Ceará

Semiárido verde

Tecnologias sociais mudam a realidade de quem convive com a falta d'água no sertão nordestino

Barreiros, trincheiras, tanques, reservatórios e cisternas são iniciativas de baixo custo e grande impacto para no campo

Brasil de Fato | Fortaleza, CE |
Iraneide Tavares viu sua vida mudar com a chegada da cisterna e do aqualuz. - Foto: Elionardo Oliveira

“Sem água ninguém é ninguém’’. A frase dita por dona Edilza Zumira, moradora do município de Caetés, semiárido pernambucano, pode até parecer óbvia para quem nunca enfrentou barreiras para ter acesso à água. Mas para os 26 milhões de habitantes que vivem no semiárido brasileiro, o bioma com o menor percentual de água reservada no país, um simples copo d'água pode significar horas de muito esforço e caminhada.

“Eu carregava água de longe na cabeça, na época eu era nova e aguentava carregar, mas aí agora eu não posso mais”, relembra a agricultora que por mais de três décadas viveu intensa escassez de água. Iraneide Tavares, também agricultora, compartilha da mesma dura experiência: “a gente ia buscar água no exército, da cisterna, ficava mais difícil, longe. Era eu, meu esposo e meus dois filhos carregando essa água com muita dificuldade”. 

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Sem rios perenes, o fim do período das chuvas significa preocupação para esses agricultores. Seja com a água para beber, para o plantio da agricultura familiar e até mesmo para matar a sede dos animais - que também lhe servem de sustento. É uma cadeia produtiva, que falta o insumo principal: “comprava um caminhão d’água por R$220 e não rendia nenhum mês, porque eu tirava pra aguar as plantas e para dar aos bichos, porque eu não ia deixar morrer de sede, né?’’, explica dona Edilza.  

O acesso à água potável é uma das principais dificuldades enfrentadas por esses agricultores que há décadas têm tido seu direito básico negado. Mas nos últimos anos, tecnologias sociais tem trazido novas perspectivas para diversas comunidades rurais no nordeste. A agência do desenvolvimento econômico local, a Adel, tem desenvolvido um importante trabalho junto a essas comunidades e já instalou 571 instrumentos de garantia de segurança hídrica como barreiros, trincheiras, tanques, reservatórios e cisternas. 


Tiago Martins é um dos beneficiários com o Tanque em lajedo de Pedra, Sítio Vermelha, em Caetés. / Foto: Elionardo Oliveira

Guilherme Ribeiro, analista socioambiental da Adel, explica como algumas dessas tecnologias funcionam: “as cisternas de primeira água, como nós chamamos, tem capacidade para 16 mil litros de água, atende uma família de até cinco pessoas e essa quantidade de água traz uma segurança para a família durante os oito meses de seca que a gente tem no semiárido e, ao mesmo tempo, juntamente com a tecnologia do aqualuz, que traz maior segurança para o consumo dessa água.”

O aqualuz é um dispositivo que tem como objetivo tornar a água potável. A tecnologia utiliza a própria luz do sol para retirar as impurezas da água, tornando-a boa para o consumo humano. Tecnologias que, além de propiciar o acesso à água, trazem mais qualidade de vida para as famílias beneficiadas: “agora eu tô muito alegre, foi um prazer na minha vida. Agora  u tenho água pra aguar minhas plantas, tem água pra dar os bichos, pra quem quiser se servir também da água, os vizinhos podem vir e mais”, conta sorridente uma dona Edilza que agora conta com algumas dessas tecnologias que propiciam o acesso ao bem mais precioso.

Dona Iraneide também relata a felicidade de ter água ao alcance das mãos: “hoje tem um benefício muito bom, graças a Deus, uma cisterna pertinho agora, uma água boa, da chuva, muito bom, muito bom mesmo. Antes a pessoa pegava água com o balde, aí hoje não, tem a bomba pra você tá pegando a água, não precisa colocar o balde dentro da cisterna, hoje tem um aparelhinho pra filtrar água que é muito bom, a água sai filtradinha pra você tomar”.  

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Edição: Camila Garcia