O "Grito dos excluídos e das excluídas" voltou às ruas de Fortaleza após dois anos on line em decorrência da pandemia da Covid-19. Com o lema "Brasil: 200 anos de (In)dependência para quem?", a mobilização organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organismos da igreja católica, pastorais sociais e movimentos populares levou a sua 28ª edição para as avenidas da Parangaba. Em todo o Brasil, a manifestação marcou um contraponto aos atos Bolsonaristas. No Ceará, além da capital, também foram registrados atos nas cidades de Crato, Morada Nova, Juazeiro do Norte e Tianguá com o objetivo de denunciar “as injustiças na construção da soberania nacional e negligências do governo Bolsonaro”.
Na capital, no início da manhã desta quarta-feira (7), o público se concentrou na Praça da Lagoa, na Parangaba. Os manifestantes caminharam com destino à Paróquia Bom Jesus dos Aflitos, no mesmo bairro. O movimento contou com a participação de diversos sindicatos, associações, grupos religiosos e da sociedade civil. De acordo com a organização, cerca de 5 mil pessoas participaram do ato na capital.
Sobre a simbologia do ato, o Padre Watson, Façanha coordenador da Arquidiocese de Fortaleza explicou: “todos os anos a igreja do Brasil celebra o grito dos excluídos, um momento forte onde os movimentos populares e as pastorais sociais de nossa arquidiocese – e das arquidiocese do mundo inteiro, ecoam a voz dos oprimidos que enfrentam grandes dificuldades. Nessa edição defendemos a vida, numa situação de país em que muitas pessoas morreram e as políticas públicas voltadas para a promoção social e defesa da vida foram colocadas em segundo plano”.
Para Ítalo Morais, da Pastoral da Juventude do Meio Popular no Ceará (PJMP/CE) e um dos organizadores do evento, o tema não poderia ter sido outro, diante dos retrocessos e constantes ataques aos direitos adquiridos, onde, mesmo após 200 anos do grito de Dom Pedro I, a maior parte da população segue oprimida. “o Grito vem nos provocar com esse lema, “Independência para quem? Nós que continuamos sendo dependentes do capital financeiro, do sistema capitalista que mata, que degrada, que exclui, que explora. Continuamos sendo dependentes dos patrões que querem retirar nossos direitos. Por isso, as arquidioceses chamam o povo com esse grito dos excluídos”, enfatizou.
Eroneide Pereira fez questão de estar presente no ato. Este ano, a dona de casa veio acompanhada do neto adolescente para mostrar para a nova geração a importância questionar as amarras de um sistema que oprime as populações empobrecidas: “É importante despertar essa consciência nele desde cedo, para lutar pelos direitos, para que ele saiba que ninguém é individual, é tudo um coletivo”, afirma orgulhosa – e de mãos dadas com o neto.
O ato também contou com a participação de parlamentares e de representantes das candidaturas dos partidos de esquerda à Assembleia Legislativa, à Câmara Federal e ao Governo do Estado. João Alfredo (Psol), Adriana Gerônimo (Psol), Adelita Monteiro (Psol), Gabriel Aguiar (Psol), Renato Roseno (Psol), Missias do MST (PT), Larissa Gaspar (PT), Mari Lacerda (PT), José Airton (PT) e Guilherme Sampaio (PT) foram alguns dos que marcaram presença.
Desde 1995, a manifestação faz do Sete de setembro uma data de luta, um contraponto a disputa nacionalista que a versão militar e institucional busca internalizar na sociedade. Surgiu 2ª Semana Social Brasileira, evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o lema ‘Vida em primeiro lugar’. Segundo documento que conta a história da mobilização, “a cada ano, se efetiva como uma imensa construção coletiva, antes, durante e após o Sete de Setembro. (...) Nada melhor do que esta data para refletir sobre a soberania nacional (...). Nesta perspectiva, o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna. O Dia da Pátria, além de um dia de festa e celebração, vai se tornando também em um dia de consciência política de luta por uma nova ordem nacional e mundial”.
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Edição: Camila Garcia