Três anos e meio sem reajuste de salários e sem avanços nos debates sobre a negociação dos Acordos Coletivos de Trabalho com o governo Bolsonaro provocaram medidas extremas entre os empregados públicos da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que faz a gestão dos hospitais universitários federais no Brasil. Depois de diversas tentativas de mediação, a categoria decidiu por entrar em greve, a partir de hoje, 21 de setembro.
Bárbara Montesuma é farmacêutica, empregada pública da Ebserh, trabalha na Maternidade Escola Assis Chateaubriad da Universidade Federal do Ceará (MEAC/ UFC) e está entre as trabalhadoras que integram o comando de greve em Fortaleza. Ela afirma que apesar das várias rodadas de negociações e das propostas apresentadas pelos empregados, devido a postura dos gestores da empresa pública não há evolução. “Além de todas as perdas que nós estamos tendo em relação à inflação, a empresa ainda quer colocar em pauta a nossa insalubridade que é atualmente sobre o salário base. Ela quer reduzir esse dinheiro pagando apenas sobre o salário-mínimo. Nós somos profissionais da saúde que trabalhamos muito nesse período da pandemia, demos o nosso máximo, perdemos colegas e familiares e não estamos sendo valorizados pela empresa, então a gente está aqui reivindicando”.
Os profissionais têm como principais reivindicações a manutenção de todas as cláusulas sociais do ACT vigente; o reajuste linear de 22,30% pelo INPC, incidindo sobre os salários e benefícios; a imediata conclusão dos ACTS 2021/2022 e 2022/2023; e a manutenção do cálculo do adicional de insalubridade dos empregados.
A enfermeira e técnica de enfermagem no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC/UFC), Jéssica Góes, afirma que a greve também é para mostrar a empresa que a força de trabalho dos seus profissionais é importante. Além disso, ela enfatiza a importância da luta pela garantia de direitos. “A gente está aqui pedindo para os nossos direitos serem garantidos, que a gente sabe que nos últimos anos a inflação vem aumentando, o poder de compra do nosso salário tem diminuído cada vez mais, então não tem nem como a gente se manter onde está e muito menos ainda diminuir os direitos que a gente já tem adquirido como a nossa insalubridade, como nosso vale-alimentação. Não tem como retirar isso porque é a dignidade, a qualidade de vida da nossa família que está em jogo, não tem como a gente prestar uma assistência de qualidade dentro de um plantão, dentro de um hospital preocupado com a nossa família, com as necessidades básicas dos nossos filhos, e etc”.
A greve foi discutida e aprovada pelos trabalhadores organizados nacionalmente por meio da Condsef/Fenadsef, CNTS, Fenam, Fenafar e FNE. Diversas plenárias nacionais e assembleias nos estados foram realizadas de forma a possibilitar a participação do maior número de empregados públicos nos processos decisórios sobre as negociações dos ACTs.
Em Fortaleza, o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado do Ceará (SINTSEF/CE) representa os trabalhadores do HUWC e da MEAC/UFC. A greve, em Fortaleza, foi aprovada na assembleia com a categoria no do dia 15 de setembro. A Direção do sindicato informou que todas as providências legais foram tomadas: aviso a população em jornal de grande circulação e aos gestores do Complexo Hospitalar da UFC.
“A nossa única arma é o que o trabalhador tem, a sua força de trabalho. A gente está cruzando os braços, mas estamos respeitando todos os trâmites legais da greve, ela foi informada em jornais de grande circulação, a empresa está sabendo da nossa greve e nós estamos mantendo um quantitativo de 50% dos profissionais funcionando. Estão 50% dos funcionários trabalhando e 50% aqui na greve. Estamos fazendo rodízio, isso é muito importante, é importante que a população conheça a nossa luta e que nos apoiem também”, afirma Bárbara.
Além do Ceará, outros 11 estados, incluindo o Distrito Federal também aderiram à greve, são eles: Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amazonas, Paraná, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Sergipe.
a redação do Brasil de Fato no Ceará entrou em contato com o setor de comunicação do Complexo Hospitalar da UFC, mas até o fechamento dessa matéria não obteve retorno.
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Edição: Camila Garcia