Ceará

EXPOCRATO

Caririenses comemoram o retorno da ExpoCrato após dois anos sem a realização do evento

A maior Feira Agropecuária do Norte-Nordeste aconteceu entre os dias 10 e 17 de julho, alta dos preços foi destacada

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte CE |
A feira agropecuária é um dos maiores e mais tradicionais eventos do Brasil - Wesley Júnior

Após dois anos de espera e muita expectativa da população local e regional, a Exposição Centro Nordestina de Animais e Produtos Derivados, popularmente conhecida como Exposição do Crato ou simplesmente ExpoCrato, realizou finalmente a sua 69º edição, entre os dias 10 e 17 de julho. A feira que é um dos maiores e mais tradicionais eventos do Brasil acontece no Parque Pedro Felício Cavalcanti, no Crato, Região Metropolitana do Cariri, sul do estado do Ceará.

Além da feira agropecuária, o evento contou também com exposição e leilão de animais, apresentações culturais musicais, estandes de trabalhos, mostra de comidas típicas e venda de bebidas, além da mais famosa Casa da Farinha e do Engenho de Cana de Açúcar, responsáveis pela produção de tapioca, beiju, cocada, mel, rapadura, caldo de cana, dentre outra gama de iguarias produzidas a partir da mandioca e da cana de açúcar. No parque de eventos foi possível conferir uma feira artesanal, com artistas e artesãos de todo o Ceará que puderam expor e vender de seus materiais e produtos, garantindo uma renda extra para casa. Durante a noite, o parque de eventos ganhou ainda mais movimentação com a realização do Festival ExpoCrato, que reuniu milhares de pessoas em mais de 50 shows com atrações musicais locais e nacionais.

Como tudo começou

A primeira edição da Exposição Centro Nordestina de Animais e Produtos Derivados foi lançada em junho de 1944, através da portaria 100/1944, que nomeou também o parque de eventos da cidade com o nome do professor Pedro Felício Cavalcanti, criando a primeira Comissão Central Organizadora do evento. Em setembro do mesmo ano a exposição ganhou oficialmente o nome de I Exposição Agropecuária do Nordeste, apenas dois meses antes da realização do primeiro evento no município. Desde sua criação, a feira ganhou grande visibilidade em todo o território brasileiro, e hoje, é considera a maior feira agropecuária das regiões Norte e Nordeste, atraindo anualmente um público de todas as regiões do país, que em julho, viajam para a cidade do Crato, onde prestigiam todo o evento e consomem da cultura local e regional.


A programação contou com a realização de leilões e concursos de caprino e ovinos / Ívina Sales

Realizada anualmente e sempre no mês de julho, o evento costuma reunir criadores, agropecuaristas, fazendeiros, grandes e pequenos produtores do Ceará, bem como da Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Alagoas. A ExpoCrato é responsável por movimentar com tamanha magnitude a economia local, e também de cidades vizinhas, como Juazeiro do Norte e Barbalha. No entanto, nos últimos dois anos, em decorrência da pandemia da Covid-19, o evento teve de ser suspenso seguindo os decretos nacionais e estaduais, que proibiram a realização de eventos e festivais musicais, assim como a realização de toda e qualquer atividade que pudesse gerar aglomeração de pessoas.

Artesãos comemoraram o retorno

Irineu Silva, morador da cidade do Crato, é artesão e mantém sua família a partir da produção e comercialização de seus produtos artesanais, dentre eles: colares, brincos, pulseiras, munhequeiras temáticas, entre outros produtos. Ele afirma que parte da renda familiar depende da venda de seus produtos e que a ExpoCrato sempre representou um amparo financeiro para ele e sua família, já que nem todos os eventos realizados na região aglutinam um grande número de pessoas, e mesmo que isso demande grandes horas de trabalho, ele afirma que o dinheiro faz valer a pena. “Não só eu dependo dessa renda, como também toda minha família, e nem sempre temos a oportunidade de estar em eventos como a exposição para vender e ganhar um dinheiro a mais para ajudar dentro de casa”, afirmou o artesão.

A suspensão do evento durante os últimos dois anos causou grandes impactos econômicos, desde os pequenos produtores rurais até a gestão pública municipal, passando pelos artesãos, trabalhadores autônomos, setor artístico, hoteleiro e também pela geração de empregos, que diminuiu drasticamente na região, visto que, anualmente, a construção da feira agropecuária gera milhares de empregos.
De acordo com Irineu, os dois anos em que não houve a realização da feira colocou para ele e sua família um grande desafio, sobretudo no campo financeiro. Ele afirma que mesmo com o recebimento do Auxílio Emergencial durante a pandemia, as coisas não iam muito bem financeiramente, e impossibilitado de trabalhar, visto que seu maior público se encontra em eventos culturais, teve de se reinventar e procurar outras formas de trabalho para geração de renda extra, e coloca que o aumento contínuo do preço dos alimentos e insumos de casa foi o principal motivador para a busca de alternativas de trabalho.

Agricultura Familiar

A ExpoCrato também se tornou um importante espaço para a agricultura familiar. Dos produtores de cana de açúcar e mandioca e seus derivados, o impacto atinge mais de 100 famílias que tomam conta da Casa da Farinha e do Engenho de Açúcar, responsáveis pelas produções de iguarias a partir da mandioca e da cana de açúcar. Sendo os locais mais procurados dentro do evento, a Casa da Farinha foi coordenada por moradores do Sítio Malhada, no município de Crato. Já o Engenho de Cana de Açúcar, ficou sobre a coordenação dos agricultores e familiares da Associação Coité e Macena, do município de Barbalha.

Uma novidade na edição deste ano foi a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), integrando o pavilhão da agricultura familiar com os produtos da reforma agrária para serem comercializados durante a feira.


Pela primeira vez o MST participou da feira e apresentou os produtos dos Assentamentos de Reforma Agrária / MST Ceará


Iara Pereira, da Direção Estadual do MST afirma que a ExpoCrato, infelizmente, ainda é uma feira concentrada nos grandes produtores do agronegócio. Ela ainda ressalta que o debate da reforma agrária precisa estar no conjunto da sociedade. “É importante estarmos ocupando esse espaço para disputar essa hegemonia simbólica, levar a propaganda da reforma agrária, para que a sociedade do Crato e da região saiba que quem produz realmente os alimentos para o povo, é a agricultura familiar camponesa”, afirmou a dirigente.

Na cidade do Crato, o MST é responsável pelo Assentamento 10 de Abril, localizado no distrito de Monte Alverne, a 29 km da sede municipal. Foi desse Assentamento que vieram a maior parte dos produtos comercializados pelo MST no pavilhão da agricultura familiar. Além deles foi possível encontrar produtos vindos de cooperativas regionais: queijo, requeijão nata, mel de abelha, castanhas, arroz, hortaliças, farinha, grãos, doces e bonés.

De acordo com a dirigente estadual do MST, os produtos da reforma agrária devem ser colocados em todos os espaços para disputar a hegemonia da sociedade, e ainda ressalta que a ExpoCrato atinge um grande contingente de pessoas de toda região nordeste do país, e que por isso se faz necessária a presença do MST na feira agropecuária, inclusive, fazendo um contraponto com os grandes produtores. “Um dos motivos pelos quais decidimos participar da feira foi também o avanço da organização da produção local e a ampliação da rede de contatos e parcerias com outras organizações da região”, concluiu.

Festival ExpoCrato

Além da feira agropecuária e das exposições, o evento contou ainda com o espaço de show, que até 2017, era produzido por Luan Promoções e RBA produções. Em 2018, após uma série de reformas, o festival ganhou também uma nova equipe responsável pela sua produção, ficando a cargo das empresas Arte Produções, Social Music, Multi Entretenimento e Mega Som, e foi quando oficialmente recebeu o nome de "Festival ExpoCrato", que proporciona uma estrutura maior que nos anos anteriores.


Na edição 2022, passaram pelo palco do Festival mais 50 atrações locais e nacionais / Kaio Cesar

Na edição 2022, passaram pelo palco do festival mais de 50 atrações incluindo atrações sertanejas, DJs e cantores dos cenários local e nacional da música brasileira, em seus mais diversos gêneros e estilos musicais. Nomes como Luísa Sonza, Ludmilla, Léo Santana, Nando Reis e outros grandes músicos brasileiros realizaram grandes show que levaram o público a loucura numa mistura de sons e ritmos.

Segundo os organizadores, mais de 400 mil pessoas circularam no parque de exposições durante os oito dias de evento, sendo boa parte desse quantitativo de outras regiões do Brasil. A organização da Expocrato afirmou que tentou monitorar sintomas relacionados a síndromes gripais e outras doenças, exigindo a apresentação do comprovante de vacinação com ciclo vacinal completo, com duas ou três doses, na entrada para o festival.

Carestia e inflação

Quem se programou para curtir a Expocrato e aproveitar as comidas tradicionais do evento, seja na feira agropecuária, ou no festival musical se assustou com os preços. Apesar da diversidade de produtos, a grande questão dessa edição comentada por todos que curtem o evento foi a carestia, perceptível não somente nos alimentos, mas também nos ingressos para acesso ao festival.

Na feira, um espetinho custava no valor mínimo de R$ 8,00 reais. Outro alimento que faz sucesso entre as crianças, o famoso cachorro quente, foi encontrado custando o valor mínimo de R$ 10,00 reais. Já no festival o cenário se mostra ainda pior, espetinhos e cachorros-quentes foram encontrados nos valores mínimos de R$ 10,00 e R$ 15,00 reais, respectivamente. Os ingressos para shows variaram de R$ 60,00 a R$ 400,00 reais. Os valores muito acima do verificado nas edições anteriores.

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Edição: Camila Garcia