Ceará

Coluna

A crise estética imposta pelo governo federal dará as bases para uma revolução cultural

Imagem de perfil do Colunistaesd
Dia do nordestino, no último 8 de outubro, em frente ao Teatro José de Alencar, no Centro de Fortaleza. - Divulgação/ Cultura com Lula
Há de nascer uma revolução cultural no Brasil que descortinará o mundo novo. Ela já está germinando.

A crise é também estética, é triste, mas é verdade. Mas os trabalhadores e as trabalhadoras da arte e da cultura reagiram de forma bastante interessante a todo esse processo político que o Brasil tem vivido. Claro que a reação não foi homogênea, mas foi muito maior do que qualquer outra experiência de envolvimento do setor cultural no debate político no espaço público.

Artistas que eu não imaginava que se posicionariam, como Xuxa, Angélica e figuras públicas, como a Fátima Bernardes declararam em suas redes o seu voto. E minha surpresa é menos sobre elas pensarem em política, afinal todas e todos pensamos, mas sobre elas publicizarem o seu pensamento, sobretudo elas estando vinculadas a grandes conglomerados comerciais como a Rede Globo, Rede Record e Itaú, que costumam delimitar as posições de seus associados.

Já no Ceará tivemos artistas, gestores e trabalhadores da cultura em geral se envolvendo nas campanhas eleitorais, sobretudo na do candidato Lula e seus respectivos candidatos ao governo Elmano de Freitas e Camilo Santana. Das diversas plenárias e reuniões que participei durante o processo eleitoral no primeiro turno para pensar ações a partir da cultura, pude perceber que, mesmo esse setor que historicamente tem dificuldades de se organizar coletivamente para intervir em processos políticos, cumpriu um papel importantíssimo.

Construiu-se um Comitê Popular da Cultura com uma brigada de rua própria, com diversas ações em semáforos, blocos e muito mais. Além de giros por diversas cidades do interior organizando plenárias regionais para mobilizar o setor para se engajar na luta por um Ceará 3 vezes mais forte. Foi bonito ver o engajamento dos fóruns, artistas e coletivos para a construção do Plano de Governo de forma democrática.

Mas a batalha dura que enfrentamos no primeiro turno foi só um começo. A guerra está ainda no meio, o lado do fascismo bolsonarista saiu fortalecido, mesmo que tenha ficado em segundo lugar. A máquina de mentiras, que age a partir da estetização da política, está a todo vapor criando e circulando mentiras. Associando o Lula a satanismo, fazendo ataques ao MST, tanto aqui no Ceará quanto no Brasil, acusando o movimento de terroristas e outras barbaridades.

Todavia, o MST elegeu 7 das 15 candidaturas lançadas nacionalmente para os parlamentos estaduais e federal, inclusive o Missias do MST no Ceará com o expressivo número de 44.853 votos em 182 dos 184 municípios cearenses. Uma atuação feita sob o trabalho de mais de 300 militantes espalhados por todo o estado em assentamentos, acampamentos, terreiros, juventude, mulheres e LGBTQIAPN+.

Este artigo está sendo escrito apenas para reafirmar que as mentiras, não importam o seu tamanho sempre podem ser desmascaradas, que o trabalho popular real, junto ao povo, que contribui para as transformações sociais se enraíza e é critério da verdade.

Um exemplo disso é a capacidade de memória que o povo nordestino tem e que se comprova toda eleição presidencial, mesmo que toda vez soframos ataques e agressões xenofóbicas, que nos chamem de burros ou ignorantes, que digam que não sabemos votar e que por isso seguimos sofremos. A grande questão é, nós não esquecemos quais governos tiveram avanços reais e significativos para nossas terras, quem criou e ampliou universidades, quem realizou grande obras de desenvolvimento, ampliou empregos, acesso a cultura e tantos outros dados que poderíamos citar.

Se a prática é o critério da verdade, como diz o ditado popular na esquerda, a memória é um de seus elementos essenciais. A crise é também estética, mas há de nascer uma revolução cultural no Brasil que descortinará o mundo novo. Ela já está germinando por aí, nas batalhas de rima e rap, nos novos artistas como João Gomes, nos teatros de rua e de bairro, nas performances transgressoras e em todo o movimento cultural que avança a passos largos, mesmo sem apoio federal nenhum e sob constante violências simbólicas, verbais e materiais.

*Lívio Pereira é trabalhador da cultura e militante social, escreve para o BdF há mais de um ano.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Camila Garcia