As convenções partidárias nem bem acabaram no Ceará e muita coisa já aconteceu no cenário eleitoral por aqui. Em uma semana, a disputa se desenhou de várias formas. Desfiliações, acusações, desistência de vice-candidatura. Segundo especialistas, o retrato do momento sinaliza uma disputa acirrada com segundo turno no estado.
O cientista político, Clayton Cunha Filho, explica como observa a conjuntura atual no Ceará: “o cenário é um cenário de rearranjos, porque você tem uma aliança que governava o Ceará já há quatro governos - os dois governos do Cid e os dois do Camilo, e esse restinho com a Izolda, uma aliança muito forte, entre o grupo dos Ferreira Gomes, atualmente no PDT – mas que já estiveram no PSB e no Prós – , e o PT. Essa aliança se rompeu, nesse impasse com relação a indicação de quem seria o candidato ou candidata à sucessão. O que a gente tem visto, é um cenário de reacomodação, porque eram grupos que estavam muito próximos durante muito tempo, e que agora precisam escolher um lado ou outro da contenda’’.
Na primeira pesquisa, encomendada pelo Grupo de Comunicação O Povo/ Ipespe, Capitão Wagner, do União Brasil e candidato de Bolsonaro no estado, lidera a disputa com 38%. Roberto Cláudio, do PDT, aparece em 2º, com 28%. Elmano Freitas, do PT, desponta em terceiro lugar, com 13% das intenções de votos. “O cenário ainda é incipiente, porém, mesmo despontando em terceiro lugar, Elmano aparece bem posicionado. Foi uma pesquisa que é, de certa forma, favorável ao Elmano, porque coloca ele com 13%, não é uma votação desprezível, e sobretudo sendo a primeira vez que ele aparece numa campanha, numa pesquisa, dá pra ele um patamar interessante”, analisa Clayton. O analista complementa: “se esses apoios que ele tem realmente se traduzirem em intenções de voto, como as perguntas indicavam que podem vir a ser, ele tem um grande potencial de crescimento, sobretudo porque ele tem também uma taxa de rejeição relativamente baixa’’.
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A troca de farpas também já sinaliza como será a campanha, com Roberto Cláudio desferindo críticas para o candidato ao senado e ex-governador do Ceará, Camilo Santana – tradicionais aliados políticos até o mês passado. Dentre outras alfinetadas, Roberto Cláudio afirmou, em entrevista, que o atual governo “lambe o problema da pobreza”. Camilo, por sua vez, lamentou que o candidato pelo PDT, inicie a corrida eleitoral o atacando e reforçou que Elmano é o melhor para continuar o seu trabalho e da atual gestora Izolda Cela.
Para Elmano, Roberto Cláudio está apenas terceirizando culpa: “eu lamento muito a terceirização de responsabilidade, pois o candidato, que buscou fazer essa polarização com o nosso governador Camilo, foi prefeito de Fortaleza por 8 anos, né? Então ele tem responsabilidade pelas questões que foram postas. Eu acredito que o tema da segurança, ele só é resolvido com o esforço conjunto dos entes federados. Eu não acho que nós devemos terceirizar culpa nenhuma, nós temos que assumir a nossa responsabilidade’’, defende.
Após desistência de Renata Almeida, candidata à vice pelo PT, o partido acaba de oficializar o nome de uma nova mulher para compor com Elmano na disputa ao Palácio da Abolição. Indicada pelo MDB, Jade Romero é a mais nova integrante da chapa, para o qual a conjuntura estadual, deve reproduzir, de certa forma, a disputa nacional: “eu acho que vamos ter aqui no Ceará também uma dinâmica que, em parte, reproduzirá a eleição nacional. Porque nós temos uma polarização clara entre a candidatura do presidente Lula e a candidatura do Bolsonaro. No Ceará, para nossa alegria, temos uma grande vantagem para o presidente Lula, dando a vitória a ele aqui no primeiro turno, e também uma possibilidade grande de nós garantirmos à Lula, uma estabilidade política no Senado da República, elegendo o nosso senador Camilo Santana”.
Ainda sobre o cenário nacional, Clayton avalia que Capitão Wagner tenta descolar sua imagem de Bolsonaro, por isso não deve se esforçar para puxar votos para a reeleição do atual presidente. Já Elmano vai buscar votos para Lula. No entanto, o cientista político acredita que esses apoios não devem ter peso grande na eleição nacional: “eu acho que influencia mais o nacional no local, do que o revés. Pelo menos no nosso caso do Ceará. Por alguns fatores. O primeiro é que o Ceará não é um dos estados mais centrais da federação, nos sistemas econômicos de peso político. Então, pleitos como em São Paulo ou no Rio de Janeiro, por exemplo, acabam tendo um efeito do local no nacional. O pleito do Ceará não vai ser tão decisivo no pleito nacional, pois nós não somos o maior colégio eleitoral, nem temos esse peso econômico tão grande e, por isso, não tem esse poder de arraste tão grande”, afirma.
O Brasil de Fato procurou durantes três dias ouvir os três candidatos à frente das pesquisas, mas Capitão Wagner e Roberto Cláudio não atenderam à solicitação da nossa reportagem.
Edição: Camila Garcia