Charles Lessa, Maria Macêdo e Sy Gomes são talentosos artistas cearenses que tem alçado voo na cena cultural estadual e brasileira. Recentemente, eles foram indicados a mais relevante premiação de artes visuais do Brasil, - o Prêmio PIPA, que chega a sua 13º edição em 2022 com a missão de divulgar a arte e artistas brasileiros, estimular a produção nacional de arte contemporânea, motivando e apoiando novos artistas nacionais, além de servir como uma alternativa de modelo para o terceiro setor.
Criado e realizado pela primeira vez em 2010, a iniciativa da premiação é construída pelo Instituto PIPA, fundado em 2009. O Instituto tem como objetivo apoiar, promover e ajudar a documentar a arte e artistas contemporâneos brasileiros. Além disso, o Instituto procura colaborar com a organização do setor e gerar uma maior inserção da arte brasileira no cenário global, desenvolvendo um modelo para uma ONG eficiente, além de ajudar o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) a construir uma coleção selecionada de arte contemporânea, e consagrar artistas com no máximo 15 anos de carreira que estão começando a se tornar conhecidos no mercado de arte.
Desde a realização de sua primeira edição, a iniciativa buscou significar mais do que um prêmio brasileiro de arte contemporânea. Os materiais reunidos anualmente são utilizados como catálogos nos sites oficiais do Instituto, onde constituem uma plataforma de pesquisa importante, usada por colecionadores, curadores e galeristas, brasileiros e estrangeiros.
Sy Gomes, artista visual, cantora, compositora, performer e produtora Cultural afirma que apesar de o prêmio ser uma iniciativa institucional dos mecenas da arte, ou seja, brancos antigos no campo da arte contemporânea, é de fato o maior prêmio do Brasil. “O interessante é que as indicações são vindouras de diversos curadores de todo o Brasil, o que torna o prêmio de fato nacionalizado e plural em termos de artistas. É importante ressaltar que só de ser indicada isso já traz uma série de pessoas, olhares e canais, para a obra de artistas,” afirmou Sy.
A seleção dos artistas para participação na premiação acontece por meio dos membros do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2022, que nesse ano foi formado por cerca de 25 nomes brasileiros de todas as regiões do país, como críticos de arte, curadores, artistas, colecionadores, professores e outros nomes que atuam com arte contemporânea. A indicação para compor o Comitê é feita pelo Conselho do PIPA.
Cada membro do Comitê de Indicação deve selecionar até três artistas visuais, de todas as mídias: artistas visuais, que trabalham com pintura, fotografia, instalação, vídeo, performance e outras, com no máximo 15 anos de carreira. Para as indicações, são considerados como parâmetros a produção diferenciada e a relevância do prêmio para melhor desenvolvimento e crescimento do artista ainda em uma fase inicial de carreira.
Ao fim da premiação, quatro artistas receberão cerca de R$ 20.000,00 reais, além de participarem de uma exposição coletiva no Paço Imperial do Rio de Janeiro e ocuparem os sites e mídias sociais do Instituto Pipa. A exposição realizada anualmente ao fim da premiação com obras dos premiados acontece em parceria com o MAM/RJ, e diferente de edições passadas, nessa edição não será solicitado aos artistas premiados nenhuma doação de obra. A mudança no regulamento desse ano é de acordo com o desejo da premiação de abarcar mais artistas na trajetória do prêmio, incentivando outros artistas que já passaram por edições anteriores e intensificando a aquisição de novas obras.
Conheça os Artistas Caririenses na disputa pelo PIPA 2022
Maria Macêdo
Retirante do distrito de Quitaiús, em Lavras da Mangabeira, no interior do Ceará. Hoje reside em Juazeiro do Norte. Maria Macêdo é artista, educadora e pesquisadora. Licenciada em Artes, é também Colíder do Grupo de Pesquisa Novos Ziriguiduns (Inter)Nacionais Gerados na Arte.
Maria desenvolve trabalhos artísticos a partir da ciência da mata, enquanto mulher negra, nordestina retirante, traçando caminhos a partir das lacunas historiográficas, as construções afetivas e memórias pessoais/coletivas. É evocando a força ancestral da vida no campo, que ela encontra nas vivências na terra, o caminho que guia o seu fazer artístico enquanto artista agricultora retirante, fertilizadora de imagens.
A artista-educadora revela que destacar o fato de vir de Quitaiús é importante para entender o seu processo artístico e as obras que tem desenvolvido ao longo de sua carreira. “Minha família é formada de agricultores e de retirantes, então a gente vem para Juazeiro do Norte nesse processo que a gente compreende de êxodo rural, mas tenho entendido esse processo de êxodo também como um processo de desapropriação de terras”.
Sy Gomes
Natural de Eusébio, Sy Gomes é travesti, negra, artista visual, cantora, compositora, performer e produtora cultural que afirma ser comovida pelo tempo. Se instalou na cidade de Fortaleza e atualmente reside na capital cearense.
Graduada em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC), tem feito arte em Fortaleza por pelo menos há 5 anos, desde música, performance, instalação, criação ritualística, produção cultural e musical, design e paisagismo.
A artista afirma que ter seu nome na lista de indicações ao prêmio mostra que seu trabalho está sendo observado, mas, que também deve ser entendido e admirado. Ela ainda ressalta que muitas vezes o caminho das artes visuais é um caminho solitário, isso leva a refletir muito sobre como são compreendidas de fato. “Isso é SUPER importante para uma artista travesti e negra como eu, que está na arte já há seis anos, acho que a indicação ao prêmio me leva a pensar que estabeleço um diálogo potente com o Brasil”.
Charles Lessa
Nascido e crescido na periferia do Crato, Charles Lessa é artista desde criança e busca representar um Cariri contemporâneo e vanguardista. Artista e artesão, Charles Lessa é também Licenciado em Artes Visuais e desenvolve trabalhos em pintura com desdobramentos na arte urbana e escultura, a qual cria ficções com a pintura figurativa e investiga a estética popular em diálogo com a arte contemporânea.
Charles desenvolve pesquisa sobre universo simbólico e dedica-se às artes feitas com as mãos, desde desenho, pintura, modelagem até o interesse por processos de criação que envolvem artesania e pintura na contemporaneidade.
O artista revela que o fato de residir no Crato, na Região Metropolitana do Cariri, no sul do estado do Ceará, faz com que seu trabalho esteja diretamente relacionado com as temáticas da arte e da cultura popular, pensando por exemplo, que o grafite como linguagem também pode ser visto como arte popular e que pode ser enxergado dentro de um grande bloco das artes contemporâneas. “Penso muito sobre esse confronto, esse diálogo quase inexistente entre a arte contemporânea e a arte popular, e também investigo em meus trabalhos a cultura pop em diálogo com a cultura popular”, afirmou.
Premiação
O Conselho do Prêmio PIPA deve consagrar quatro artistas assim como nas edições anteriores. Os premiados além de poderem participar da exposição coletiva no Paço Imperial do Rio de Janeiro, devem receber uma doação de R$20.000,00 reais. Já os que concorrem na modalidade PIPA Online, realizado em dois turnos, devem receber cerca de R$ 5.000,00 reais cada.
Para ter acesso ao regulamento completo dessa edição, ao cronograma e mais informações sobre a premiação, basta acessar o site oficial do Prêmio PIPA 2022.
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Edição: Camila Garcia