Ceará

Pesquisa eleitoral

Como é feito o levantamento de informações sobre a preferência do eleitor?

Especialistas explicam metodologias utilizadas nas pesquisas, grau de confiança e uso no planejamento de campanhas

Brasil de Fato | Fortaleza, CE |
Os marqueteiros e candidatos também estão de olho nos indecisos e aumentaram as estratégias clamando pelo chamado voto útil, que no Brasil e em alguns estados, pode definir a eleição no primeiro turno. - Fábio Pozzebom/Agência Brasil

A poucos dias do primeiro turno das eleições de 2022, os eleitores devem ser bombardeados com as últimas pesquisas de intenção de votos. Os principais institutos irão soltar diversos levantamentos nacionais e estaduais, sendo sábado o último dia para que eles apresentem os números da disputa e para os candidatos pedirem votos. Mas as pesquisas eleitorais são confiáveis? 

Para o cientista social pela Universidade de São Paulo, Alexandre Landim, que finaliza sua tese de doutorado desenvolvendo um estudo quantitativo inédito a partir de pesquisas eleitorais, nenhum instituto quer errar os resultados. “Todos os institutos, com raras exceções, querem acertar, pois a pesquisa eleitoral é uma vitrine de confiabilidade e captação de clientes para outros projetos. É com isso que ganham dinheiro. Ninguém quer contratar um instituto que erra”, afirma o pesquisador.

As pesquisas eleitorais são caras e normalmente os Institutos são contratados por veículos de comunicação ou partidos políticos, inclusive bem antes das eleições para testar a preferência e aprovação de um ou outro candidato. Os levantamentos precisam ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral em até 5 dias antes da divulgação. Ipec, Datafolha, Quaest e Ideia irão divulgar os cenários no Brasil nesta última semana. O Ipec incluiu, pela primeira vez, perguntas sobre a abstenção dos votos para saber se o eleitor vai votar no próximo domingo (02/10) e caso a resposta seja negativa, o instituto vai querer saber o motivo. 

Os marqueteiros e candidatos também estão de olho nos indecisos e aumentaram as estratégias clamando pelo chamado voto útil, que no Brasil e em alguns estados, pode definir a eleição no primeiro turno. Para Landim, essa é a única influência da pesquisa na decisão do eleitor. “Há muitas eleições em que o candidato vitorioso está atrás nas primeiras pesquisas e depois vira o jogo, como está sendo com Elmano agora no Ceará. Dilma em sua primeira eleição também teve uma trajetória parecida. Caso as pesquisas tivessem um peso importante na decisão do eleitor, isso não aconteceria”, afirma Landim.

Os levantamentos fazem um retrato que captura um momento específico da disputa eleitoral e os resultados podem variar, a partir das polêmicas, disputas e debates promovidos durante o período da campanha. As pesquisas são feitas a partir de amostras representativas de todas as características da população, incluindo nível de escolaridade, sexo, salário, idade, localização, dentre outros fatores determinantes para a estatística. Landim explica que a metodologia utilizada e a quantidade de entrevistas também são pontos importantes para que o eleitor analise o nível de confiabilidade dos levantamentos. “É preciso avaliar, em primeiro lugar, a data de realização da pesquisa, os dias em que os eleitores foram entrevistados. A mais próxima é aquela que possui mais chances de retratar a atualidade. Em segundo lugar, o tamanho da amostra, quanto mais entrevistados, mais confiável é a pesquisa. Geralmente são entrevistadas 1000 pessoas. Mas o DataFolha, por exemplo, entrevista 5, 6 mil pessoas nas pesquisas nacionais próximas ao domingo de votação”, revela.

A margem de erro também confunde o eleitor. Elas são utilizadas nas pesquisas a partir de um cálculo estatístico que estima a possibilidade do resultado está errado. Na prática, os pesquisadores assumem que há possibilidade de erro, mas ele é pequeno e quanto maior a amostragem, menor é a possibilidade das pesquisas não refletirem a realidade do momento. “Como os institutos fazem uma amostragem por cotas, ou seja, tentam representar na amostra as porcentagens de acordo com sexo, idade, renda, escolaridade, etc, não é possível fazer esse cálculo. Somente nas amostras aleatórias simples é que se calcula a margem de erro. No entanto, os valores são usados como referência em uma espécie de licença poética. O professor Reginaldo Prandi, que fundou o DataFolha, foi o responsável por inserir isso nas divulgações a partir de 1986, e pegou. Uma pesquisa com margem de erro zero seria o Censo, que pretende entrevistar todos os brasileiros”, explica Landim.

Outra dúvida que chega ao eleitor é com relação a forma que as pesquisas são realizadas. Alguns institutos fazem as perguntas presencialmente, outros optam por fazer os questionamentos pelo telefone, levantando controvérsias entre os especialistas no tema. “Atualmente alguns institutos usam a coleta telefônica porque são mais baratas. É uma metodologia controversa, pois gera um viés importante, os respondentes devem ter telefone e estarem em alguma base de dados que os institutos acessam. Ipec realiza pesquisas domiciliares e DataFolha em pontos de fluxo com grande circulação de pessoas”, aponta.

Cenário no Ceará 

A nível nacional, as pesquisas indicam o candidato Lula (PT) em busca do voto útil, enquanto Ciro Gomes (PDT) defende o direito de permanecer na disputa com os votos dos seus aliados. Do outro lado, o presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL) luta para diminuir a diferença entre ele e o candidato petista para que haja o segundo turno. No Ceará, é diferente. As últimas pesquisas indicaram uma mudança no cenário estadual. O candidato Elmano Freitas (PT) saiu do terceiro para o primeiro lugar na preferência dos eleitores cearenses. Já o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, aparece em terceiro lugar e em queda, enquanto Capitão Wagner (União Brasil) manteve uma certa estabilidade, garantindo vaga na disputa do segundo turno. 

Mas para a doutora em sociologia e professora, Monalisa Soares, que integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará,  a aparente reviravolta no estado já era esperada com o crescimento do candidato Elmano Freitas (PT). “Para os estudiosos, o crescimento era claro como água, podemos dizer assim. Ainda que a gente fale que as transferências não são imediatas, mas por associação elas ocorrem, principalmente para candidatos menos conhecidos como era o caso do Elmano. Ele era conhecido do eleitorado de Fortaleza e Caucaia, mas para a grande população cearense é o candidato do Lula e do Camilo. O próprio candidato Elmano tem apostado no discurso verticalizado, na ideia de como será bom para o Ceará, ter um governador, senador e presidente aliados”, analisa a especialista.

A mudança de posições deixou a disputa acalorada com direito a fake news, troca de acusações na propaganda eleitoral e entraves judiciais entre os adversários que tentam ser o próximo governador do Ceará. Na última semana, duas peças das campanhas dos candidatos Roberto Cláudio e Capitão Wagner veiculadas durante a propaganda eleitoral tentaram desqualificar as iniciativas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), atacando o candidato Elmano Freitas (PT), por ter advogado para o Movimento quando no início da sua carreira. “A campanha negativa é mobilizada contra quem tem chance de vitória. Não é à toa que na última semana, a campanha do Elmano recebeu ataques dos seus dois concorrentes diretos. O Roberto Cláudio porque disputa diretamente com o Elmano a possibilidade do segundo turno, segundo algumas pesquisas, e o Wagner porque precisa manter-se na dianteira pois sabemos que quem passa em primeiro lugar para o segundo turno, tem grandes chances de vitória, do ponto de vista da regularidade das disputas, ressalta Monalisa.

Com a possibilidade real do segundo turno acontecer no Ceará, o acirramento trouxe à tona o nome da governadora Izolda Cela (sem partido), que não disputa cargo nestas eleições por ter sido preterida na escolha do PDT para concorrer ao governo. Nas inserções da campanha de Roberto Cláudio, ela foi acusada de usar repasses de verbas de convênios como moeda de troca para garantir apoio dos gestores municipais à campanha da chapa do PT. A estratégia é condenada pela linha teórica da ciência política que afirma que o candidato que bate perde votos.  “Mais importante que isso, é ter em mente que o principal cabo eleitoral de Elmano é Camilo Santana, que deixou o governo com uma aprovação de 80%. Nessa situação, é muito pouco provável que ele não faça o seu sucessor. Vejo interesses políticos em disputa. É assim que a política se faz. Na democracia, o aliado de hoje é o adversário de amanhã, e vice versa. Essa é a “realpolitik”, a política do mundo real”, acrescenta o pesquisador Alexandre Landim.
 

Edição: Camila Garcia