamento social para combater o avanço da Covid-19. "Eu fui o único chefe de Estado do mundo que foi contra isso. Falei que tínhamos que cuidar dos idosos e quem tinha comorbidade, mas o resto tinha que trabalhar”, ressaltou. E aproveitou para negar a possibilidade de aumentos do preço dos combustíveis, caso vença as eleições, e o fim do Auxílio Brasil em 2023.
No aeroporto, o presidente foi recebido pelo deputado federal eleito André Fernandes (PL), o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), e sua esposa, a deputada federal eleita Dayany Bittencourt (União Brasil); o deputado eleito, vereador Carmelo Neto (PL), o prefeito do Eusébio e presidente do PL no Ceará, Acilon Gonçalves, o deputado estadual Delegado Cavalcante (PL), e Dra. Silvana (PL), o deputado federal reeleito Dr. Jaziel (PL), entre outros apoiadores e políticos.
Edição: Camila Garcia