Mais de 1000 jovens cearenses de 96 cidades de todas as regiões do estado se reuniram em Caucaia na região metropolitana de Fortaleza, entre os dias 16 e 19 de junho, no III Acampamento Estadual do Levante Popular da Juventude. No encontro, os jovens discutiram sobre os principais dilemas que tem enfrentado em seu cotidiano, os desafios para o próximo período e quais as tarefas da juventude para derrotar o fascismo, trazendo como lema a palavra de ordem do Acampamento ‘Juventude com rebeldia, na luta por democracia’.
“Compartilhamos com os mais de 1000 jovens presentes no acampamento do Levante Ceará a realidade da juventude indígena e as constantes violações dos direitos humanos” é categórico o jovem líder indígena, Luan de Castro Tremembé, que além de seu importante papel político na defesa da luta dos povos ancestrais cearenses é o primeiro jornalista indígena do estado.
Acamparam nesses quatro dias em Caucaia jovens da cidade, do campo, indígenas, quilombolas, da cultura hip hop, do movimento de mulheres, LGBTs, jovens mães e seus filhos, secundaristas, estudantes universitários, jovens trabalhadores, jovens assentados da reforma agrária, artistas marginais, artesãos, povos de terreiros, evangélicos, católicos, comunidades pesqueiras e tantas outras expressões da diversidade da juventude cearense.
“Salve salve família, MC Charles na voz, quero agradecer ao Levante Ceará por esse convite, que pra mim foi maravilhoso” agradece o campeão do duelo nacional de MCs 2019, Charles. Ele completa comentando que o evento é um espaço “onde o jovem pode ter sua opinião formada, bem concretizada, trocar várias ideias e pensar em mudanças futuras, pode compartilhar experiências seja dançando seja rimando, no que for na sua arte”. O MC Charles finaliza convidando geral para participar do próximo Acampamento, pois ele não vai perder.
Sarah Rodrigues, que participava do seu primeiro Acampamento já assumindo a tarefa de coordenar a delegação de Fortaleza, levou seu filho Gabriel de 4 anos, que foi um dos participantes da ciranda infantil. “A ciranda me ajudou demais, pude colocar toda minha atenção nas plenárias, senti e vi também que meu filho estava sendo bem tratado e não tive preocupação nenhuma em deixar ele lá”, explica Sarah. Ela complementa afirmando, “ele gostou bastante, queria ficar por lá o tempo todo”. A Ciranda que foi idealizada pelas mães dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma ferramenta utilizada em espaços de militância social para que na hora das atividades de plenária as mães, sobretudo, mas também eventualmente os pais, possam deixar seus filhos em segurança. As crianças ficam sobre os cuidados de outros adultos que assumem naquele momento a tarefa do cuidado, essa equipe pensa uma metodologia de acolhida e cadastro da criança, assim como lanche, o momento da soneca e o momento do brincar.
Todas as atividades necessárias para a realização do encontro como limpeza, comunicação, infraestrutura, segurança, cultural, agitação e mística foram tocadas pelos próprios jovens que se organizavam por meio de suas delegações para garantir o funcionamento do Acampamento. Mas os jovens não protagonizaram apenas as tarefas mais estruturais do evento, eles ocuparam também os espaços políticos. Em todas as mesas a juventude apresentou a visão do Levante, mostrando que também é capaz de pensar por si e protagonizar os debates.
Luan Tremembé defende ainda que “as juventudes querem ocupar a universidade, o mercado de trabalho, as prefeituras, as ruas com suas artes” e completa “a juventude quer viver o direito de ser jovem”. Esse foi o mote de uma das mesas de discussões, quais os espaços de participação política são oferecidos à juventude hoje e em que condições. Alex Nascimento da Coordenação Nacional do Levante chamou atenção para a movimentação histórica da juventude brasileira abaixo dos 18 anos na retirada do título de eleitor, retomando em alguma medida a crença na importância da participação política da juventude, seja nas eleições, seja nas manifestações.
O evento contou ainda com o apoio e solidariedade do MST no preparo da alimentação e além da ciranda infantil, do Movimento Brasil Popular nas tarefas de infraestrutura e mística, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares que colaborou com o espaço da saúde e do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos que também se somou na tarefa do Refeitório Fome Zero, nome dado pela organização em alusão ao programa federal criado nos governos Lula que colaborou para a retirada do Brasil do mapa da fome.
“O próximo período para a juventude será marcado como um momento de tomada de decisões, de lados, um momento de escolhas. Para essa tomada de decisões a nossa principal tarefa será a democratização da informação, o desafio de elevar o nível de consciência da nossa juventude, para isso as ferramentas do trabalho de base através da cultura nas redes e nas ruas será nossa principal aliada” afirma Thalita Vaz, da Coordenação Nacional do movimento e completa que a principal forma de trabalho de base será por meio dos Comitês Populares, onde a juventude através de sua irreverência, sua cultura e sua criatividade fará ações para denunciar o fascismo, para derrotar o bolsonarismo e ajudar a eleger o presidente Lula e seu time de parlamentares e governadores, como caminho para a democracia no Brasil.
As mesas denunciaram também a tentativa de avanço do bolsonarismo aqui no estado através da candidatura do Capitão Wagner (União Brasil) e defenderam a unidade das juventudes, dos sindicatos, dos partidos de esquerda e progressistas, dos setores progressistas das religiões e da cultura, dos movimentos negros, de mulheres e LGBTs para apoiar uma candidatura progressista e democrática contra a do Capitão.
Encontro Nacional de Militantes do Levante no Rio de Janeiro comemora os 10 anos do movimento
Aconteceu na mesma data com cerca de 1200 jovens de todo o Brasil, com uma representação de 5 militantes do Ceará, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, no Rio de Janeiro, o Encontro Nacional de Militantes do Levante Popular da Juventude. O evento é a primeira atividade nacional do movimento após a pandemia e aconteceu em comemoração aos 10 anos da organização, composta por jovens das escolas secundaristas, das universidades, das periferias, do campo e da cidade do país que lutam em defesa de uma transformação estrutural da sociedade brasileira.
O encontro começou com a mesa “Em que mundo vivemos?”, com as contribuições da vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Julia Aguiar, e do dirigente nacional do MST e economista, João Pedro Stédile, que fizeram uma análise da conjuntura do Brasil e do Mundo. Em homenagem aos 10 anos do Movimento, neste dia a cantora Teresa Cristina realizou uma apresentação.
O Encontro terminou com um ato político que reuniu representantes de movimentos parceiros da organização e figuras políticas como a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT); o presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar; o presidente da Alerj, André Ceciliano; o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros e muitos outros representantes de organizações políticas parceiras. O Levante realizou ainda um ato, no dia 18 de tarde, nos Arcos da Lapa, denunciando o racismo e o genocídio da juventude preta e periférica brasileira. Durante o encontro também foi lançando o novo livro do Levante – Juventude quer viver – em parceria com a Agenda Jovem Fiocruz.
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Edição: Camila Garcia