Ceará

ARTE DE RUA

Cultura da periferia: Aldeia Hip Hop conquista cada vez mais espaço na cena cultural

Coletivo do bairro Nova Metropole impulsiona a criação, difusão, construção e fomento da cultura Hip Hop em Caucaia

Brasil de Fato | Caucaia, CE |
Campeonato de Break organizado pelo Coletivo Aldeia Hip Hop.p - Aldeia Hip Hop

Atuando desde 2012, a Aldeia Hip Hop é um coletivo cultural formado por jovens da comunidade Nova Metrópole, região da Grande Jurema, em Caucaia. O coletivo da Aldeia Hip Hop surgiu a partir de um grupo de amigos que fazem parte do Conexão Gangsta Caucaia (CGC), e através de suas músicas de rap, sentiram a necessidade de construir algo além do próprio rap, do estúdio, das apresentações e dos shows, nesse sentido, através de suas letras e músicas enxergaram um ponto de partida para mudanças reais no dia-a-dia da comunidade em que vivem, e foi aí que nasceu a Aldeia Hip Hop.

Afrânio Mota, integrante do grupo de rap CGC, Coordenador e um dos fundadores da Aldeia Hip Hop, afirma que desde o início o grupo refletia sobre uma forma de agregar e organizar de forma bem definida todos os segmentos do rap, como a dança, a poesia falada, os Dj’s e outros artistas do cenário. Visando a unificação de todos esses segmentos, surgiu a aldeia hip hop, que unificaria e fortaleceria os artistas locais do cenário rap. “Daí nós começamos como um movimento de rua, nas pistas de skate da comunidade, e a gente só levava a caixa de som e começava a fazer uma espécie de sarau, que reunia o povo nas praças e assim a gente foi ganhando cada vez mais espaço”, concluiu.

No Brasil, o cenário do hip hop desembarcou no início dos anos 1980, em São Paulo, quando jovens começaram a receber informações do movimento que estava ganhando força em cidades norte-americanas. Assim como o surgimento da aldeia hip hop em Caucaia, o surgimento dos primeiros grupos de hip hop no Brasil começou nas periferias, nas ruas, praças públicas, estações de trens, galerias e outros locais públicos, onde reuniam-se para consumir as músicas vindas do exterior, acompanhados de novos passos de dança. Entretanto, mesmo considerado um estilo musical violento e tipicamente periférico, o hip hop cresceu em todo o território nacional.

Já no Ceará, o hip hop chega um pouco depois, seus elementos foram identificados no estado ainda em 1982, e mesmo sendo um estado que não possui o gênero como tradição cultural, foi enraizado e hoje já está presente na rotina de diversos jovens cearenses, como é o caso dos jovens que fazem parte do Coletivo da Aldeia.

“Nós somos uma continuação dessa história, somos os primeiros aqui da Nova Metrópole, que começamos a nos organizar dessa forma e fizemos esse movimento pelas ruas até o final de 2017, quando surgiu a oportunidade de ocuparmos um espaço, uma antiga associação de moradores, que hoje temos como a sede da Aldeia Hip Hop. Agora nossa ideia evoluiu, o que antes era esporádica, de ocupar espaços urbanos com o hip hop, hoje nos vemos dentro de um espaço que é nosso e hoje, já nos intitulamos a Casa de Hip Hop Cearense.”, afirma o coordenador do Coletivo.

O grupo organiza ações como saraus, oficinas e eventos ligados a cultura Hip Hop desde 2014, e como já mencionado, as atividades eram realizadas em locais públicos, como praças, o que chamava atenção de moradores da comunidade, e através desses pequenos eventos e ações conseguiram mostrar toda a cultura do hip hop que vinha sendo construída pelo grupo de amigos. Em 2019 o movimento conquistou o próprio estúdio de gravação, que facilitou e garantiu melhores produções feitas pelos próprios artistas que constroem o Coletivo.

A canções do Aldeia Hip Hop podem ser acessadas através das principais plataformas digitais.

Além dos projetos e atividades internas voltado para os artistas que já contribuem com a aldeia, o Coletivo possui também um formulário de cadastro para novos artistas do cenário musical voltado para o gênero hip hop. O formulário de mapeamento pode ser encontrado nas páginas oficiais da aldeia no Instagram e Facebook. Através do mapeamento, o Coletivo realiza atividades com artistas iniciantes na cena musical. Artistas da cidade de Caucaia e regiões próximas podem preencher o formulário para participarem das atividades e projetos do Coletivo.

Dificuldades da Aldeia durante a pandemia

Durante a pandemia da Covid-19, assim como todo o setor cultural brasileiro, o Coletivo da Aldeia enfrentou dificuldades na realização de seus projetos, a necessidade do isolamento social fez com que as atividades fossem paralisadas, o que acarretou o distanciamento e enfraquecimento do grupo de artistas. Mesmo com a retomada das atividades presenciais, o coletivo ainda se mantém enfraquecido e preocupado com uma possível quarta onda do coronavírus, que interfira mais uma vez na realização de seus projetos.

“Apesar dos pesares, estamos tentando retomar para aqueles lugares que a gente ocupava antes da pandemia. O Governo Federal atual trabalhou para destruir a nossa cultural de modo geral, e até o Ministério da Cultura foi extinto, transformaram numa secretaria e isso afetou muito toda a classe de artistas e trabalhadores da cultura. A cultura de rua sente uma dificuldade ainda muito grande para encarar de forma profissional a cultura, que volta a bater na mesma tecla e faz com que nós, artistas de rua, nos sujeitemos aos subempregos para garantir o sustento de nossas famílias”, declarou o rapper.

Ele ainda ressalta que o momento é de dificuldades para todo o setor cultural, e afirma que o fascismo tem feito grande propaganda anticultural, voltando ao tempo em que artistas eram considerados vagabundos, as batalhas de rima voltando a serem rechaçadas e criminalizadas pela polícia. “É hora do hip hop se posicionar politicamente, não podemos deixar esse cenário político acabar com a cultura, sobretudo, com a cultura e os artistas de rua”, completou.

Programação

Servindo de apoio para os jovens da comunidade Nova Metrópole, a Aldeia está com programação aberta nas segundas, quartas e sextas-feiras, com treino de break; nas terças-feiras, clube de xadrez; nas quintas-feiras acontece as batalhas de rima. Em breve, aos sábados, será ofertado espaços de apresentações, e aos domingos acontece os encontros de danças, com apresentação de vários estilos de dança, é também um momento de socialização dos jovens da comunidade.

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Edição: Camila Garcia